Escrevi esse texto em fevereiro de 2010, quando era colunista de irmaos.com. Parece-me que ele permanece tão verdadeiro como naquela época. Houve quem o odiasse. Leia e tire suas conclusões.
Faz tempo que formei uma opinião sobre o BBB. Achava que era uma coisa estúpida, sem sentido, sem proveito. Na minha coluna semanal defini esses reality shows como “o supra-sumo da imbecilidade humana” afirmando que em tais programas “uma meia-dúzia de desocupados expõem sua intimidade, em tudo o que tem de pior, para serem assistidos por uma massa ignara não menos desocupada” (Fama e Sucesso, maio de 2007).
Hoje penso um pouco diferente. Fui injusto em minha análise. Cáustico. Intolerante. Os tempos mudam, a gente evolui, vive novas experiências, se recicla. Opiniões não podem ser definitivas. Elas precisam seguir seu curso.
Sim, porque comparado com o que temos hoje, a podridão de três anos atrás era comparável a programa infantil. E, como se não bastasse o zoológico humano Global, hoje existem outras opções, até mesmo na TV Record, cuja proprietária é uma igreja “evangélica”. Seus apresentadores estão ainda mais cabeças-ocas, seu público ainda mais entorpecido. Como é possível a um país se permitir que uma asneira fétida como essa entre nos lares das pessoas todos os dias? Como se explica que alguém abra sua casa para receber esta porcaria? Como não se proibir que alguém leve o dinheiro suado de tantos telespectadores incautos para sustentar esta máquina de iniqüidades?
Um programa que não tem nada a acrescentar, a não ser procurar por todos os meios legitimar o erro, fazer apologia do pecado, enfiar goela abaixo da sociedade que o errado é certo e o certo é errado. O profeta Isaías, inspirado por Deus, já falava a respeito do BBB: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz escuridade; põem o amargo por doce, e o doce por amargo.”(Isaías 5:20). Ou seja, ai daqueles que invertem valores, subvertem conceitos e ridicularizam os absolutos. Se não por estes motivos, só pelo vazio cultural e intelectual, tenho acompanhado críticas ferinas até mesmo de pessoas que nem conhecem a Deus a propósito do tema.
Podem me chamar de xiita, fundamentalista, atrasado, fechadão. Não sou de ficar em cima do muro. Um cristão que se presta a parar por um minuto que seja para assistir a este show de horrores social, ético, moral e espiritual precisa questionar sua fé. Não é razoável imaginar que haja qualquer coisa a fazer diante da TV num momento em que se faz propaganda de tudo o que não presta, embalado na diabólica aparência de pensamento moderno, de tolerância e de modelo ideal de convivência humana. Vejo cristãos ao final dos cultos comentando não a mensagem que ouviram, o louvor que prestaram, mas preocupados em qual será o próximo eliminado, quem merece ganhar o prêmio ou o que disse fulano ou beltrano. Será isso normal?
É incrível como chegamos a um ponto em que o Evangelho não precisa mais fazer nenhuma diferença na vida prática. A gente vai aceitando tudo com uma passividade assustadora. Hoje já é muito, mas muito mais fácil encontrar “cristãos” que podem dizer o nome de todos os participantes da “casa famosa” do que citar o nome dos doze apóstolos. Sim, dizem eles, o que mudaria a minha vida em saber isso? Como isso faria a minha vida melhor? Meus caros amigos, se não servisse para nada, ainda assim seria melhor gastar o tempo conhecendo as histórias da Bíblia do que encher a nossa cabeça com aquilo que Efésios 5 chama de “as obras infrutíferas das trevas”. Este texto é fantástico, porque nos ensina a reprovar estas coisas, argumentando que “o que eles fazem em oculto o só referir é vergonha”. (Efésios 5:11-12). Acho que esta página foi arrancada da Bíblia dos cristãos do século 21. Agora, não apenas eles contam com orgulho, mas fazem questão de assistir, aplaudir e até participar. Se pudessem, estariam lá em pessoa.
Se deveria haver uma reserva de resistência contra a avassaladora campanha dos meios de comunicação contra tudo o que se chama Deus, esta deveria se achar entre aqueles que servem a Deus. Pelo andar da carruagem, por aqui a proposta de nadar contra a maré soa mal. Não empolga. A ideia de sermos uma contracultura, cujos valores são absolutamente inversos aos da maioria que nos rodeia está perdendo força. O conceito de “Reino”, que é exatamente um povo separado, com um DNA exclusivo, com uma marca no coração que os torna diferente de tudo o que existe, definitivamente está ficando para trás.
Observe que estou defendendo o conceito de REINO, não o conceito de GUETO. Não sou favorável a um pseudocristianismo encastelado, que usa um linguajar ininteligível e que leva uma proposta de preservar e impor uma herança meramente cultural sobre os não-salvos, como se isso fizesse deles pessoas aptas para o céu. Entendo bem que para alcançarmos a nossa geração precisamos conhecê-la, nos aproximar dela e falar de maneira que elas entendam. Tudo é válido para se conseguir isso. Menos assimilar justamente os valores contra os quais o Reino de Deus se levanta. Isso não faz parte da missão da igreja.
Não se esqueça jamais de uma coisa: o poder da mídia é incalculável. Ela impõe conceitos, rotula opiniões, encarcera pudores, redefine valores, autentica safadezas, legitima ilícitos. Engana-se miseravelmente quem subestima sua influência. A mídia é insaciável nos seus interesses e devastadora nos seus resultados. No geral, ela é manipulada, controlada, paga e serviçal a pessoas que não tem o mínimo interesse em preservar e salgar. Muito ao contrário, para ela, quanto pior melhor.
Se é assim, porque você que é súdito do Rei dos reis vai se deixar levar pelos seus tentáculos e permitir que ela molde seu coração e sua mente? Por que vai continuar dando espaço para que o diabo continue enchendo sua vida de forma a acostumá-lo com o padrão dominante?