A vida de Davi pós-Golias foi
cheia de aventuras desagradáveis. Nada era fácil para
Davi que, de verdade, nunca tinha pedido aquela vida. Ele estava tranquilo no
campo, cuidando das ovelhas de seu pai, tocando harpa e compondo suas canções.
De repente, ele é ungido por
Samuel; daqui a pouco vira herói de guerra, é convidado para trabalhar no
palácio e da noite para o dia vira o comandante do exército do seu país. O que
tinha tudo para ser um roteiro perfeito para o estrelato, a fama e o sossego,
acabou jogando o ex-pastorzinho no olho de um furacão terrível, chamado Saul.
Sua vida nunca mais seria a mesma. É verdade, ele seria o melhor rei da
história de Israel. Mas antes disso, mais de uma década de espera, regada a
muito sofrimento.
Sua atitude diante das
adversidades, registrada nos salmos que ele continuou compondo nessa época, é
digna de nota. Aprendemos lições preciosas sobre como reagir às coisas desagradáveis
que a vida nos reserva, lendo os hinos que ele escreveu durante o período.
Comecemos pelo Salmo 59, que
escreveu quando Saul cercou a casa onde
estava para o matar (I Samuel 19:11-17).
Por ter se tornando o
comandante do exército de Saul, Davi era responsável pelas incursões militares
contra os filisteus (I Sm 18:5-6). Seu sucesso foi tão grande que ele caiu nas
graças do povo. Já rejeitado por Deus e consciente de que o reino não seria da
sua família, Saul começa a se preocupar com uma única coisa em sua vida: matar
Davi. Seus planos começam com o envio de soldados para cercar a casa onde seu
genro morava com Mical. Ela o ajuda a fugir e o ajudou a ganhar tempo,
inventando uma história de que ele estava doente. Nesse dia ele escreveu o
salmo em questão. Leia-o na íntegra para que os comentários façam mais sentido.
Davi, embora ainda jovem, já
era um guerreiro valente. Mas não é nisso que ele confia quando acorda com a
notícia de que a casa estava cercada. A primeira estrofe do seu cântico é uma
declaração de fé no livramento de Deus (v.1-3). Diante das adversidades, muitas
vezes a gente quer lutar sozinho, confiar em nossas habilidades, treinamento e
conhecimento. Não é bom negócio. Deus sempre será a melhor opção de companhia.
Ele estava sendo acusado,
injustamente, de ser um traidor de Saul. É incrível como a língua pode destruir
a reputação até mesmo de um extra-série como Davi (v.4-7). A calúnia e a
maledicência são a arma dos invejosos. Não podendo chegar no nível do seu
sucessor, Saul utiliza de todos os recursos para desqualificar seu adversário.
Se você já passou pela desagradável experiência de ser caluniado, você sabe bem
o que Davi estava sentindo.
Não apenas isso. Sua vida
estava em perigo. A guarda de Saul não estava fazendo sua proteção pessoal:
estava pronta para mata-lo. Sentindo-se acuado (v.6, 14-15), ele descreve o
cerco à sua casa como alguém rodeado por uma matilha faminta. A violência, a
ameaça e a intimidação são o recurso daqueles que não têm argumentos.
Diante de tudo isso, embora
indignado com a injustiça da situação, ele entrega a vingança de seus inimigos
ao Senhor (v.10-13). Não vai tirar satisfações. Não vai à forra. Seu rei estava
sendo desleal, o grupo que o apoiava também, mas ele não se vingaria.
Para surpresa geral (de quem
não o conhece bem), Davi afirma não apenas seu desejo de cantar, mas ao afirmar
“pela manhã louvarei com alegria” ele
expressa a certeza de que estaria vivo no dia seguinte, não obstante a casa
onde dormia estar cercada de homens enviados para matá-lo. Isso é o que se pode
chamar de confiança!
Atitude notável em
circunstâncias tão complicadas. Esta postura será, inclusive, marcante em todos
os salmos que analisaremos. Ele ainda não está em uma caverna física neste
capítulo, mas aqui inicia uma fuga que levará anos. Será separado da esposa
(que será dada a outro homem por Saul), nunca mais vai voltar para casa e vai
viver como um foragido por muito tempo. Motivos mais do que justificáveis para
alguém passar um bom tempo se lamentando.
Não para Davi. Quando o fogo
da adversidade começa a queimar, ele escolhe cantar e renovar sua fé em Deus.
Aqui inaugura-se um esporte oficial no reino de Saul. A caça a Davi!
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