segunda-feira, 22 de julho de 2013

Tempestade de 10 minutos

Fotos de Fabiano Pereira

Domingo, 21 de julho de 2013. Por volta das 16h, uma tempestade com ventos de 120km/h atingiu a Noiva da Colina, a nossa querida Piracicaba. Em alguns pontos da cidade, como no caso do apartamento onde moramos, a coisa foi quase imperceptível. Exceto pelo tuc-tuc-tuc de pedrinhas de granizo na janela, nem de longe dava para sonhar com o que estava acontecendo por aqui.

Somente com a queda de energia é que percebemos que era mais sério. Houve muitos danos aqui mesmo no condomínio e pela cidade toda, um rastro de destruição. Árvores caídas, rede elétrica danificada, carros arrastados. Um cenário inacreditável para um fenômeno que não durou mais do que 10 minutos! A força do vento e da chuva foi tremenda. Muita gente relatou nunca haver passado por coisa semelhante na vida. Tudo muito rápido, mas muito intenso e de consequências igualmente profundas.

O pecado é assim. Rápido. Inesperado. Desconcertante. Incontrolável. Foi só um fruto, e Adão e Eva passaram a morte a todos os homens. Foi só uma noite, e Davi enrolou sua vida. Foi só uma capa, e Acã assinou sua sentença de morte. Foram só 30 moedas e Judas traiu o Cristo. Foi só uma mentira, e Ananias e Safira caíram mortos diante de Pedro.

Invariavelmente, seja qual for a situação ou circunstância, o pecado é devastador. Leva tudo o que tem na frente. Não respeita ninguém: crianças, jovens, adultos ou idosos. Derruba tudo: seja um hospital, uma escola, uma igreja ou uma casa de caridade. Não existe saldo positivo depois dele. Só terra arrasada, destruição, problemas e um alto custo de reconstrução. Em dez minutos ele derruba o que você levou a vida inteira para construir.


Por isso, não tente enfrenta-lo sozinho. É como tentar parar uma tempestade no peito. Você precisa de uma proteção maior e mais forte. Precisa estar escondido na “Rocha mais alta que você” (Salmo 61:2).  

Este é o único lugar seguro.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A cultura da dúvida

Estamos assistindo à chegada de uma tendência nova, insuflada pelos ventos da pós-modernidade: agora é proibido ter convicções. A palavra do momento é “duvidar”. Duvide de tudo: de seus pais, do governo, da mídia. Na mesma esteira, chegou também a onda de duvidar de Deus e de Sua Palavra.

Um dia desses, estava conversando com uma pessoa que se dizia maravilhado com a “nova forma de pensar” que estava aprendendo com o seu “pastor”. Segundo ele, o nosso problema (traduzindo, daqueles que ainda acreditam na Bíblia como a Palavra de Deus) é que nós precisamos aprender a “ler a Bíblia com outros óculos”. O garoto me disse que eu tinha “medo de fazer perguntas”. Outra vez, alguém achou brilhante a frase “quando tudo o que você sabe sobre Deus não resolve mais e o novo ainda não chegou” para dizer que a fé que aprendemos de nossos pais não é suficiente para aquietar o nosso coração.

Mais recentemente, alguém comentou comigo que estava se sentindo um peixe fora d’água no meio dessas pressões, porque volta e meia alguém lhe diz, em tom jocoso, que ele tem “mais convicções do que perguntas”. Como se isso fosse um crime.

Ouvi isso muitas vezes e confesso que cheguei a me perguntar se eles não tinham razão. Isso porque os ataques vêm embalados numa falácia sutil: quando você diz ter alguma convicção, eles retrucam, com ares de pretensa humildade: “mas quem pode dizer que sabe alguma coisa? Isso é coisa de gente enfatuada, de ‘religiosos’. O certo agora é ter muitas dúvidas, muitas perguntas.

Na mesma conversa daquele rapaz que está atrás de óculos novos, ele compartilhou o que considerava uma extraordinária descoberta exegética do seu pastor filósofo: o tal “mestre” afirmou do púlpito que, ao ajoelhar-se, o homem está exercendo o maior papel que um ser humano pode assumir: o de adorador. De joelhos, você é homem de verdade.  Até aí, nenhuma novidade. O “extraordinário” viria a seguir: “me arrisco a dizer”, completou o pregador, “que quando você se ajoelha para orar não importa nem para quem você está orando; o que interessa é que você está exercitando a sua espiritualidade”.

Quando respondi que Isaías 44 não chama isso de “nobre exercício de espiritualidade”, mas de idolatria vã, a resposta foi: “Mas será que é mesmo isso que Deus quis dizer”? Ou seja, a mesma pergunta feita pelo primeiro teólogo liberal da História, a serpente no Éden, ecoava agora nos lábios de um menino recém saído das fraldas, que não sabe a diferença entre a mão direita e a mão esquerda, mas que resolveu beber da fonte errada.

Depois, peguei a minha Bíblia e fui ler o que o apóstolo João escreveu na sua segunda carta. Se esse povo tem razão, então esse apóstolo era um tremendo falastrão, um religioso enfatuado que achava que era melhor do que os outros. Senão, o que o teria levado a escrever na sua primeira carta por OITO VEZES (leia por si mesmo os textos a seguir: I João 2:3; 2:5; 3:2; 3:14; 5:15; 5:18; 5:19; 5:20) a expressão “SABEMOS”. Isto é dúvida ou convicção?

O mais curioso nessa história é que esses mesmos que pregam a dúvida e o questionamento não admitem ser questionados. O mesmo falso profeta que “ensinou” essa bobagem a respeito de “espiritualidade”, quando questionado por mim em um desses fóruns de debate a respeito de algumas de suas posições teológicas, saiu-se mais ou menos assim: “sua pergunta não é importante. Eu não preciso explicar o que escrevo nem o que digo”.

Outro, quando percebeu que alguns leitores discordavam de uma postagem sua no Facebook , simplesmente DELETOU e BLOQUEOU  todos os contrários, deixando apenas os comentários elogiosos. Então, é para questionar, mas só eles podem fazer as perguntas.

Será possível que em 20 séculos de História da Igreja, ninguém tinha percebido o que essa gente “descobriu” agora? E afinal, o que estão realmente questionando? Alguns estão tentando fazer com que a Igreja volte ao Judaísmo; tem gente querendo ser circuncidado, guardar o sábado, tentar cumprir a lei. Outros, querem ressuscitar a mentira do Universalismo (dizendo que “o inferno existe, mas está vazio, porque Deus não vai deixar ninguém lá”). Outros querem que você creia em um deus fraco. Um deles pregou em uma conferência de uma [até então] renomada instituição de formação de líderes que a idéia de um Deus Todo-poderoso é alheia ao Evangelho, porque esse tipo de “deus” é um deus grego. Alguns, mais ousados, combatem a inerrância das Escrituras e sua autoridade normativa.

Então é isso que querem questionar? Ah, bom. Aí fica mais fácil de entender. Porque essas coisas sempre vinham da parte daqueles a quem conhecíamos (corretamente) como os “descrentes”; agora vem daqueles que estão nos púlpitos dos "crentes". Eles precisam decidir de que lado estão.

Eu não sei tudo. Há muitas perguntas para as quais não tenho resposta. Não sou melhor do que ninguém. Mas não tenho medo de ter convicções. Inclusive porque são elas que me mantém de pé quando enfrento momentos de dúvida e incerteza. Existem algumas coisas sobre as quais eu não quero duvidar. Elas são a âncora da alma de quem conhece a Deus experimentalmente, não por ouvir dizer.

Não abro mão dessas verdades. Pedro, embora ainda tivesse muito que aprender quando disse essas palavras, falou o que eu sinto igualmente: “Para quem iremos, Senhor? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (João 6:68-69). É aí que está a diferença: quem diz que crê mas não conhece, está sempre em dúvida.

O que a gente precisa fazer é decidir de que lado a gente está: dos que crêem, ainda que não compreendem tudo, ou dos que duvidam de tudo, apesar de saberem tanto.

Marcos Senghi Soares