quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Atos de Bravura


O livro de Atos é o melhor tratado sobre a vida prática da Igreja que jamais foi escrito.
Nada supera o valor e a inspiração destas páginas. Se uma igreja em nosso tempo realmente quer ter sucesso, ela necessariamente terá que se debruçar sobre este livro e ouvir a voz de Deus falando de maneira inconfundível. Ouvimos os gurus eclesiásticos enquanto podemos beber direto da fonte.
Atos não é uma coletânea de histórias motivacionais. Também não é um manual de crescimento da igreja, como tantos que estão sendo escritos e abarrotando nossas prateleiras. Não é uma fórmula secreta para a plantação de megaigrejas. É muito mais do que isso. É a história dos Atos do Espírito Santo agindo através de improváveis discípulos. Conta como foi possível cumprir a Grande Comissão a partir de um grupo de 120 pessoas, que cresceu a ponto de incomodar o Império Romano.
Em tempos de pragmatismo e estatísticas, muitos se voltam para o mais recente modelo de gestão eclesiástico e seus infalíveis métodos orientados para resultados. Entenda-se “resultado” da mesma forma como uma empresa enxerga seus consumidores. Mais gente “na parada”, contribuindo, aplaudindo, tornando os nomes de seus líderes célebres. Quem olhar para o livro de Atos esperando mais um desses vai se decepcionar. Não encontraremos ali um case de sucesso em propaganda e marketing. Houve problemas e falhas. Houve acidentes de percurso. Há relatos de racismo, de exclusivismo, de falsas conversões, de charlatanismo e mentiras, tudo isso no seio da igreja.
Além disso, houve perseguições e privações. Encontramos dois apóstolos sem dinheiro até para uma esmola. Houve apedrejamentos e execuções contra os líderes. Em momento algum Atos relata uma vida mansa por parte daqueles que estavam comprometidos com o projeto em execução.
E nunca houve, em toda a História do Cristianismo, uma época como aquela. Por isso o Espírito Santo inspira Lucas para registrar aqueles acontecimentos. E por isso, logo cedo os pais da Igreja reconheceram este livro como Escritura. Seu valor é inestimável. Se não é uma “receita de bolo para fazer nossa igreja funcionar”, é uma referência para a Igreja em todos os tempos e culturas. A Igreja Primitiva é uma espécie de padrão a partir do qual todas as demais podem ser aferidas, em todas as áreas. Aprendemos até com suas falhas.
Temos muito a ganhar ao estudar a Igreja do Século 1 para compará-la à Igreja do Século 21. Aprenderemos lições importantíssimas do que é a Igreja que agrada, que ouve e que anda de mãos dadas com o seu Senhor.
Atos é leitura obrigatória para quem ama a Deus e à sua Igreja. Mas é preciso ter coragem para conhecer os atos de bravura dos nossos primeiros irmãos. Porque nenhum cristão sério vai conseguir permanecer impassível diante do que vai ver em suas páginas. As sementes ali plantadas precisam continuar florescendo.
E então, está pronto para aceitar o desafio?
Marcos Senghi Soares
Participe do curso Panorama de Atos onde você pode obter uma visão geral do contexto histórico, da vida e ministérios dos apóstolos e do início da Igreja, está disponível na área de ensino a Distância da SEPAL. Clique aqui para conhecer o curso.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Teologia do Choro

Ao longo da vida você vai descobrindo que o choro, assim como a morte, nos nivela, nos iguala, nos coloca debaixo da mesma situação. O choro é democrático. 

Choramos quando percebemos que não temos resposta, que não temos saída. Choramos quando temos medo, ou quando estamos com raiva, ou tristes ou quando alguma coisa não saiu conforme o esperado. Choramos quando nos sentimos impotentes diante de uma situação. Quando percebemos que as circunstâncias estão fora do nosso controle, que não temos força para reverter o quadro. É quase um ato de entrega. É o reconhecimento da nossa limitação, na nossa pequenez, da nossa vocação para poeira. A gente veio do pó. Choramos porque somos humanos, porque somos normais.  

Descobri que podemos chorar até mesmo sem derramar lágrimas. Teve um salmista que chorou tanto que suas lágrimas secaram. Não caíam mais. Seu coração continuava partido, ele se achava confuso, ainda não sabia o que fazer e nem chorar mais conseguia.  Davi, acuado, perseguido e fugindo de Saul, disse uma coisa fantástica no Salmo 56:“Contaste os meus passos, quando me perseguiram; guardaste as minhas lágrimas no teu odre: não estão elas no teu livro?” Uau! Quer dizer que o Deus dos céus, com tudo o que tem para fazer e com que se preocupar todo dia, pára o que está fazendo quando eu choro, e manda que recolham os pingos que caem dos meus olhos, recolhe na sua vasilha e anota no seu livro? É linguagem poética, eu sei. Mas que linguagem! 

Além disso, ele conta os meus passos. Ora, para alguém contar os meus passos, ele precisa estar comigo. Tem que estar próximo, tem que acompanhar. Há alguém aí que conhece e crê num Deus assim? Isso nos remete à oração de Habacuque: “Ainda que a figueira não floresça, que a vide não dê o seu fruto, ainda que o produto da oliveira minta e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho não... ainda que o curral não... ainda que a bolsa de valores não... ainda que o emprego não... ainda que os irmãos não... ainda que a igreja não... ainda que meus sonhos não... ainda que minha saúde não... ainda que meus pais não... ainda que minha esposa não... ainda que meus filhos não... ainda que o faturamento não..., TODAVIA eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação”.  Não importa se a vida nos pregou algumas peças. Não importam as decepções e angústias. Não importa o que nossos velhos amigos fazem, fizeram ou farão. Não interessa se expectativas se frustraram. Não importa o que dizem os jornais, nem o noticiário da TV. Não importa o que as pessoas dizem de nós. Eu posso ter certeza de que após os mais sombrios e pessimistas “AINDA QUE” sempre haverá um glorioso e retumbante “TODAVIA”. 
Outra vez citando Davi: “Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã”. Desde que Deus criou os luzeiros, o sol nasce e o sol se põe e depois nasce de novo. Sempre há um novo dia. E nada como um dia depois do outro. É no novo dia que Deus traz à luz os seus “TODAVIAS”, com todo o poder que eles têm de nos dar alento e nos manter de pé.

Marcos Senghi Soares
Publicado originalmente em irmaos.com

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A recompensa da fé

Há décadas surgiu no meio da igreja cristã a teoria da prosperidade. Entre brados de vitória e declarações triunfalistas, passou-se a considerar o Evangelho e a fé como senhas secretas para acessar o mundo de benesses celestiais. Bênção de Deus passou a ser sinônimo de riqueza, prosperidade, saúde e luxo. Seja fiel e Deus vai te abençoar.


No entanto, esta teoria não encontra eco nas Escrituras. Deus nunca prometeu nem insinuou que seremos abençoados em função dos méritos da nossa fidelidade. Ele nos ensina a sermos fieis por nosso temor a Ele, nunca de olho no benefício.


O que dizer das pessoas que perderam a própria vida por sua fidelidade? É que ensina, por exemplo, Hebreus 11:35-39.  Não receberam em troca, nesta vida, a bonança e a prosperidade material. Bem diferente disso, diz o texto que:

·         Foram torturados
·         Passaram por escárnios, açoites, algemas e prisões
·         Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos ao fio da espada
·         Andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras
·         Foram necessitados, afligidos e maltratados.

E não. Não passaram tudo isso porque não eram dizimistas fieis ou porque não sabiam fazer a confissão positiva. O texto prossegue dizendo que “o mundo não era digno deles”, tamanha a grandeza do seu testemunho de fé.


O Senhor não nos abençoa por causa de nossa fidelidade, mas por causa de sua graça. A grande questão talvez esteja no nosso conceito de “bênção”. Se ele não estiver ligado com o conceito de Deus, sempre teremos dificuldade com nosso sistema de mérito e obras.

Marcos Senghi Soares