Na semana passada passei por um daqueles sustos a que estão
sujeitos todos aqueles que, por um motivo ou por outro, precisam viajar
bastante. Uma decolagem abortada no fim da pista de Viracopos quase levou 200
pessoas para a eternidade, entre as quais estava eu. Alguns entraram em pânico,
foi um susto geral.
Por isso tudo, acabei perdendo a conexão que me levaria ao
destino e voltei para casa. Feliz por estar vivo, mas frustrado por não ter
conseguido cumprir o compromisso agendado há meses com o pessoal de Rondônia.
Duas lições me vieram à mente. Compartilho com meus
leitores, porque poderão ajudá-los a refletir, como eu, sobre questões
importantes da vida. A primeira é que, simplesmente, não temos controle de nada
nessa vida. A gente acha, ingênua ou vaidosamente, que cuidamos na nossa
agenda, dos nossos compromissos, do nosso planejamento. Quando percebi que iria
“furar” com mais de 60 líderes de todo o estado que estavam se dirigindo para
Jaru/RO, lembrei-me do texto de Tiago 4:13-15:
“Ouçam agora, vocês que dizem:
"Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali,
faremos negócios e ganharemos dinheiro". Vocês nem sabem o que lhes
acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por
um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: "Se
o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo".
Não é porque você está fazendo a obra de Deus que você pode
achar que está no controle de alguma coisa. Uma simples neblina (que no meu
caso foi literal) pode afetar toda uma programação. Não somos capazes de
controlar o tempo, nem o tráfego aéreo, nem o que vai acontecer amanhã. Para
dizer a verdade, de uma forma bastante humana, a gente não é capaz de controlar
nem o próprio intestino! Se ele resolver funcionar em momento inconveniente,
estamos roubados! Nossa vida está nas mãos de Deus. Não nas nossas próprias.
Ainda bem.
A lição até aqui já seria suficiente para me envergonhar
bastante. Mas quando abri a Bíblia para ler o texto in loco, levei um susto. Veja bem o que diz o versículo seguinte, a
respeito dessa idéia tosca de achar que controlamos alguma coisa na vida:
“Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna”.
Só isso ou quer mais? Quem acha que controla a vida está
agindo com pretensão maligna. Só me restou pedir perdão por agir assim.
A outra lição veio quando uma amiga me perguntou se eu tinha
“repensado a vida” durante aqueles segundos e se eu iria mudar alguma coisa em
função da experiência. Fiquei surpreso com a minha própria resposta, mas
passados alguns dias do ocorrido, creio que respondi o que realmente penso. E a
resposta é “não”. Talvez pela primeira vez na curta soma dos meus dias eu pude
dizer que, caso tivesse partido para a eternidade, teria seguido feliz por
estar fazendo exatamente aquilo que gostaria de fazer até o fim da minha vida:
treinar líderes para o Reino de Deus.
Não tenho medo da morte, embora queira ficar vivo o maior
tempo que me for concedido. Acima de tudo, tenho medo de viver fazendo aquilo
que não seja o propósito de Deus para mim. A vida frustrada é o jeito mais
trágico de morrer.
Sou grato a Deus por ter-me dado a nova oportunidade de
encontrar Sua vontade e por me dar a cada dia a graça de poder cumpri-la,
apesar de mim e todas as minhas falhas e limitações.