Ninguém põe remendo de pano novo em veste velha;
porque o remendo tira parte da veste, e fica maior a rotura. Nem se põe vinho
novo em odres velhos; do contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho, e
os odres se perdem. Mas põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se
conservam. (RA)
O ser humano resiste às mudanças.
Trabalhei no departamento de sistemas de uma empresa de porte médio no final dos anos 80. Como foi difícil convencer os antigos compradores, contadores e chefes de recursos humanos que os resultados dos computadores eram, sim, confiáveis. Embora no começo o trabalho fosse grande, as conferências parecessem intermináveis, quando tudo estivesse implantando e funcionando redondinho, o trabalho poderia ser feito em muito menos tempo. Mas ninguém queria dar o braço a torcer. Eles tinham trabalhado na ponta do lápis durante toda a sua vida e sempre funcionou. Por que é que agora uma meia dúzia de iluminados (como nos chamavam) achava que ia conseguir fazer melhor? Naquela época no Brasil nem se falava em computador pessoal, o PC. Toda essa briga era para conseguir processar os dados dos diversos departamentos em mini-computadores, cujas CPU´s ficavam numa sala com ar condicionado. Quando caía a energia era uma correria para abanar o bicho, senão ele torrava. Os back-up´s eram enormes panelões que se guardavam em cofres. Depois de árduas batalhas, quando os antigos estavam quase se dobrando, começaram a aparecer os pequenos micros de mesa. Ai, ai, ai! Começou tudo de novo. Eram pilhas de reclamação, de gente com medo de perder o emprego, de acomodados que não queriam aprender como lidar com aqueles "monstros". A gente se sentia ator de filme de ficção. Fico imaginando o sorriso irônico no rosto de quem está lendo esta coluna em pleno século 21. Contar isso para essa geração Internet é certeza de ouvir piadinhas do tipo: "Ei, tio, faz tempo isso, hein?". "Ah! Isso é história do século passado!!" A gente se sente pré-histórico. Mas quem viveu esta época saberá aquilatar a importância e a dificuldade da mudança. Esta é a principal lição de "remendar roupa velha com tecido novo". A roupa velha já "laceou" o que podia, não estica mais. Já o pano novo ainda consegue e até pede. Eles não combinam. Um vai acabar tirando o espaço do outro. E no fim, todos perdem. É como guardar vinho fresco em embornais de couro que já estão curtidos. Dá rachadura, rompe o frasco e o vinho se derrama. Quando se limita o coração e a cabeça, fica difícil colocar alguma coisa nova ali. Quando uma cabeça já esticou ao máximo, já deu o que tinha que dar, já chegou no limite, é preciso trocar de cabeça. Cristo está sugerindo a necessidade de uma mentalidade que se possa renovar. Esta é uma característica que fascina no cristianismo. Porque cristianismo não é algo estático, inerte, pusilânime. Isto não tem nada a ver com cristianismo. Cristianismo é coisa de quem tem flexibilidade. É coisa de quem percebe o tempo passar não apenas para ficar contando histórias saudosistas, mas para ter coragem de reconhecer que chegou a hora de arrumar um odre novo para colocar o vinho novo. Odres que nos serviram durante um tempo às vezes precisarão ser abandonados hoje. Caso contrário, perderemos a chance de experimentar coisas novas que Deus tem preparado para nós. Deus, sábio como é, não vai permitir que a sua novidade se estrague, derramando-a sobre as nossas vidas, se nossa mentalidade são odres velhos, já suficientemente esticados, que precisam ser substituídas por algo novo. Este é um momento delicado. Pode passar a falsa impressão de que tudo o que se fez não valeu nada; de que estamos desprezando o trabalho dos outros. Mas lembre-se de que não são as pessoas que estão pedindo isso de nós. Quem está pedindo isso é Deus. Ele quer uma transformação que venha pela RENOVAÇÃO da nossa mente. Deus criou um mundo que não pára. Estamos sempre em movimento. A vida continua, companheiros cristãos. O trem da história não parou ainda. Também não nos esqueçamos de que tudo o que hoje é velho um dia já foi novo. Tudo o que é tradicional, um dia esteve nos seus primeiros dias. E o que hoje chamamos de novidade, um dia não servirá mais. A lição não é só para quem hoje não consegue se livrar do velho de ontem, mas também para os que amanhã não conseguirão se livrar do novo de hoje. Não nos apeguemos demasiadamente ao odre. Quem se agarra ao odre, deixa de experimentar o vinho. O odre é a estrutura, o método, o jeito de fazer, a forma, o chamado modus operandi. Não é isso que importa. Não é por isso que vale a pena brigar. Isto tudo é odre. O que interessa mesmo é o vinho. Enquanto muita gente briga e se divide por causa do odre, tem outros bebendo vinho estragado. Enquanto alguns brigam por causa da cor do remendo, não percebem que a roupa está se rasgando e expondo o corpo nu à vergonha desditosa. Vamos concentrar no que interessa. Sejamos genuinamente cristãos, dispostos a receber vinho novo. Lembre-se de que o Senhor trabalha na contramão, no imprevisível. Normalmente, o vinho para ser bom precisa ser velho e o melhor vinho fica para o fim. Quando, porém, Cristo transforma água em vinho nas bodas de Caná, os elogios para o noivo foram no sentido de que o vinho novo estava melhor. Se deixarmos Deus derramar seu vinho novo sobre as nossas vidas, poderemos experimentar a realidade nunca vista de um cristianismo autêntico, eficiente, dinâmico e real. Se, no entanto, continuarmos a discutir por causa dos odres, nunca teremos esta experiência. Nunca foi grande negócio tentar limitar Deus à nossa visão pequena, ao nosso odre antigo, à nossa roupa velha e rasgada. Sabe o que aconteceu quando, finalmente, conseguimos informatizar a empresa? Tornamo-nos a 3ª maior do país no nosso ramo de atividade. Foi o maior boom, o período mais próspero e auspicioso de uma empresa que já existia há 20 anos. Valeu a pena insistir e investir na mudança de mentalidade. |
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Histórias para a vida (5) - O eterno dilema entre o velho e o novo
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Excelent post!!
ResponderExcluirA Igreja necessita, cada dia mais, de uma "renovação no entendimento". Muitos estão perdendo a oportunidade de experimentar a "boa, perfeita e agradável vontade de Deus", por estarem agarrados e limitados aos odres velhos.