quarta-feira, 15 de junho de 2011

O rei que almoçava com um cão morto

A indústria do Pet Care desenvolveu-se muito nos últimos anos. Chega a ser inacreditável o volume de dinheiro que se gasta com animais de estimação e os mimos são cada vez mais luxuosos e desproporcionais. Já é possível inclusive contratar um  Plano de Assistência Funeral para cães e gatos, que inclui serviço de velório com urna personalizada e até mesmo (pasmem!) um culto ecumênico em honra à memória do bicho morto. Quer dizer que "mundo cão" já não é mais tão ruim como já foi...

Retirados os exageros provenientes da imbecilidade humana, um cão morto não é nada mais do que isso: um cão morto. Algo sem valor prático ou utilidade, que não desperta o interesse de ninguém (salvo os donos da funerária canina). Não se faz nada com um cão morto. O máximo que se consegue fazer é ter dó. Claro que não é o caso de a gente ficar feliz quando vê um cãozinho ser atropelado ou mesmo morrer de velhice, mas o que fazer além de lamentar?

Houve alguém que já se autodefiniu exatamente como sendo... um cão morto! Rapaz, que modos de se referir a si mesmo. Um cão morto. Quer dizer, alguém sem qualquer valor ou utilidade.
Mefibosete se sentiu assim. Sua história está em II Samuel 9. Ele era aleijado (porque uma criada o derrubou do colo quando ainda bebê), a sua dinastia havia sido deposta por Deus, e pouca esperança restava para uma vida feliz. Quem se importava com alguém como ele?

Um dia Davi mandou chamá-lo. Queria que ele mudasse para Jerusalém e passasse a comer e beber no palácio. Coisa que, pelo menos naqueles tempos, nem um cão vivo teria direito, que se diria de um morto... Uma mudança e tanto na vida de Mefibosete. Passaria a ser alguém com valor.

Alguém se importou com ele, não obstante nada houvesse nele que pudesse ser de interesse. Simplesmente alguém o amou. Simplesmente mostrou graça. E ele nunca mais seria o mesmo. Sua vida seria revolucionada a partir daquele momento.

Você já se sentiu como Mefibosete? Você já foi "barrado" no baile"? Já se sentiu alguém sem valor, sem utilidade, desprezado? Na verdade, nenhum de nós tem mesmo qualquer valor. Somos como um caco de barro. Pior. Vamos encarar. Somos cães mortos.

Mas o Rei olha para nós. O Rei se lembra de nós. O Rei conhece o nosso nome e conhece a nossa história. Conhece tanto que mandou seu Filho para se tornar um de nós, e viver uma vida inteira sendo desprezado, sendo um de quem os homens escondiam o rosto e não faziam caso. Ele conhece a dor do desprezo e do abandono. Ele conhece o latejar da rejeição.

Ele não é o rei Davi. É o Rei dos reis. Sua graça é muito maior do que a de Davi. Sua graça revoluciona a nossa vida, tira-nos da lama do pecado e nos faz assentar nas regiões celestiais em Cristo. Isso faz com que a nossa existência ganhe razão e sentido.

Um dia desses visitei Petrópolis. Paguei R$ 10,00 só para olhar a casa onde morava o imperador. Se D. Pedro vivo, nem pagando R$ 10.000,00 eu poderia entrar. Eu dificilmente teria acesso ao palácio. Não faço parte da elite. Não tenho sangue azul. Não tenho sobrenome famoso.

Não faz mal. Eu me assento no palácio do Soberano do Universo. O Rei me recebe não porque sou importante, mas porque ele me ama. Sou querido nas mansões reais. E um dia vou morar lá.

Um cão morto como eu.


Publicado em irmaos.com em 22/10/2001

Um comentário:

  1. Você acha o Plano de Assistência Funeral para cães e gatos um absurdo?

    Pois saiba que nos USA existe um petshop que você paga para eles cuidarem do seu cão ou gato depois do arrebatamento. Nesse petshop não existem funcionários cristãos. O próprio dono não crê no arrebatamento, mas mesmo assim, ele garante que está com toda a estrutura para cumprir o combinado.

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