Em Atos 17 encontramos o apóstolo Paulo numa situação inusitada: discutindo com os filósofos epicureus em pleno Areópago, o centro nervoso da divagação da sabedoria humana do seu tempo. Atenas fervilhava com mestres e sábios de todas as correntes e tendências. “Os gregos buscam sabedoria”, escreveu Paulo em
I Coríntios 1:22.
Paulo estava entre eles. Conhecia seus argumentos, sabia o que eles gostavam de ouvir, tinha condições de discutir qualquer assunto com eles em pé de igualdade. Era um sujeito preparado, poliglota, cidadão romano, viajado e talentoso.
Duas coisas me saltam aos olhos quando acompanho sua passagem por Atenas. Enquanto esperava seus colegas da equipe missionária que tinham permanecido em Tessalônica, ele sai pela cidade. Encontrou monumentos repletos da “cultura” e de “espiritualidade” gregas. No entanto, ele não chamou o que viu nem de uma coisa nem de outra. Tampouco se encantou pela “manifestação artística”. Diz o texto em
Atos 17:16 que ele “
se revoltava em espírito ao ver a cidade cheia de ídolos”.
Depois, foi à sinagoga onde debateu com judeus e gregos simpáticos ao judaísmo a ponto de despertar a atenção de um grupo de filósofos estóicos e epicureus. Daí veio o convite para expor sua doutrina no Areópago. Então encontramos uma segunda lição marcante. Paulo aceitou o convite. Eles tinham fisgado a isca. Deram a chance que ele precisava. E ali, diante de uma platéia sedenta por argumentação filosófica e rebuscada, diante da avidez dos amigos do saber e de uma congregação excepcionalmente religiosa, ele se coloca de pé e faz seu pronunciamento.
Para espanto de todos, inclusive de alguns hoje em dia, Paulo não discorreu sobre filosofia humana. Não discutiu os pontos em comum entre sua mensagem e a deles. O apóstolo simplesmente apresentou o Evangelho de um Deus Criador, Soberano, Eterno e Onipotente, revelado em seu Filho Jesus. Apresentou toda a loucura ilógica da Redenção, que começa com um Deus eterno se fazendo carne (“um varão”), morrendo e ressuscitando. Leia a história completa em
Atos 17: 16-33.
Era tudo o que eles não queriam ouvir. Não estavam interessados em Paulo por causa do Evangelho, mas por causa da sabedoria humana. Confirmando o que escreveria aos Coríntios, ao invés de tentar satisfazer suas expectativas, ele optou por apresentar-lhes a loucura da pregação do Evangelho. Não havia lógica na sua mensagem. Não havia explicações para agradar ou acomodar o raciocínio humano.
Ainda hoje há pessoas questionando a “lógica” da Palavra de Deus. Mas os que dantes dominavam o Areópago não estão mais sozinhos. Tem agora a companhia de alguns que se dizem “pastores” e até “conservadores”. Suas declarações de fé incluem a frase “A Bíblia é nossa única regra de fé e prática”. Mas sua linguagem corrói como câncer.
Paulo foi enxotado do Plenário. Foi ridicularizado. Deixaram-no falando sozinho. “Sobre isso te ouviremos em outra ocasião”. Pouquíssimos ficaram para maiores esclarecimentos. Não se sabe de uma igreja ter sido fundada ali. Porém, no Areópago do Terceiro Milênio, a Internet, acontece o contrário. Os “gregos”, em cuja categoria se encaixam os místicos, espíritas, budistas, sem-igreja, filósofos e humanistas de toda espécie, estão absolutamente encantados com a mensagem de alguns pastores da atualidade. Quanto mais absurda a declaração e a mensagem, quanto mais distante da Verdade de Deus, quanto mais chocante à fé e à sã doutrina, mais holofotes.
Ricardo Gondim, com seu “deus” grego, secularizado e liberal, depois de dar uma entrevista à Carta Capital onde defende a união civil homossexual e diz que “nem toda relação homossexual é promíscua”, ainda assim contabiliza perto de 20.000 seguidores no Twitter.
Ed René Kivitz, para quem “Deus existe, mas nada faz sentido”, no ano passado teve seu texto “Os meninos da Vila pisaram na bola” republicado em diversos sites espíritas. Nele afirma, entre outras coisas:
"A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. (...)
Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião."
Leia agora o que um espírita Kardecista, Antônio Michielin escreveu a ele a propósito dessas colocações:
"É que, a doutrina espírita a qual eu professo, leciona a mesma forma de pensar, que é a sua e a do teólogo Boff, estando fora, portanto de nanicos ideais bélicos quão proselitistas."
Foi exatamente isso que ele entendeu do que leu. A propósito, na época em que foi escrito, procurei o autor do texto através do “fale conosco” do seu blog, questionando até mesmo a autenticidade do texto, mas nunca obtive resposta. Em uma entrevista no Missão Integral da Sepal, ele se disse “mal interpretado e perseguido”. Então tá. Nunca tive dúvidas de que “os adoradores de Allá, Shiva, Krishna e Buda” estão de um lado e os “adoradores de Jesus” estão de outro. Nunca tive dúvidas sobre a Bíblia ser o livro certo. Nunca tive dúvidas de que a ressurreição é uma verdade e a reencarnação é uma mentira. Mas agora, isso não é politicamente correto. Agora dizer isso é ser “fundamentalista”.
Estes “pastores” e outros na mesma linha são tratados como celebridades por onde passam. Sua mensagem é cheia de lógica, sofisticação e filosofia. Só não se pode dizer que seja, como a de Paulo, ”a palavra da cruz, deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus”
I Coríntios 1:18.
O Evangelho de Cristo é uma loucura, mas significativamente esta forma de enxergar a mensagem é atribuída aos que se perdem. Não há lógica na história da redenção, mas há um poder transformador que nunca poderão ser encontrados no discurso vazio, misturado e pós-moderno que esses púlpitos e mídias sociais andam despejando por aí.
Mas isso já é assunto para o próximo post.
Marcos Senghi Soares