Ficou
claro para quem convivia com Saul que ele falava sério a respeito de eliminar
Davi.
Jônatas, o filho de Saul, era
o melhor amigo do futuro rei. Foi ele quem lhe avisou de que Saul estava mesmo
decidido a tirar-lhe a vida. Ao saber disso, Davi fugiu para Nobe, uma cidade
de sacerdotes ao norte de Jerusalém. Foi ali que ele comeu os pães sagrados,
episódio evocado por Jesus diante dos fariseus. Então, ele atravessa a
fronteira e tenta asilo em Gate, com o rei Aquis (Abimeleque era um título de
sua dinastia, como “Faraó”) Com medo de que Davi estivesse ali como espião, os
funcionários do rei desconfiam dele e o denunciam. Davi fica com medo, se finge
de maluco para ser poupado e é expulso de lá. Agora, é o procurado número 1 em sua terra e não é bem quisto no
país vizinho. Leia o episódio completo em I Samuel 21:1-5; 22:1-2).
Nesta ocasião, ele escreve o salmo 34, bem conhecido de
quem lê a Bíblia regularmente. Alguns de seus versículos estão entre os mais
citados da Bíblia, como “o anjo do Senhor acampa ao redor dos que o temem o os
livra”; “engrandecei ao Senhor comigo e todos à uma lhe exaltemos o nome” ou
ainda “perto está o Senhor de todos os que o invocam”. Raramente, no entanto,
paramos para considerar o que o autor estava passando quando escreveu essas
coisas. Quando sabemos, as palavras destes salmos ganham outro significado.
Sua primeira frase define uma
decisão que ele tomou na vida: o louvor a Deus permanecerá sempre em seus
lábios. Ao invés de reclamar e se lamentar, Davi prefere usar suas forças e
habilidade artística para engrandecer o nome do Senhor. Quando as coisas não
saem conforme o que esperamos ou gostaríamos, somos confrontados com as mesmas
opções. Então diga com sinceridade: quando você está sendo atacado, perseguido,
desprezado e odiado, a primeira coisa de que você se lembra é do seu hinário? Dá
uma vontade de cantar louvores quando alguém quer acabar com você? Esta era a
opção de Davi.
O texto de I Samuel 21:12
afirma que Davi “ficou com muito medo de
Aquis”, quando este demonstrou que não queria sua presença por ali. Agora,
diante do Senhor, de coração rasgado, o salmista diz “livrou-me de todos os
meus temores” (v.4). Nosso problema não é sentir medo, mas o que fazer quando
sentimos medo. A gente pode ficar paralisado e desistir da vida ou pode assumir
que estamos com medo e confessar isso ao Senhor. Três verbos nos versículos 4 a
6 indicam a atitude certa quando o medo nos assola: buscar, contemplar e clamar
ao Senhor. As três palavras indicam uma atitude de entrega. A busca de uma
criança pelo colo da mãe ou do pai indica confiança total e anseio por
segurança. A contemplação é o que melhor descreve a ideia de adoração. O
clamor, no jargão jurídico, é a apelação em última instância. Assim, podemos
enfrentar todos os nossos temores.
Fazendo isso, Davi conseguiu
ver que “o anjo do Senhor acampa ao redor
dos que o temem e os livra” (v.7-8). Qualquer que seja a interpretação dada
a este versículo, fica claro que Davi cria na presença protetora do Senhor em
sua vida. Ele já tinha experimentado dormir com o inimigo acampado ao seu
redor. Mas seus olhos espirituais lhe permitiam enxergar mais longe. Assim como
Geazi só conseguiu ver os exércitos da Síria, enquanto Eliseu via os exércitos
celestiais a guarda-los, Davi era capaz de confiar na proteção constante de
Deus. Ele estava cantando: “Pode confiar em Deus, vale a pena se refugiar
nele”.
Então ele se dirige aos “filhos”
(provavelmente uma referência aos homens que estavam com ele) para lhes ensinar
uma lição de vida naquele momento de adversidade (v.9-12): ele não permitiria
que as circunstâncias determinassem seu destino e muito menos o seu caráter.
Ele estava sofrendo duramente nas mãos de pessoas ímpias, que o privaram das
coisas mais essenciais da vida, como um teto e um banho decente. Mas ele não
revidaria com a mesma moeda. Continuaria crendo e ensinando que o temor do
Senhor, manifesto em ações claras de retidão (como refrear a língua e se
apartar do mal) são as características de quem realmente “ama a vida”.
Para fechar este salmo
acróstico com chave de ouro, descobrimos que a presença do Senhor se manifesta
na vida de Davi nesses momentos de perseguição e angústia de forma quase
tangível (v.15-18). As palavras que ele usa para relatar que o Senhor estava
perto dele são de um momento cara-a-cara: “os olhos do Senhor”; “o rosto do
Senhor”; “os ouvidos do Senhor”. Deus não é um Ser distante, indiferente,
burocrático. Muito ao contrário, para Davi, Deus está ali, rosto colado com
ele. Pode ouvir o sussurro do seu coração angustiado. Está vendo tudo o que se
passa. Deus está presente também nos momentos difíceis pelos quais o salmista
passa.
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