Estamos assistindo à chegada de
uma tendência nova, insuflada pelos ventos da pós-modernidade: agora é proibido
ter convicções. A palavra do momento é “duvidar”. Duvide de tudo: de seus pais,
do governo, da mídia. Na mesma esteira, chegou também a onda de duvidar de
Deus e de Sua Palavra.
Um dia desses, estava conversando
com uma pessoa que se dizia maravilhado com a “nova forma de pensar” que estava
aprendendo com o seu “pastor”. Segundo ele, o nosso problema (traduzindo,
daqueles que ainda acreditam na Bíblia como a Palavra de Deus) é que nós
precisamos aprender a “ler a Bíblia com
outros óculos”. O garoto me disse que eu tinha “medo de fazer perguntas”. Outra
vez, alguém achou brilhante a frase “quando tudo o que você sabe sobre Deus não resolve
mais e o novo ainda não chegou” para dizer que a fé que aprendemos de nossos
pais não é suficiente para aquietar o nosso coração.
Mais recentemente, alguém
comentou comigo que estava se sentindo um peixe fora d’água no meio dessas
pressões, porque volta e meia alguém lhe diz, em tom jocoso, que ele tem “mais
convicções do que perguntas”. Como se isso fosse um crime.
Ouvi isso muitas vezes e confesso
que cheguei a me perguntar se eles não tinham razão. Isso porque os ataques vêm
embalados numa falácia sutil: quando você diz ter alguma convicção, eles retrucam,
com ares de pretensa humildade: “mas quem
pode dizer que sabe alguma coisa? Isso é coisa de gente enfatuada, de
‘religiosos’. O certo agora é ter muitas dúvidas, muitas perguntas.
Na mesma conversa daquele rapaz
que está atrás de óculos novos, ele compartilhou o que considerava uma
extraordinária descoberta exegética do seu pastor filósofo: o tal “mestre”
afirmou do púlpito que, ao ajoelhar-se, o homem está
exercendo o maior papel que um ser humano pode assumir: o de adorador. De
joelhos, você é homem de verdade. Até
aí, nenhuma novidade. O “extraordinário” viria a seguir: “me arrisco a dizer”,
completou o pregador, “que quando você se ajoelha para orar não importa nem para
quem você está orando; o que interessa é que você está exercitando a sua
espiritualidade”.
Quando respondi que Isaías 44 não
chama isso de “nobre exercício de espiritualidade”, mas de idolatria vã, a
resposta foi: “Mas será que é mesmo isso
que Deus quis dizer”? Ou seja, a mesma pergunta feita pelo primeiro teólogo
liberal da História, a serpente no Éden, ecoava agora nos lábios de um menino
recém saído das fraldas, que não sabe a diferença entre a mão direita e a mão
esquerda, mas que resolveu beber da fonte errada.
Depois, peguei a minha Bíblia e
fui ler o que o apóstolo João escreveu na sua segunda carta. Se esse povo tem
razão, então esse apóstolo era um tremendo falastrão, um religioso enfatuado
que achava que era melhor do que os outros. Senão, o que o teria levado a
escrever na sua primeira carta por OITO VEZES (leia por si mesmo os textos a
seguir: I João 2:3; 2:5; 3:2; 3:14; 5:15; 5:18; 5:19; 5:20) a expressão
“SABEMOS”. Isto é dúvida ou convicção?
O mais curioso nessa história é
que esses mesmos que pregam a dúvida e o questionamento não admitem ser
questionados. O mesmo falso profeta que “ensinou” essa bobagem a respeito de
“espiritualidade”, quando questionado por mim em um desses fóruns de debate a
respeito de algumas de suas posições teológicas, saiu-se mais ou menos assim: “sua
pergunta não é importante. Eu não preciso explicar o que escrevo nem o que digo”.
Outro, quando percebeu que alguns
leitores discordavam de uma postagem sua no Facebook , simplesmente DELETOU e
BLOQUEOU todos os contrários, deixando
apenas os comentários elogiosos. Então, é para questionar, mas só eles podem
fazer as perguntas.
Será possível que em 20 séculos
de História da Igreja, ninguém tinha percebido o que essa gente “descobriu”
agora? E afinal, o que estão realmente questionando? Alguns estão tentando
fazer com que a Igreja volte ao Judaísmo; tem gente querendo ser circuncidado,
guardar o sábado, tentar cumprir a lei. Outros, querem ressuscitar a mentira do
Universalismo (dizendo que “o inferno existe, mas está vazio, porque Deus não
vai deixar ninguém lá”). Outros querem que você creia em um deus fraco. Um
deles pregou em uma conferência de uma [até então] renomada instituição de
formação de líderes que a idéia de um Deus Todo-poderoso é alheia ao Evangelho,
porque esse tipo de “deus” é um deus grego. Alguns, mais ousados, combatem a
inerrância das Escrituras e sua autoridade normativa.
Então é isso que querem
questionar? Ah, bom. Aí fica mais fácil de entender. Porque essas coisas sempre vinham da parte daqueles a quem conhecíamos (corretamente) como os “descrentes”; agora vem daqueles que estão nos púlpitos dos "crentes". Eles precisam decidir de que lado estão.
Eu não sei tudo. Há muitas
perguntas para as quais não tenho resposta. Não sou melhor do que ninguém. Mas
não tenho medo de ter convicções. Inclusive porque são elas que me mantém de pé
quando enfrento momentos de dúvida e incerteza. Existem algumas coisas sobre as
quais eu não quero duvidar. Elas são a âncora da alma de quem conhece a Deus
experimentalmente, não por ouvir dizer.
Não abro mão dessas verdades.
Pedro, embora ainda tivesse muito que aprender quando disse essas palavras,
falou o que eu sinto igualmente: “Para
quem iremos, Senhor? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e
conhecido que tu és o Santo de Deus” (João 6:68-69). É aí que está a
diferença: quem diz que crê mas não conhece, está sempre em dúvida.
O que a gente precisa fazer é decidir
de que lado a gente está: dos que crêem, ainda que não compreendem tudo, ou dos
que duvidam de tudo, apesar de saberem tanto.
Marcos Senghi Soares