sexta-feira, 18 de abril de 2014

Doze homens e um segredo: Lições do Lava-pés (Crônicas da Última Semana parte 3)

Naquela noite todos podiam ter entrado para a história como exemplos universais a serem seguidos. Poderia ter-se ouvido um burburinho, um corre-corre, uma intensa atividade que faria com que o serviço fosse rapidamente acabado e todos pudessem tomar seus lugares à mesa e desfrutar de mais tempo na companhia do grande amigo que estava prestes a partir. Uma noite memorável que nunca seria esquecida.

De fato, não foi. Porém, não foi do jeito que deveria ser. Ao contrário, foi uma noite de algum constrangimento. De rostos sem graça olhando para baixo. De corações que se perguntavam: “Como não pensei nisso antes?

Era o dia especial para os judeus, o momento de celebrar a Páscoa. Era quando lembravam a grande libertação da terra do Egito, quando Deus desembainhou sua espada contra Faraó e os tirou com mão forte do cativeiro. Diante deles, o Mestre. O clima andava tenso. Os acontecimentos das próximas horas mudariam a rumo da história da humanidade. Eles não tinham percebido isso, mas seria a última páscoa. Aquela refeição seria única na experiência daqueles homens.

Não havia escravos na casa. O espaço tinha sido cedido por um homem desconhecido, para que o grupo celebrasse a páscoa. A mobília pronta, a mesa posta, água, bacia e toalhas. Mas não tinha ninguém para fazer o humilde serviço de um escravo: lavar os pés dos comensais. Todos esperavam o momento em que o Mestre começaria mais um de seus discursos, falando aos corações deles sobre coisas profundas e eternas.

Todos se assentam. A ceia começa. Ninguém se manifesta. De repente, para surpresa de todos, Ele se levanta. Tira a veste de cima, enrola-se numa toalha. Sob os olhares espantados de doze pares de olhos, caminha até uma talha. Derrama água em uma bacia. Chega-se aos pés empoeirados do primeiro discípulo. Curva-se. Mete a mão na água e lava-os. Enxuga com a toalha. Vai para o próximo. O silêncio é palpável. Gostariam de enfiar-se num alçapão e sumir dali.

O silêncio é quebrado, mas antes não tivesse sido. É Pedro. Ele se recusa.  “NUNCA me lavarás os pés”. Devia ter ficado quieto. Jesus lavou seus pés. Lavou também os de Judas, que daqui a pouco o entregaria pelo preço de um escravo, 30 moedas de prata. Cada um poderia apresentar suas desculpas. Judas tinha que sair logo. Ele já nada tinha a ver com aquilo. João, o apóstolo do amor, não tinha “sentido no coração”. Mateus, o ex-publicano, podia ter medo de ser mal compreendido por Simão Zelote e vice-versa. André podia achar que já tinha feito muito de levar Pedro ao Messias. Tomé só acreditaria vendo e Filipe ainda estava procurando o Pai. Pedro só lavaria o corpo inteiro. Bartolomeu, Tadeu e Tiago, que tinham ficado de boca fechada até agora, tinham medo de se manifestar em momento tão crucial.

Os doze homens ainda não tinham aprendido o segredo: “Quem ser grande entre vós, seja esse o que vos sirva.” Servir aos outros era uma bênção para o Senhor, não um castigo: “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes”. Era uma missão de vida, não um fardo a ser evitado a todo custo: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir”. Era uma atitude a ser copiada, não uma performance a ser encenada: “Eu vos dei o exemplo para que como eu vos fiz, façais vós também.” Enquanto alguns ainda disputavam o lugar principal, Jesus gastava sua energia assumindo o papel de Servo.

Esta é a ordem no Reino e o segredo de uma vida vitoriosa e bem sucedida: encontrar prazer em servir aos outros. Alguns discípulos disseram que estavam dispostos a ir até a morte pelo Senhor. Diz a história que isto foi o que realmente acabou acontecendo. Porém, até aquele momento, eles não estavam dispostos sequer a lavar os pés uns dos outros. Nem mesmo os pés do Salvador. Ainda não estavam totalmente prontos. Foi a primeira lição que Jesus destacou na última hora em que esteve a sós com seus discípulos. Uma lição que faríamos bem em aprender.


Uma vida de serviço é o único tipo de vida que realmente vale a pena. 


Leia mais
1ª Parte: Hosana!  clique aqui
2ª Parte: Maria de Betânia clique aqui

terça-feira, 15 de abril de 2014

Marcos Soares - JUÍZES - Os bastidores do caos 02

Marcos Soares - JUÍZES - Os bastidores do caos 01

Maria de Betânia (Crônicas da Última Semana parte 2)


700 ml. Mas representavam um verdadeiro tesouro. Custaram o equivalente a 300 dias de salário de um trabalhador comum. Isso se ele fosse capaz de economizar tudo o que ganhasse durante tanto tempo. Aquele perfume era uma pequena fortuna. Fragrância importada da Índia, devia ser usado como qualquer perfume caro: bem pouquinho de cada vez, em ocasiões mais do que especiais.

Maria era de uma família simples. Nada indica que ela fosse rica. Muito provavelmente, aquele frasco era o que ela tinha de maior valor financeiro na vida. Acontece que onde está o seu verdadeiro tesouro, aquilo que realmente você valoriza, seu coração está lá. Dinheiro, riqueza, bens materiais, sonhos de consumo, tudo isso perde o valor diante do Eterno.

Ela conhecia e amava o Mestre. Ele era um grande amigo da família. Um ano antes, seu irmão havia sido ressuscitado por ele, quatro dias depois do enterro. O que poderia valer menos do que isso? Se você já sofreu a dor da perda de um ente querido, você é capaz de avaliar o que representou para Maria a restauração de vida de seu irmão.

E então ela quis fazer o melhor para mostrar seu amor e consideração por Jesus. Ela não tinha coragem de fazer menos do que o melhor. Ainda que para isso, ela tivesse que abrir mão de tudo o que tinha de mais precioso. Sem conta-gotas. Sem economia. Sem miséria. 

Entrou na sala onde Jesus estava. Quebrou o vaso, para que não sobrasse nada. Derramou o perfume sobre os pés e sobre a cabeça do Senhor. Isto era um reconhecimento de que ali estava um rei. Não se incomodou com as reações. Ela sabia que poderia ser ridicularizada e incompreendida. Isso não fazia diferença nenhuma. Seu foco era honrar a Cristo, não ser aplaudida pelos outros. “Ela fez o que pode”, ressaltou Jesus. Fez o que estava ao seu alcance. 

É sempre assim: quem faz o que pode para honrar a Jesus, consegue transformar os atos mais simples em atos proféticos, plenos de significado. “Ela me ungiu para o meu sepultamento”, disse Cristo. A quebra de um vaso se torna um ato extraordinário de adoração, algo para ser lembrado onde quer que o Evangelho fosse pregado.


Nunca será demais o que fazemos para engrandecer a Cristo.


Para ler a parte 1 da série, clique aqui

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Hosana! (Crônicas da Última Semana parte 1)

A cena empolga. Uma multidão protagoniza uma cena emocionante, jamais vista com outro rabino. Estão cumprindo, talvez sem perceber, uma profecia de mais de 400 anos. Zacarias disse que isso iria acontecer com o Messias.

A chegada de Jesus a Jerusalém, dias antes daquela Páscoa, é envolta em verdades e contrastes. O Rei da glória não chega à capital com pompa e poderio. Não é escoltado por soldados treinados, montado em um cavalo de raça. Não está sendo esperado para participar de uma cerimônia solene no palácio. Ele vem como um rei humilde, montado em um jumentinho. É ignorado pelos poderosos e odiado pelos religiosos.

Acontece que uma multidão é sempre uma incógnita. Quem segue a massa pode estar ali por motivos muito variados. É assim num comício, num jogo de futebol, numa passeata ou num protesto. Foi assim no dia em que o Rei dos reis é aclamado como o “Bendito que vem em nome do Senhor!

Por que estenderam suas roupas e os ramos para ele passar? Por que que gritaram “Hosana”? Estavam convencidas de que ele era mesmo o Messias ou esperavam alguma coisa? Queriam sua salvação, mas que tipo de salvação? De Roma ou do império das trevas? Queriam um reino ou queriam um Rei?

Uma semana depois, parte da mesma multidão mudou a palavra de ordem. Ao invés de “Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor” o que se ouviu foi “Crucifica-o! Crucifica-o! Não temos rei senão César!”.

Jesus era o Messias e o Messias era, de verdade, o Rei. Ele merecia aquela parada e aquelas homenagens da multidão. Eles cumpriam naquele instante mais uma de todas as profecias messiânicas que se encaixavam perfeitamente e exclusivamente na Pessoa de Cristo.

Porém, reconhecer isso demandava mais do que fazer parte de uma passeata. Exigia fé pessoal e convicção individual.


Para ler a segunda parte, clique aqui

terça-feira, 1 de abril de 2014

É mentira!

Amigos, que dia é hoje? O 1º de abril, dia dos tolos, dia da mentira, dia de pregar peças. 

Dia da mentira não é coisa nova. É tão velha quanto seu pai. Tão suja quanto ele. Mentira branca, azul, amarela. Mentira comercial, para se dar bem, para as coisas não ficarem piores. É tudo do mesmo saco. Vem todas do mesmo buraco. Mentir para os filhos, para o marido, para a professora, para o namorado, para os pais. É tudo a mesma estratégia, que começou a ser usada pela velha serpente. O problema é que mentira tem pernas curtas, só que são bem torneadas, não têm varizes nem celulite. Por isso chama a atenção e muito marmanjo corre atrás dela babando. 

Agora, mentira não é só o ato de mentir. Pode ser um ato de pensar. Pode ser um ato de formar opinião. Só diz mentira quem pensa mentira. E quem pensa mentira, vive mentira. E quando a gente começa a viver uma mentira, acaba acreditando que ela é verdade.
 

Tem mentira política internacional, do tipo "Vamos invadir o Iraque para achar as armas de destruição em massa". Tem mentira eleitoral, do tipo "Vamos criar 10 milhões de empregos em 4 anos".
 

Tem mentira sofisticada, embalada em papel celofane, com lacinho e arranjo de flores. São aquelas que ninguém percebe. Vêm nos filmes de Hollywood, nas entrevistas da televisão, nas aulas da faculdade e até nos livros do ensino fundamental. É mentira moderna, articulada, elaborada nos centros mais cultos e influentes do planeta. Quem nunca ouviu a mentira da evolução, das mutações genéticas ou das "provas científicas"?
 

Tem mentira religiosa, embalada em papel mais sóbrio, cheio de citações bíblicas por dentro e por fora. Mas qual um cavalo de Tróia, quando você chega mais perto, começa a ouvir que um salvo pode deixar de ser salvo, que Jesus Cristo não é Deus, que é preciso guardar o sábado, dar o dízimo e ser batizado para ser salvo, que crente não fica doente nem pode passar dificuldade.
 Ultimamente voltou à pauta a mentira de que no fim, todos serão salvos.

Será que precisamos mesmo de um dia para a mentira? Não seria melhor lançarmos o dia da verdade? Mas este não pega. Não pega porque desde os tempos de Isaías, "a verdade anda tropeçando pelas praças, e a retidão não pode entrar. Sim, a verdade sumiu, e quem se desvia do mal é tratado como presa" (Is 59:14,15). Não é politicamente correto viver, defender e sequer pensar a verdade. Isso é exposição demasiada. Imagine, de quem vamos ser amigos se falarmos em verdade? Que dirá se falarmos em verdade absoluta, num mundo onde tudo é relativo!
 

A verdade sumiu. Sumiu da pauta da televisão, dos noticiários, dos editoriais, das conversas entre amigos, dos livros dos professores, das sentenças dos juízes, das gravações dos procuradores da República, do discurso dos presidentes, da ONU, dos partidos políticos. Sumiu. Sumiu como chapéu velho. Sumiu até de alguns púlpitos, revistas, sites, publicações e programas evangélicos.
 

E aí eu me lembro das palavras revolucionárias de um rabino judeu, há séculos atrás. Ele teve a coragem e a ousadia de falar a verdade. Mais do que isso: ele se declarou a própria personificação da verdade. Ele disse que a única forma de liberdade possível para qualquer sociedade, em qualquer época era a verdade. "Quando vocês conhecerem a verdade, a verdade os tornará livres". E depois, a um grupo restrito de discípulos, ele assume: EU SOU A VERDADE.
 

Que verdade? TODA A VERDADE. Toda a verdade espiritual, moral, cósmica, emocional, existencial. Verdade que quebra grilhões. Verdade que liberta. Verdade que permite que não sejamos mais enganados, nem feitos inocentes úteis nas mãos do pai da mentira.
 

Eu repudio o Dia da Mentira. Já chega. Eu quero cantar a liberdade. Quero declarar minha esperança inabalável num Reino que vai chegar, capitaneado pelo Cavaleiro que se chama Fiel e Verdadeiro,que julga e peleja com justiça.
 

O Dia da Mentira é pura ilusão. O Dia da Verdade vai chegar.
 

Para ficar.