sábado, 24 de dezembro de 2011

Então é Natal!


Um choro de bebê corta a noite escura. É o nascimento mais esperado da História da humanidade. Um menino nos nasceu. Não apenas a seus pais, mas a todos nós. Um Filho se nos deu, posto que já existia desde a eternidade. Foi gestado por nove meses no ventre de uma mulher virgem, mas era esperado e anunciado por milênios.
Era, como se cuidava, filho de Maria e de José. Mas seus pais sabiam a história inteira. A verdadeira versão é inacreditável aos céticos, simplista aos intelectuais, alienante aos filósofos, assustadora aos poderosos, descabida aos religiosos. Não é questão de ser Natal, é questão de ser Jesus.
O menino é Emanuel. Deus Conosco. O Eterno e Todo-poderoso Criador e Sustentador do Universo agora está envolto em panos, deitado numa cocheira em um desconhecido estábulo na periferia na insignificante Belém de Judá. Sua mãe daqui a pouco vai amamentá-lo. Vai trocar suas fraldas. Vai dar banho e depois mimá-lo com canções infantis, embalando seu sono. Quem poderia imaginar um Deus Soberano cabendo num pequenino corpo humano em desenvolvimento? Suas pequenas mãozinhas de recém-nascido contraem-se num espasmo típico. Um dia, elas sustentarão o peso dos pecados do mundo inteiro. Mas nessa noite, elas ainda dependem totalmente dos cuidados de Maria.
E o menino é tomado nos braços pelo homem piedoso e conhecedor dos desígnios de Deus: “Agora posso morrer em paz, porque meus olhos viram a tua salvação”. Não era apenas mais um garotinho judeu cumprindo o ritual sagrado da religião dos seus antepassados; Ele é o Sol nascente das alturas. Enquanto tantos ainda buscam nos astros a direção para suas vidas, ele é o Criador que ilumina e energiza todo o Universo.
E o menino cresceu. Da manjedoura foi ao Egito, do Egito a Nazaré. Aprendeu o ofício de seu pai e até os 30 anos tornou-se um reconhecido carpinteiro. Todos queriam seus serviços, porque ele era profissional do tipo que não engana, não enrola, não mente e cobra o justo. Nunca houve erro nas suas palavras nem nos seus atos.
Então, o menino já homem feito, passa a manifestar o verdadeiro sentido e propósito da sua vida. Ele, que tinha tudo para se tornar uma celebridade, fazer fama e sucesso, torna-se um Mestre revolucionário para pessoas simples. Seus ensinos não são como o dos demais rabinos de sua época. Ele tem autoridade no que fala, porque vive o que prega. Sua pregação exige um alto padrão de comprometimento: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue; dia a dia tome a sua cruz e siga-me”. Nada menos do que isso. Para seguir Jesus ou você aceita-o por completo e se envolve totalmente, ou você não serve.
Chega o dia. Ele veio para dar vida em abundância. Mas para isso, ele tem que dar a sua própria vida. Falar do Natal sem falar da Cruz é o mesmo que contar a história de qualquer outro ser humano. Porque se Ele tivesse nascido como nasceu, vivido como viveu, mas não tivesse morrido como morreu, não haveria esperança, nem salvação, nem futuro para a raça humana.
E o homem Jesus foi crucificado num monte chamado Calvário. Foi submetido à vergonha, à zombaria, ao desprezo, às dores indescritíveis. Mais ainda, foi desamparado pelo Pai, com quem teve desde sempre ampla, geral e irrestrita comunhão e amizade. Entregou seu espírito. Morreu. Foi baixado da cruz e colocado num túmulo novo.
Mas esse também não era o fim da história. Ao terceiro dia, Jesus ressuscitou. Quebrou as cadeias da morte e saiu vitorioso daquele lugar, que absolutamente não combinava com o Autor da vida. Ele está vivo. Deus o coroou e o fez Senhor e Cristo. Ao nome de Jesus todo joelho tem que se dobrar, nos céus, na terra e debaixo da terra. Não há outro nome dado entre os homens pelo qual importa que sejamos salvos.
É tempo de celebrar. Não o Natal. Não os presentes e as festas. Nem mesmo o menino deitado numa manjedoura.
Mas o Salvador. 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Palmadas e castigos

O Congresso Nacional nos brinda neste fim de ano com duas pérolas. Pacote de bondades para funcionários da Casa e a Lei da Palmada. Pelo texto aprovado, a partir desta lei o pai ou mãe que impingir “castigos físicos” deverá ser encaminhado para “medidas socioeducativas”. Na prática, é colocar em pé de igualdade o criminoso que agride e espanca seu filho e o pai que o corrige através de uma palmada.

Tenho apenas uma coisa a dizer: não posso esperar nada melhor de um mundo em decomposição em seus valores morais, éticos e sociais e em completa escuridão espiritual. Tentar misturar as estações é mais uma demonstração da ignorância e da cegueira na qual estão mergulhados os homens e mulheres que não conhecem a Deus.

Da mesma maneira como já se deturpou a questão homossexual, sugerindo-se que cristãos incitam a violência e o preconceito contra os que decidem seguir este caminho, agora se insinua que todo e qualquer tipo de castigo físico é violência doméstica. Como ninguém é favor de espancamentos, maus-tratos e tortura, fica mais fácil tornar a lei palatável ao conceito humanista de criação de filhos.

Não duvido que haja cristãos que não saibam criar seus filhos na disciplina e admoestação do Senhor. Estou certo de que há abusos por parte de alguns, tanto naqueles que batem excessivamente e sem critério, como daqueles que adotaram a política do “Bananas-de-Pijamas” (os filhos derrubam a casa e a vida e nada acontece por parte dos pais). Também sou completamente a favor de que se tratem os espancadores de crianças com o máximo rigor que a legislação permita. Mas vou continuar a exercer o direito de criar meus filhos da maneira que achar mais correta, à luz da minha fé nas orientações da Palavra de Deus, porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. 

Entre esses princípios, encontro no livro de Provérbios:
13:24: Aquele que poupa a vara aborrece a seu filho; mas quem o ama, a seu tempo o castiga.
22:15: A estultícia está ligada ao coração da criança; mas a vara da correção a afastará dele.
23:13,14: Não retires da criança a disciplina; porque, fustigando-a tu com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno.
29:15: A vara e a repreensão dão sabedoria; mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe.

Para evitar qualquer dúvida, há também este:
19:18: Castiga a teu filho enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo.
Há duas possibilidades: ou Deus deveria ter consultado os especialistas em criação de filhos antes de mandar escrever Provérbios ou então esses especialistas são pretensiosos demais. Cabe a nós, pais, fazer a escolha que acharmos mais adequada e depois colhermos as conseqüências.

Agora, ninguém vai dizer que isto fere os direitos individuais? Isto é assunto para o legislativo dar pitaco?
Minha resposta é “não”. E a sua?

Marcos Senghi Soares

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Deus odeia o pecador?

Nos últimos anos, com o surgimento da blogosfera, a prática de polemizar para conseguir notoriedade se alastrou como nunca. Basta uma declaração de efeito e o número de seguidores vai às alturas. Infelizmente, a teologia e a Igreja não ficaram isentas desta prática. A Internet tem sido um dos principais meios de disseminação dos pastores-filósofos neoliberais e seu veneno mortífero. São eles que, direta ou indiretamente negam a autoridade e a inerrância da Palavra de Deus. Criaram dois deuses, um no Velho Testamento, irado contra o pecado e contra o pecador e outro no Novo Testamento, “um velhinho de barba branca”, como definiu Ed René Kivitz em um desses fóruns para internautas. Nesse grupo se encontram aqueles que flertam com o Universalismo (crença que assevera um final feliz para toda a humanidade, independente de sua fé em Cristo), com a teologia do processo (ou teísmo aberto ou teologia relacional), que rejeitam a interpretação gramático-histórica, que consideram a volta de Cristo como um “horizonte utópico” etc. Embora não gostem de ser colocados no mesmo saco, todos eles comem da mesma farinha.

Observo, no entanto, o surgimento de outro grupo, conservador, histórico, muito provavelmente comprometido seriamente com a verdade, mas que parece estar incorrendo em erro semelhante. Por achar que a verdade precisa de defesa, estão criando outra verdade. Se os representantes do primeiro grupo ficam aquém da verdade, estes vão além. Um vídeo que tem feito bastante sucesso no Brasil traz um trecho de uma mensagem no missionário norteamericano Paul Washer sobre a ira de Deus. Em dado momento, ele critica a frase “Deus odeia o pecado, mas ama o pecador”, considerando-a uma frase “bonita para se escrever em uma camiseta evangélica”, mas desprovida de base bíblica. Citando textos como Salmo 5:5, este pregador sugere que Deus não apenas odeia o pecado, como odeia também o pecador. Se isso não fica totalmente claro no vídeo, certamente fez a cabeça de alguns que o assistiram. Transcrevo abaixo algumas frases extraídas da minha Timeline de ontem, dia 10 de novembro:

"Deus odeia o pecado e ama o pecador." (Heresias 6:45)" // Boa... Hahaha... Basta ler Salmos 5.5 para corrigir esta mentira!

Dizer que Deus ama o pecador, sujo de pecado, é que não é bíblico!

Reagi indignado e, confesso, até com certa rispidez. Na tentativa de enfatizar uma verdade, nota-se que criaram uma terrível e devastadora mentira. Não preciso expor aqui o que penso sobre a ira de Deus contra o pecado, nem mesmo sobre o seu direito de dar e tirar a vida e inclusive sentenciar ao lago de fogo por toda a eternidade aqueles que não aceitam a propiciação do Seu Filho Jesus. Há poucas semanas escrevi sobre isso. Não tenho nenhuma dúvida de que a ira de Deus permanece sobre aqueles que não recebem a Cristo como seu Senhor e Salvador e que este é o destino eterno de todos os que não se arrependerem. Isto não está em discussão aqui. No entanto, dizer que DEUS ODEIA O PECADOR é falso e a refutação a esta bobagem é tarefa simples para qualquer conhecedor primário das Sagradas Escrituras. Primeiro, deixemos que elas mesmas falem sobre o assunto:

  • Acaso tenho eu prazer na morte do perverso? diz o Senhor Deus (Ez 18:23)
  • Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou Seu Filho... (I João 4:10)
  • Deus sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, estando nós mortos em nossos delitos e pecados, nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvos (Ef 2:4-5)
  • Deus prova seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, SENDO NÓS AINDA PECADORES (Rm 5:8).

Não há nestes textos qualquer incompatibilidade com aqueles que mencionam o castigo eterno, a ira de Deus contra os pecadores ou a destruição dos ímpios. Os atributos de Deus podem ser paradoxais, mas não são contraditórios. TODOS os atributos de Deus estão em harmonia plena. Sua ira é real e explícita nas Escrituras e ao longo da História. De novo: isso não se discute. Porém, seu amor também é real e explícito. Seu amor é incondicional, embora seu perdão esteja condicionado à confissão e ao arrependimento. Confundir esses dois conceitos é um erro tão grave e tão primário quanto negá-los.
Ao apresentar os textos bíblicos acima, recebi como resposta:

Peço que o irmão se acalme. Sei que soou estranho, porque as pessoas são acostumadas a esta frase anti-bíblica [Deus odeia o pecado e ama o pecador]. Entendo! :-)

Então, o discurso mudou. Aparentemente defendendo a mesma ideia, eles escreveram:

Após o pecado, existiu a Ira de Deus. Ela ainda existe. Alguém terá que bebe-la. Sabe quem? O pecador, inimigo de Deus![...]

Mas a ira do Senhor esta sobre o pecador. Este fato ninguém muda.

O problema nunca deixou de ser o pecado, mas a ira do Senhor tbm eh sobre os que praticam. N da p/ separar. Estao correlatos

Sim, é terrível. Por isso, precisamos de Cristo. Merecemos, hoje, o inferno; mas temos a oportunidade! É bíblico! ^_^

não entendo. Os textos não contradizem o que dissemos. Jesus morreu por nós para livrar-nos da ira de Deus!

Como já expus acima, estas afirmações não estão em discussão. A questão é aonde elas podem nos levar. A Bíblia ensina que a ira de Deus está sobre o pecador, mas em lugar algum dá sequer uma pequena margem para concluir isso (frases da Timeline, com grifos meus):

Amado, a própria frase é incoerente. Se Deus odeia o pecado, logo deverá odiar o que o pratica! :-)

ok, podemos trocar a palavra odiar por abominar. Mas aquela frase n é verdadeira. Deus n ama o pecador em essência.

O amor dele é isso! Ele odeia o pecado e o que o pratica, por isso morreu para nos dar oportunidade de salvação! ^_^

Estas afirmações ferem o âmago do Evangelho. São uma aberração completa e acabada, sob a capa de uma falsa ortodoxia. Ao questionar sobre o fato de que se Deus odeia o pecador, nós também teríamos que fazê-lo, recebi resposta ainda mais incoerente, baseada numa premissa que após algumas décadas de estudo sistemático das Escrituras, confesso nunca ter visto nelas:

Não. O ódio que eu poderia ter por eles é diferente do que o que Deus tem. O ódio dele é um "ódio-justiça" sobre o pecador!

E então, finaliza com a pior das incoerências:

Mas Deus é bom, gracioso e misericordioso; morreu para que pudéssemos nos achegar a ele!

Ora, um Deus “bom, gracioso e misericordioso” é o Deus que apontei nos versículos citados. Este é o problema: o raciocínio dicotomizado, que coloca Deus de um lado ou de outro: OU ele é justo e santo, e por isso odeia a todos, OU ele é bom, gracioso e misericordioso. A questão é que a Bíblia não apresenta Deus desta forma. Deus é TÃO justo e santo (e por isso odeia o pecado – Hb 1:13 – e está irado contra o pecador) QUANTO é bom, gracioso e misericordioso e ama o pecador, independentemente da sua situação. Isso fica claro, por exemplo, na história do povo de Israel. Mesmo adulterando após outros ídolos, Israel ouviu de Deus as palavras “COM AMOR ETERNO EU TE AMEI, também com benignidade te atraí (Jr 31:3); e “Atraí-te com cordas humanas, com LAÇOS DE AMOR" (Os 11:4).

Sobraram, então, algumas perguntas, às quais a Bíblia responde com tanta clareza, que surpreende alguém não saber a resposta ainda:

[Se] Deus ama o pecador, por que existe o inferno? Por que precisamos da Salvação de Cristo? Somos seus inimigos! ^_^

O inferno (creio que eles se refiram aqui ao lago de fogo eterno, destino dos que não se arrependem e crêem no Evangelho) foi preparado originalmente “para o diabo e seus anjos”, segundo aquele que tem a chave da morte e do inferno, Jesus Cristo (Mt 25:41). Para lá também vão todos aqueles que “não obedecem o Evangelho” (2 Te 1:8-9). Não existe inferno porque Deus odeia o ser humano que ele criou, mas porque “toda transgressão e desobediência recebeu justo castigo” (Hb 2:2). Isto responde também à segunda pergunta, “por que precisamos da salvação de Cristo”. De fatos somos inimigos de Deus e separados dele por causa do nosso pecado. A salvação de Cristo é a maior prova do amor de Deus por um mundo pecador.

Esta é justamente a grande riqueza do Evangelho. Efésios 2, já citado, apresenta o homem como sendo “por natureza filhos da ira como também os demais”. Não deixe de observar a expressão “filhos da ira”, que é o centro desta discussão. O versículo seguinte, no entanto, afirma que por causa do grande amor com que NOS amou. Isto é o que nos diz Paul. Não o Washer, mas o apóstolo inspirado pelo Espírito Santo: DEUS AMOU OS FILHOS DA IRA. E por isso podemos ser salvos.

Falta a qualidade de bereanos a muitos navegantes da blogosfera. Qualquer um que aparece falando qualquer coisa logo amealha os incautos que não se dão ao trabalho de ler as Escrituras por si mesmos.

Por isso, adianto aos que se sentirem ofendidos por esta postagem que ao discordar, por favor, apresentem os textos bíblicos e suas respectivas interpretações dos mesmos. Em matéria de fé e prática, não aceito outra coisa a não ser a autoridade da Palavra de Deus. Ainda creio somente nela. 

Clique aqui para assistir ao vídeo mencionado

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pelo prazer de Servir (I Pedro 4:10)

Servir é uma bênção. Quando servimos aos outros, somos muito beneficiados. E servir a Deus só é possível quando servimos aos outros.
Mensagem pregada na Igreja Cristã no Parque do Lago, Várzea Grande/MT, dia 30 de outubro de 2011.

Clique abaixo para ouvir ou para fazer o download

Marcos Soares - Pelo prazer de servir by Marcos Soares

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

PERFECCIONISMO NÃO É EXCELÊNCIA

Muitas pessoas tem orgulho de dizer que são perfeccionistas. Elas acham que esta é uma extraordinária qualidade. Batem no peito e assumem abertamente que são e que fazem questão de ser assim. É como se elas trouxessem ao pescoço uma placa com os dizeres: “Siga-me a faça como eu: é o único jeito de tornar o mundo melhor”. Vivem como se fossem o suprassumo da humanidade, o protótipo do ser humano ideal. São aqueles que se julgam os pais perfeitos, os pastores ideais, os crentes nota dez, os modelos de família mais desejáveis, os exemplos marcantes que farão a diferença na história.

Quando encontramos com estas pessoas, achamos que elas são mesmo tudo isso. Por um tempo chegamos a ficar em dúvida e até a admirar, senão mesmo invejar, seu alto nível de compromisso com as virtudes mais escolhidas da raça humana. Acontece que o perfeccionismo é uma falácia. Simplesmente porque ele se baseia em pressupostos sem alicerces sustentáveis.

Primeiro, trata-se de uma mania. É uma coisa quase patológica. Praticamente uma síndrome. Achar que temos condições de fazer qualquer coisa sem falhas, que não erramos nunca, que não temos defeitos é o antessala da loucura absoluta. Não é possível viver assim a vida toda. Por esta razão, o perfeccionismo é o embrião da falsidade e do farisaísmo. Quem tem mania de perfeição tem grande dificuldade em reconhecer os próprios erros. Ele não tem estrutura para enfrentar a verdade. Então, acaba criando um mundo só seu, onde o que importa é a opinião das pessoas, é manter sua imagem perante os outros. 

Segundo, o padrão ideal seguido por quem sofre deste mal é criado por ele mesmo. Este modelo é fundido no fundo do seu próprio quintal, no tacho das idiossincrasias, isto é, naquilo que diz respeito ao temperamento, valores e conceitos de cada um. Nem sempre, porém, este padrão é efetivamente o melhor. Para os cristãos, por exemplo, o padrão perfeito e absoluto é Jesus. Imitá-lo, tentar ser como ele, deveria ser a maior ambição de um discípulo. Mas vai daí que o perfeccionista passa criar o “Jesus” que mais lhe interessa, como se isso fosse possível. À semelhança de uma facção da igreja dos coríntios, esse pessoal cria um partido e diz que “são de Cristo”, como se o Senhor tivesse lá do seu trono mandado a ficha de filiação para dar seu aval àquele grupelho. Colocam na boca de Cristo palavras que ele nunca sonhou em proferir. Cobram coisas que ele nunca cobrou. Não bastasse isso, ainda querem impor a todo mundo o mesmo padrão. Veja, ele mesmo criou o seu e agora quem não faz exatamente como ele imagina, não serve. Este é o maior estrago causado pelo perfeccionismo: julgar que somente aquilo que fazemos é que tem valor. Só o nosso padrão é bom. Quem não reza pela nossa cartilha, não tem qualidade. Não é “espiritual”, não tem “consagração”. Quem não gosta daquilo que eu gosto, não tem bom gosto.

Agora, não confunda perfeccionismo com a busca pela excelência. A diferença tão sutil quanto fundamental. Perfeccionistas tentam se justificar dizendo-se caçadores de excelência. Excelência é fazer as coisas com o máximo de qualidade que nossos recursos permitem. Perfeccionismo é determinar pelo nosso padrão pessoal qual é esse máximo e exigir que todos o alcancem. Tentar fazer o melhor sempre, dar o máximo em cada coisa que fazemos, caprichar, esmerar-se é bem diferente de traçar um padrão pessoal de perfeição absoluta e gastar sua vida toda perseguindo esta utopia. A excelência é uma virtude admirável. Ela atrai e influencia as pessoas ao redor. Quem trabalha com excelência não vai ficar às voltas com quem mata o serviço. O perfeccionismo, por sua vez, é um defeito asqueroso. Ele isola e torna solitários seus adeptos. O destino do perfeccionista é uma perene frustração. E ninguém gosta de se espelhar em frustrados.

É verdade que muita gente isola também o excelente, porque não é todo mundo que está interessado em ir um passo além e sair da mediocridade. A gente se acostuma a um padrão meia-boca e às vezes não há quem nos faça desistir dele. Mas aí já é um outro problema. Neste caso, a responsabilidade da escolha não recai sobre você, mas sobre aqueles que preferem a estagnação e a falta de qualidade. Problema deles. É o outro extremo.

Quanto a mim e a você, que não queremos errar nem pela falta nem pelo excesso, nos cabe clamar a graça de Deus sobre nossas vidas para que vivamos da melhor forma possível, com sabedoria e discernimento, conscientes de nossas limitações e fraquezas, mas procurando dar o melhor sempre, em todas as circunstâncias.

E se um dia a gente se tornar referência para o que quer que seja, que seja unicamente para glorificar o Servo Perfeito que andou entre nós e que “deixou-nos exemplo para seguirmos os seus passos” (I Pe 2:21)

Marcos Senghi Soares

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Atos de Bravura


O livro de Atos é o melhor tratado sobre a vida prática da Igreja que jamais foi escrito.
Nada supera o valor e a inspiração destas páginas. Se uma igreja em nosso tempo realmente quer ter sucesso, ela necessariamente terá que se debruçar sobre este livro e ouvir a voz de Deus falando de maneira inconfundível. Ouvimos os gurus eclesiásticos enquanto podemos beber direto da fonte.
Atos não é uma coletânea de histórias motivacionais. Também não é um manual de crescimento da igreja, como tantos que estão sendo escritos e abarrotando nossas prateleiras. Não é uma fórmula secreta para a plantação de megaigrejas. É muito mais do que isso. É a história dos Atos do Espírito Santo agindo através de improváveis discípulos. Conta como foi possível cumprir a Grande Comissão a partir de um grupo de 120 pessoas, que cresceu a ponto de incomodar o Império Romano.
Em tempos de pragmatismo e estatísticas, muitos se voltam para o mais recente modelo de gestão eclesiástico e seus infalíveis métodos orientados para resultados. Entenda-se “resultado” da mesma forma como uma empresa enxerga seus consumidores. Mais gente “na parada”, contribuindo, aplaudindo, tornando os nomes de seus líderes célebres. Quem olhar para o livro de Atos esperando mais um desses vai se decepcionar. Não encontraremos ali um case de sucesso em propaganda e marketing. Houve problemas e falhas. Houve acidentes de percurso. Há relatos de racismo, de exclusivismo, de falsas conversões, de charlatanismo e mentiras, tudo isso no seio da igreja.
Além disso, houve perseguições e privações. Encontramos dois apóstolos sem dinheiro até para uma esmola. Houve apedrejamentos e execuções contra os líderes. Em momento algum Atos relata uma vida mansa por parte daqueles que estavam comprometidos com o projeto em execução.
E nunca houve, em toda a História do Cristianismo, uma época como aquela. Por isso o Espírito Santo inspira Lucas para registrar aqueles acontecimentos. E por isso, logo cedo os pais da Igreja reconheceram este livro como Escritura. Seu valor é inestimável. Se não é uma “receita de bolo para fazer nossa igreja funcionar”, é uma referência para a Igreja em todos os tempos e culturas. A Igreja Primitiva é uma espécie de padrão a partir do qual todas as demais podem ser aferidas, em todas as áreas. Aprendemos até com suas falhas.
Temos muito a ganhar ao estudar a Igreja do Século 1 para compará-la à Igreja do Século 21. Aprenderemos lições importantíssimas do que é a Igreja que agrada, que ouve e que anda de mãos dadas com o seu Senhor.
Atos é leitura obrigatória para quem ama a Deus e à sua Igreja. Mas é preciso ter coragem para conhecer os atos de bravura dos nossos primeiros irmãos. Porque nenhum cristão sério vai conseguir permanecer impassível diante do que vai ver em suas páginas. As sementes ali plantadas precisam continuar florescendo.
E então, está pronto para aceitar o desafio?
Marcos Senghi Soares
Participe do curso Panorama de Atos onde você pode obter uma visão geral do contexto histórico, da vida e ministérios dos apóstolos e do início da Igreja, está disponível na área de ensino a Distância da SEPAL. Clique aqui para conhecer o curso.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Teologia do Choro

Ao longo da vida você vai descobrindo que o choro, assim como a morte, nos nivela, nos iguala, nos coloca debaixo da mesma situação. O choro é democrático. 

Choramos quando percebemos que não temos resposta, que não temos saída. Choramos quando temos medo, ou quando estamos com raiva, ou tristes ou quando alguma coisa não saiu conforme o esperado. Choramos quando nos sentimos impotentes diante de uma situação. Quando percebemos que as circunstâncias estão fora do nosso controle, que não temos força para reverter o quadro. É quase um ato de entrega. É o reconhecimento da nossa limitação, na nossa pequenez, da nossa vocação para poeira. A gente veio do pó. Choramos porque somos humanos, porque somos normais.  

Descobri que podemos chorar até mesmo sem derramar lágrimas. Teve um salmista que chorou tanto que suas lágrimas secaram. Não caíam mais. Seu coração continuava partido, ele se achava confuso, ainda não sabia o que fazer e nem chorar mais conseguia.  Davi, acuado, perseguido e fugindo de Saul, disse uma coisa fantástica no Salmo 56:“Contaste os meus passos, quando me perseguiram; guardaste as minhas lágrimas no teu odre: não estão elas no teu livro?” Uau! Quer dizer que o Deus dos céus, com tudo o que tem para fazer e com que se preocupar todo dia, pára o que está fazendo quando eu choro, e manda que recolham os pingos que caem dos meus olhos, recolhe na sua vasilha e anota no seu livro? É linguagem poética, eu sei. Mas que linguagem! 

Além disso, ele conta os meus passos. Ora, para alguém contar os meus passos, ele precisa estar comigo. Tem que estar próximo, tem que acompanhar. Há alguém aí que conhece e crê num Deus assim? Isso nos remete à oração de Habacuque: “Ainda que a figueira não floresça, que a vide não dê o seu fruto, ainda que o produto da oliveira minta e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho não... ainda que o curral não... ainda que a bolsa de valores não... ainda que o emprego não... ainda que os irmãos não... ainda que a igreja não... ainda que meus sonhos não... ainda que minha saúde não... ainda que meus pais não... ainda que minha esposa não... ainda que meus filhos não... ainda que o faturamento não..., TODAVIA eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação”.  Não importa se a vida nos pregou algumas peças. Não importam as decepções e angústias. Não importa o que nossos velhos amigos fazem, fizeram ou farão. Não interessa se expectativas se frustraram. Não importa o que dizem os jornais, nem o noticiário da TV. Não importa o que as pessoas dizem de nós. Eu posso ter certeza de que após os mais sombrios e pessimistas “AINDA QUE” sempre haverá um glorioso e retumbante “TODAVIA”. 
Outra vez citando Davi: “Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã”. Desde que Deus criou os luzeiros, o sol nasce e o sol se põe e depois nasce de novo. Sempre há um novo dia. E nada como um dia depois do outro. É no novo dia que Deus traz à luz os seus “TODAVIAS”, com todo o poder que eles têm de nos dar alento e nos manter de pé.

Marcos Senghi Soares
Publicado originalmente em irmaos.com

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A recompensa da fé

Há décadas surgiu no meio da igreja cristã a teoria da prosperidade. Entre brados de vitória e declarações triunfalistas, passou-se a considerar o Evangelho e a fé como senhas secretas para acessar o mundo de benesses celestiais. Bênção de Deus passou a ser sinônimo de riqueza, prosperidade, saúde e luxo. Seja fiel e Deus vai te abençoar.


No entanto, esta teoria não encontra eco nas Escrituras. Deus nunca prometeu nem insinuou que seremos abençoados em função dos méritos da nossa fidelidade. Ele nos ensina a sermos fieis por nosso temor a Ele, nunca de olho no benefício.


O que dizer das pessoas que perderam a própria vida por sua fidelidade? É que ensina, por exemplo, Hebreus 11:35-39.  Não receberam em troca, nesta vida, a bonança e a prosperidade material. Bem diferente disso, diz o texto que:

·         Foram torturados
·         Passaram por escárnios, açoites, algemas e prisões
·         Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos ao fio da espada
·         Andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras
·         Foram necessitados, afligidos e maltratados.

E não. Não passaram tudo isso porque não eram dizimistas fieis ou porque não sabiam fazer a confissão positiva. O texto prossegue dizendo que “o mundo não era digno deles”, tamanha a grandeza do seu testemunho de fé.


O Senhor não nos abençoa por causa de nossa fidelidade, mas por causa de sua graça. A grande questão talvez esteja no nosso conceito de “bênção”. Se ele não estiver ligado com o conceito de Deus, sempre teremos dificuldade com nosso sistema de mérito e obras.

Marcos Senghi Soares

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Parábola da Conexão Perdida

Houve um tempo em que a CONEXÃO era total – full time. Todos os softwares eram hiper avançados. O sistema era perfeito.

Não havia vírus, nem antivírus. Os downloads eram ilimitados. As máquinas trabalhavam em capacidade e velocidade máxima, sem panes, sem queda de energia, sem perda de conexão. O acesso era irrestrito a todos os conteúdos perfeitos do universo, de graça e em tempo real. O Bondoso Programador desenvolveu algo espetacular; muito bom.

Mas, as máquinas (que tinham lá a sua inteligência) livremente, espontaneamente, deliberadamente e conscientemente acessaram sua própria destruição por conta e risco. Foram atraídas pelo brilhante ícone do orgulho e decididamente clicaram no egoísmo e na inveja. Rebelaram-se contra o Bondoso Programador do sistema que fez tudo com meticulosa perfeição e carinho.

O resultado? Vírus! Um vírus corrosivo, destruidor, mortal, que se espalhou por todo o HD, de todas as máquinas, travando cada uma delas. O que era perfeito foi infectado. Automaticamente um mecanismo de autodestruição progressiva foi acionado e tomou conta de todo o sistema de forma irreversível.

Fatalmente as máquinas perderam a conexão com o Servidor por período indeterminado e foram fadadas à destruição, no lixão das máquinas. Todavia, o Bondoso Programador resolveu dar o único jeito possível para recuperar os softwares infectados. Fez o Servidor, transformar-se em Servo para salvar a conexão. O Servidor puxou para si todo o vírus de todo o sistema, de todas as máquinas e se deixou destruir pelo mesmo. Ele sugou tudo e ficou com todo o prejuízo de todos os softwares...

Mas o Servidor era filho do Programador. E o Bondoso Programador revitalizou o Servidor do meio do lixão das máquinas dando início a um novo tempo, e outorgou a Ele toda capacidade e poder para reprogramar e reconectar todos os softwares destruídos, infectados, e desconfigurados, bastando um simples "enter" de vontade e fé de cada software: simples assim.

Pressionar livremente e convictamente a tecla “Enter” para entrar em conexão novamente com o Servidor. Um “enter” de arrependimento e fé para salvar a conexão e, por que não dizer, a própria existência.

Texto do Pr. Marcelo Ferreira, da PIB Piracicaba, publicado com autorização.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Perguntas - I Coríntios 1:20

Será que toda pergunta sobre Deus é válida? Como nos posicionar diante das dúvidas que temos em relação à nossa fé?
Mensagem pregada na Igreja Batista do Cambuí, em Campinas, dia 28 de agosto de 2011.

Clique abaixo para ouvir ou para fazer o download

Perguntas - I Coríntios 1:20 by Marcos Soares

domingo, 28 de agosto de 2011

O Custo do Discipulado

A salvação é de graça, mas o discipulado tem um custo apresentado por Jesus em Lucas 9:23.

Mensagem pregada da Igreja Batista do Cambuí, em Campinas, dia 31 de julho de 2011.

O Custo do Discipulado (Lucas 9:23) - Marcos Soares by Marcos Soares

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

“É assim que Deus disse?”

Entre as manias que assolam a igreja na nossa geração está a mania de questionar a Palavra de Deus.                        

Não é aquele questionamento genuíno, interessado em aprender, a investigação sincera de quem não sabe, mas quer descobrir. É a síndrome do comichão, tão bem denunciada por Paulo em 2 Timóteo 4:3-4. Não se trata de quem pergunta para entender, mas de quem pergunta para colocar em xeque.

São muitos os “pastores” e “ensinadores” que enveredam por esse caminho. Alguns são bem rebuscados. Sua senha de acesso são expressões como “precisamos ler a Bíblia com outros óculos”, “a gente não pode ter medo de fazer perguntas” e “será que é isso mesmo”?

Alguns, por medo de perder suas bases, ainda se afirmam “conservadores”. Mas não acreditam na Bíblia. Tratam-na como objeto de mera pesquisa. Para eles, a verdade não é absoluta. Ainda pregam, escrevem, dão entrevistas. Mas tem medo da verdade. Pergunte a eles o que acham de histórias como a de Jonas, dos milagres, das profecias ainda não cumpridas. Peça para que lhes responda sem rodeios se acreditam em um céu literal e um inferno literal. Peça uma resposta clara e objetiva sobre como uma pessoa pode ser salva ou sobre a segunda vinda de Cristo. Eles desviam. Mudam de assunto. Dizem (como já ouvi) que “esta não é a pergunta a ser feita”.

O primeiro teólogo liberal do mundo surgiu muito antes do que se imagina. Foi o diabo, no Éden, que lançou a moda de colocar em dúvida o que Deus fala. “É assim que Deus disse?” (Gênesis 3:1), sugeriu ele à Eva. O resto da história conhecemos bem.

Várias vezes tenho ouvido a mesma pergunta nos blogs, chats e fóruns por aí afora. A pergunta que tenho a fazer não é dirigida a Deus, mas a esses: de que lado vocês estão?

Marcos Senghi Soares

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Terrorismo Evangélico

Falar no inferno agora é chamado de “terrorismo evangélico”. Esta crença em um céu real e um inferno real, tão contestada pelo homem pós-moderno chegou também aos púlpitos e livros cristãos. Seja na negação aberta e descarada, seja na sugestão de entrelinhas.

Ed René Kivitz, em seu livro sobre o Eclesiastes, afirma-se “tentado a concordar” com Madre Teresa de Calcutá, que dizia que “o inferno existe, mas está vazio”. Esta é uma alusão ao universalismo, falsa doutrina que ensina que no final Deus vai exercer um último ato de graça e salvar a todos da condenação eterna. Não que ele não pudesse ou não tivesse direito de fazer isso, mas nesse caso a Bíblia que temos nas mãos seria uma completa farsa. Pois é ela que afirma não apenas a existência real do lago de fogo como também o apresenta como o destino inexorável daqueles que não crêem no Evangelho da graça de Deus. Não pode haver lugar no coração de quem diz crer na Bíblia e viver para pregá-la para aceitar uma aberração como esta. Nenhuma pessoa séria flerta com tamanha bobagem.

Muitos criticam aqueles que foram salvos por medo de ir para o inferno. O ideal, dizem eles, é que eles tivessem vontade de ir para o céu. Agora, pensem bem: se uma pessoa está prestes a ser tragada pelas corredeiras de um rio furioso, já sem forças para alcançar a margem, o que você acha ocupa a sua mente? Escapar da morte ou sentar-se calmamente com a família para um almoço de domingo? Você acha mesmo fora de propósito que diante da evidência da morte trágica um ser humano queira simplesmente safar-se?

Terrorismo evangélico é não avisar às pessoas da realidade do inferno. A mensagem do Evangelho é o poder de Deus para a salvação. Mas que salvação é necessária para aqueles que não estão conscientes do perigo que correm? Será mesmo melhor para eles que troquemos os avisos do risco a que estão expostos pelo blá-blá-blá da autoajuda, da filosofia humana ou da terapia de Freud?


Marcos Senghi Soares

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Esse amor!

Não existe nada parecido com o amor de Deus. Diferente de qualquer área do conhecimento ou da atividade humana, quanto mais você experimenta dele, menos consegue explicá-lo. Quanto mais o sente, menos o conhece.


Os relacionamentos humanos são totalmente insuficientes para expressar completamente o amor de Deus. Podemos falar do amor de uma mãe por seus filhos. Mas encontraremos situações de abandono e maus tratos. Podemos cantar, como fazem os poetas, o amor apaixonado entre um homem e uma mulher. Mas haverá momentos rudes, dias de discórdias e afastamento. Podemos celebrar o amor fiel entre amigos antigos, mas ainda entre eles poderão surgir rixas e desentendimentos.  A beleza do amor humano, comparada ao amor de Deus,  é como a névoa da manhã, que se dissipa ante a luz do sol.

Pensar em Deus amando a Adão e Eva no Éden é relativamente fácil. A obra-prima da sua Criação perfeita. Deus olhava para os dois e podia dizer: “isso que eu fiz é muito bom”. Nunca tive essa experiência, mas penso que não seria difícil amar alguém perfeito. Sem decepções. Sem traições. Sem palavras duras. Apenas o amor, a camaradagem, o companheirismo, a comunhão plena.


Mas saber que Deus continuou a amá-los mesmo depois de pecarem complica a nossa imaginação. Como conciliar isso com a sentença de morte e separação que entrou em vigor no exato instante que comeram o fruto do conhecimento do bem e do mal? Amor e punição nos parecem completamente incongruentes. Quem ama não pune, pensamos. Quem ama faz vistas grossas ao pecado.


Bobagem. A história da humanidade prova exatamente o contrário. Deus não diminuiu seu amor por Adão e Eva em 1 mm (ou 1kg ou seja lá a medida que se queira usar) depois da queda. É por isso não compreendo o amor de Deus. Ele continua nos amando e provando isso a cada dia, mesmo que não seja possível para ele, por ser tão puro de olhos, ver o mal que está em mim (Habacuque 1:13). Ele não pode conviver com isso. Não suporta o pecado. Mas continua amando.


Não é injusto em condenar-me por causa do meu pecado. Mas porque me ama, providencia um meio para que nossa comunhão seja restaurada. Esta é a história da redenção.  Um Deus de toda graça provendo recursos para satisfazer completamente sua justiça e santidade.


Sem nunca deixar de me amar.

Marcos Soares

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Você já ouviu um "bem feito"?

Existem poucas coisas mais motivadoras na vida do que receber um elogio sincero. Sabe aquele projeto que você executou simplesmente por paixão e boa vontade, mas que de alguma forma abençoou a vida de alguém? Só existe uma coisa melhor do que a boa sensação do dever cumprido: é que alguém tome a boa decisão de dizer a você, sem nenhum outro interesse, que alguma coisa serviu para edificar sua vida.

Não é que você precise disso para continuar fazendo o que você sabe ser a sua missão, mas essa verbalização é, sem sombra de dúvida, uma confirmação e uma força no sentido de mostrar que o caminho é esse mesmo.

A gente tem a mania de pensar que não precisamos dizer às pessoas que elas estão fazendo um bom trabalho. Achamos que isso fará mal a elas, tornando-as orgulhosas e cheias de si. A verdade é que esse risco todos nós corremos, independentemente de sermos ou não sermos elogiados. Quem é orgulhoso, vai continuar “se achando”, mesmo que ele seja o único que gostou do que ele fez. Não será um elogio a mais que vai mudar a história. Mas quem leva a vida a sério vai receber um novo ânimo quando ouvir você dizer “muito bom o que você fez”.
Então, nunca perca uma oportunidade de elogiar. Nunca deixe de dizer a alguém o quanto ela foi importante na sua vida. Este retorno sincero e desinteressado pode ser a diferença entre desistir e continuar. O tal do feedback é realmente poderoso.

Você poderia fazer isso agora mesmo. Mandamos tantos e-mails com mensagens vazias que não promovem edificação. Twitamos bobagens, com o fim de simplesmente conseguir novos seguidores. Que tal usar esses recursos hoje para elogiar alguém?

Bom trabalho pra você!

Marcos Soares

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Você ainda não acredita em mula sem cabeça?

Não é lenda nem folclore nacional. A mula sem cabeça existe. Ela, inclusive, está na Bíblia. É verdade! Está no Salmo 32:9: Não sejam como o cavalo ou a mula, que não têm entendimento mas precisam ser controlados com freios e rédeas, caso contrário não obedecem”.

Já conheceu alguém que não se submete a nada e a ninguém? Que se considera livre, porque ninguém tem o direito de dizer o que é certo ou errado? Que acha esse negócio de pecado uma coisa superada? Que acha que obedecer não é uma resposta de amor, mas um subproduto da opressão? Pois esta é, precisamente, a mula sem cabeça: a pessoa que insiste em viver do jeito que acha melhor. Não que lhe falte cérebro: falta-lhe entendimento.

São pessoas assim que veem Deus apenas como um Provedor sobrenatural, cuja graça nos dá o direito de viver nossa vida de acordo com nossos mais desvairados (des)caminhos.  Não precisam do conselho de Deus, porque essa coisa de regras e de mandamentos já está superada. Segundo eles, um Deus que exige não é um Deus legal. A gente quer um Deus “mano”, um Deus “maneiro”, um Deus “da hora”, que nos dê do bom e do melhor, sem exigir nada em troca. Porque essa coisa de “devoção” é muito legalista. Gente “cabeça” é gente que pensa e pensa o que quiser, do jeito que achar melhor.

Na verdade, quem pensa assim é gente sem-cabeça. Se esqueceram de ler o que Deus falou antes disso: “se eu te instruir e você seguir o meu conselho, então você saberá o caminho que deve tomar” (Salmo 32:8, parafraseado).

Então, ainda não acredita? Fique esperto, ela pode estar mais perto do que você imagina. De repente ela acaba de ler este artigo...

Marcos Soares

terça-feira, 21 de junho de 2011

Orientação

Todas as manhãs de segunda a sexta, exceto feriados, saio para uma caminhada de uma hora. Faz parte da fase da consciência integral: cuidar do corpo, da alma e do espírito...

Nessas caminhadas, próximas a duas rodovias em Piracicaba, é comum ser abordado por motoristas pedindo informações sobre seu caminho. Hoje aconteceu duas vezes: o motorista de um caminhão carregado e um rapaz num carro de passeio. O primeiro deveria seguir em frente e virar à direita. Ao receber a orientação, agradeceu e fez exatamente o que lhe disse para fazer. O outro estava indo na direção oposta de onde queria chegar. Orientei-o a fazer um contorno logo à frente e em menos de 5 minutos estaria lá. Para minha surpresa, ele agradeceu e... seguiu em frente, afastando-se mais e mais a cada metro do seu destino.

Não sei o que leva uma pessoa a pedir informação, descobrir que está indo na direção errada e seguir no mesmo caminho. Parece insano. Você se sente com “cara de tacho”: “Ué, por que parou para perguntar?” Que perda de tempo!

É que alguns de nós talvez possam se lembrar de momentos em nossa caminhada quando fizemos exatamente isso com Deus. Perguntamos a Ele o que era para fazer, qual o caminho seguir, que decisão tomar, apenas para depois continuar fazendo o que já íamos mesmo fazer. Não é uma loucura? Quando agimos assim, vamos nos distanciando cada dia mais do destino desejado. Chega uma hora em que estaremos tão perdidos e atrasados que fica difícil corrigir.

Quando não souber o que fazer e tomar a atitude correta de consultar o Senhor, ouça bem o que Ele disser e faça exatamente o que ouviu.

Em pouco tempo você chega lá.

Marcos Soares

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O rei que almoçava com um cão morto

A indústria do Pet Care desenvolveu-se muito nos últimos anos. Chega a ser inacreditável o volume de dinheiro que se gasta com animais de estimação e os mimos são cada vez mais luxuosos e desproporcionais. Já é possível inclusive contratar um  Plano de Assistência Funeral para cães e gatos, que inclui serviço de velório com urna personalizada e até mesmo (pasmem!) um culto ecumênico em honra à memória do bicho morto. Quer dizer que "mundo cão" já não é mais tão ruim como já foi...

Retirados os exageros provenientes da imbecilidade humana, um cão morto não é nada mais do que isso: um cão morto. Algo sem valor prático ou utilidade, que não desperta o interesse de ninguém (salvo os donos da funerária canina). Não se faz nada com um cão morto. O máximo que se consegue fazer é ter dó. Claro que não é o caso de a gente ficar feliz quando vê um cãozinho ser atropelado ou mesmo morrer de velhice, mas o que fazer além de lamentar?

Houve alguém que já se autodefiniu exatamente como sendo... um cão morto! Rapaz, que modos de se referir a si mesmo. Um cão morto. Quer dizer, alguém sem qualquer valor ou utilidade.
Mefibosete se sentiu assim. Sua história está em II Samuel 9. Ele era aleijado (porque uma criada o derrubou do colo quando ainda bebê), a sua dinastia havia sido deposta por Deus, e pouca esperança restava para uma vida feliz. Quem se importava com alguém como ele?

Um dia Davi mandou chamá-lo. Queria que ele mudasse para Jerusalém e passasse a comer e beber no palácio. Coisa que, pelo menos naqueles tempos, nem um cão vivo teria direito, que se diria de um morto... Uma mudança e tanto na vida de Mefibosete. Passaria a ser alguém com valor.

Alguém se importou com ele, não obstante nada houvesse nele que pudesse ser de interesse. Simplesmente alguém o amou. Simplesmente mostrou graça. E ele nunca mais seria o mesmo. Sua vida seria revolucionada a partir daquele momento.

Você já se sentiu como Mefibosete? Você já foi "barrado" no baile"? Já se sentiu alguém sem valor, sem utilidade, desprezado? Na verdade, nenhum de nós tem mesmo qualquer valor. Somos como um caco de barro. Pior. Vamos encarar. Somos cães mortos.

Mas o Rei olha para nós. O Rei se lembra de nós. O Rei conhece o nosso nome e conhece a nossa história. Conhece tanto que mandou seu Filho para se tornar um de nós, e viver uma vida inteira sendo desprezado, sendo um de quem os homens escondiam o rosto e não faziam caso. Ele conhece a dor do desprezo e do abandono. Ele conhece o latejar da rejeição.

Ele não é o rei Davi. É o Rei dos reis. Sua graça é muito maior do que a de Davi. Sua graça revoluciona a nossa vida, tira-nos da lama do pecado e nos faz assentar nas regiões celestiais em Cristo. Isso faz com que a nossa existência ganhe razão e sentido.

Um dia desses visitei Petrópolis. Paguei R$ 10,00 só para olhar a casa onde morava o imperador. Se D. Pedro vivo, nem pagando R$ 10.000,00 eu poderia entrar. Eu dificilmente teria acesso ao palácio. Não faço parte da elite. Não tenho sangue azul. Não tenho sobrenome famoso.

Não faz mal. Eu me assento no palácio do Soberano do Universo. O Rei me recebe não porque sou importante, mas porque ele me ama. Sou querido nas mansões reais. E um dia vou morar lá.

Um cão morto como eu.


Publicado em irmaos.com em 22/10/2001

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Rui Barbosa, analfabeto!

Amigos, uma das maiores inteligências deste país foi, sem dúvida, Rui Barbosa. Alcançou notoriedade internacional ao discursar brilhantemente em Haia, sendo por isso mesmo apelidado de "O Águia de Haia". Escritor, senador, homem brilhante, no final da vida foi perdendo gradativamente a visão. Um dia, tentava enxergar o letreiro do bonde que descia rua abaixo e mesmo com muito esforço não conseguia decifrar o destino do coletivo. Perguntou, então, a um homem que estava ao seu lado: "O senhor poderia me dizer para onde vai aquele bonde?" O homem respondeu incontinenti: "Desculpe, amigo, eu também sou analfabeto, igual ao senhor"...

É brincadeira? Chamar o grande Rui Barbosa de analfabeto, só porque ele não conseguiu ver o letreiro? Pois é, é a velha mania de julgar os outros pelo seu próprio contexto. Achar que todo mundo padece dos mesmos males que a gente. Se ele não consegue ler, é porque não sabe ler. Dedução rápida, lógica, porém absurda, especialmente naquele caso.

Não é assim que agimos, com freqüência? Não é verdade que julgamos os outros baseados em nossas próprias atitudes, preconceitos e idiossincrasias? O marido infiel sempre desconfia da esposa, mesmo que ela lhe seja fiel. Por quê? Porque acha que ela está agindo como ele age quando está sozinho. O desonesto sempre vê perigo quando negocia. Por quê? Porque pensa que todos são trapaceiros como ele. O mentiroso desconfia da palavra de todo mundo, porque acha que todos mentem como ele. Quem costuma dar indiretas, acha que todo mundo está mandando recado prara ele. E assim por diante. Muitas vezes, com a base falsa da nossa própria realidade falida, emitimos julgamentos precipitados, que podem inclusive denegrir e até destruir a reputação e a honra de uma pessoa.

Seria melhor que antes de darmos nosso "veredicto" sobre uma pessoa, a gente tivesse um pouco mais de maturidade. Às vezes pode ser que o nosso "mundinho", o curral apertado onde confinamos nossa experiência de vida, é pequeno demais, é mesquinho demais. Por isso, quando reduzimos os outros
aos mesmos padrões de mediocridade e estagnação que nós (simplesmente porque não se conformaram com um universo tão restrito para suas vidas), cometemos tremendas injustiças no julgamento.


Acabamos achando que o Rui Barbosa é um iletrado.