terça-feira, 21 de junho de 2011

Orientação

Todas as manhãs de segunda a sexta, exceto feriados, saio para uma caminhada de uma hora. Faz parte da fase da consciência integral: cuidar do corpo, da alma e do espírito...

Nessas caminhadas, próximas a duas rodovias em Piracicaba, é comum ser abordado por motoristas pedindo informações sobre seu caminho. Hoje aconteceu duas vezes: o motorista de um caminhão carregado e um rapaz num carro de passeio. O primeiro deveria seguir em frente e virar à direita. Ao receber a orientação, agradeceu e fez exatamente o que lhe disse para fazer. O outro estava indo na direção oposta de onde queria chegar. Orientei-o a fazer um contorno logo à frente e em menos de 5 minutos estaria lá. Para minha surpresa, ele agradeceu e... seguiu em frente, afastando-se mais e mais a cada metro do seu destino.

Não sei o que leva uma pessoa a pedir informação, descobrir que está indo na direção errada e seguir no mesmo caminho. Parece insano. Você se sente com “cara de tacho”: “Ué, por que parou para perguntar?” Que perda de tempo!

É que alguns de nós talvez possam se lembrar de momentos em nossa caminhada quando fizemos exatamente isso com Deus. Perguntamos a Ele o que era para fazer, qual o caminho seguir, que decisão tomar, apenas para depois continuar fazendo o que já íamos mesmo fazer. Não é uma loucura? Quando agimos assim, vamos nos distanciando cada dia mais do destino desejado. Chega uma hora em que estaremos tão perdidos e atrasados que fica difícil corrigir.

Quando não souber o que fazer e tomar a atitude correta de consultar o Senhor, ouça bem o que Ele disser e faça exatamente o que ouviu.

Em pouco tempo você chega lá.

Marcos Soares

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O rei que almoçava com um cão morto

A indústria do Pet Care desenvolveu-se muito nos últimos anos. Chega a ser inacreditável o volume de dinheiro que se gasta com animais de estimação e os mimos são cada vez mais luxuosos e desproporcionais. Já é possível inclusive contratar um  Plano de Assistência Funeral para cães e gatos, que inclui serviço de velório com urna personalizada e até mesmo (pasmem!) um culto ecumênico em honra à memória do bicho morto. Quer dizer que "mundo cão" já não é mais tão ruim como já foi...

Retirados os exageros provenientes da imbecilidade humana, um cão morto não é nada mais do que isso: um cão morto. Algo sem valor prático ou utilidade, que não desperta o interesse de ninguém (salvo os donos da funerária canina). Não se faz nada com um cão morto. O máximo que se consegue fazer é ter dó. Claro que não é o caso de a gente ficar feliz quando vê um cãozinho ser atropelado ou mesmo morrer de velhice, mas o que fazer além de lamentar?

Houve alguém que já se autodefiniu exatamente como sendo... um cão morto! Rapaz, que modos de se referir a si mesmo. Um cão morto. Quer dizer, alguém sem qualquer valor ou utilidade.
Mefibosete se sentiu assim. Sua história está em II Samuel 9. Ele era aleijado (porque uma criada o derrubou do colo quando ainda bebê), a sua dinastia havia sido deposta por Deus, e pouca esperança restava para uma vida feliz. Quem se importava com alguém como ele?

Um dia Davi mandou chamá-lo. Queria que ele mudasse para Jerusalém e passasse a comer e beber no palácio. Coisa que, pelo menos naqueles tempos, nem um cão vivo teria direito, que se diria de um morto... Uma mudança e tanto na vida de Mefibosete. Passaria a ser alguém com valor.

Alguém se importou com ele, não obstante nada houvesse nele que pudesse ser de interesse. Simplesmente alguém o amou. Simplesmente mostrou graça. E ele nunca mais seria o mesmo. Sua vida seria revolucionada a partir daquele momento.

Você já se sentiu como Mefibosete? Você já foi "barrado" no baile"? Já se sentiu alguém sem valor, sem utilidade, desprezado? Na verdade, nenhum de nós tem mesmo qualquer valor. Somos como um caco de barro. Pior. Vamos encarar. Somos cães mortos.

Mas o Rei olha para nós. O Rei se lembra de nós. O Rei conhece o nosso nome e conhece a nossa história. Conhece tanto que mandou seu Filho para se tornar um de nós, e viver uma vida inteira sendo desprezado, sendo um de quem os homens escondiam o rosto e não faziam caso. Ele conhece a dor do desprezo e do abandono. Ele conhece o latejar da rejeição.

Ele não é o rei Davi. É o Rei dos reis. Sua graça é muito maior do que a de Davi. Sua graça revoluciona a nossa vida, tira-nos da lama do pecado e nos faz assentar nas regiões celestiais em Cristo. Isso faz com que a nossa existência ganhe razão e sentido.

Um dia desses visitei Petrópolis. Paguei R$ 10,00 só para olhar a casa onde morava o imperador. Se D. Pedro vivo, nem pagando R$ 10.000,00 eu poderia entrar. Eu dificilmente teria acesso ao palácio. Não faço parte da elite. Não tenho sangue azul. Não tenho sobrenome famoso.

Não faz mal. Eu me assento no palácio do Soberano do Universo. O Rei me recebe não porque sou importante, mas porque ele me ama. Sou querido nas mansões reais. E um dia vou morar lá.

Um cão morto como eu.


Publicado em irmaos.com em 22/10/2001

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Rui Barbosa, analfabeto!

Amigos, uma das maiores inteligências deste país foi, sem dúvida, Rui Barbosa. Alcançou notoriedade internacional ao discursar brilhantemente em Haia, sendo por isso mesmo apelidado de "O Águia de Haia". Escritor, senador, homem brilhante, no final da vida foi perdendo gradativamente a visão. Um dia, tentava enxergar o letreiro do bonde que descia rua abaixo e mesmo com muito esforço não conseguia decifrar o destino do coletivo. Perguntou, então, a um homem que estava ao seu lado: "O senhor poderia me dizer para onde vai aquele bonde?" O homem respondeu incontinenti: "Desculpe, amigo, eu também sou analfabeto, igual ao senhor"...

É brincadeira? Chamar o grande Rui Barbosa de analfabeto, só porque ele não conseguiu ver o letreiro? Pois é, é a velha mania de julgar os outros pelo seu próprio contexto. Achar que todo mundo padece dos mesmos males que a gente. Se ele não consegue ler, é porque não sabe ler. Dedução rápida, lógica, porém absurda, especialmente naquele caso.

Não é assim que agimos, com freqüência? Não é verdade que julgamos os outros baseados em nossas próprias atitudes, preconceitos e idiossincrasias? O marido infiel sempre desconfia da esposa, mesmo que ela lhe seja fiel. Por quê? Porque acha que ela está agindo como ele age quando está sozinho. O desonesto sempre vê perigo quando negocia. Por quê? Porque pensa que todos são trapaceiros como ele. O mentiroso desconfia da palavra de todo mundo, porque acha que todos mentem como ele. Quem costuma dar indiretas, acha que todo mundo está mandando recado prara ele. E assim por diante. Muitas vezes, com a base falsa da nossa própria realidade falida, emitimos julgamentos precipitados, que podem inclusive denegrir e até destruir a reputação e a honra de uma pessoa.

Seria melhor que antes de darmos nosso "veredicto" sobre uma pessoa, a gente tivesse um pouco mais de maturidade. Às vezes pode ser que o nosso "mundinho", o curral apertado onde confinamos nossa experiência de vida, é pequeno demais, é mesquinho demais. Por isso, quando reduzimos os outros
aos mesmos padrões de mediocridade e estagnação que nós (simplesmente porque não se conformaram com um universo tão restrito para suas vidas), cometemos tremendas injustiças no julgamento.


Acabamos achando que o Rui Barbosa é um iletrado.