Já sentiu uma certa sensação de medo do Velho Testamento? Alguma
vez você já evitou livros como Levítico, Deuteronômio ou os Profetas? Console-se:
você não está sozinho. Há um bom número de pessoas razoavelmente acostumadas com
a Bíblia que faz a mesma coisa. E talvez a culpa não seja delas. Pelo menos não
somente delas.
Depois de alguns anos lidando com ensino bíblico em igrejas
de portes e estilos diferentes, consegui perceber algumas tendências que podem
explicar porque a atual geração de cristãos tem pouca noção panorâmica da
Bíblia.
Descobri que a responsabilidade para esta “fuga” do Antigo
Testamento não pode ser creditada somente dos alunos. Acontece que nos últimos
20 anos, as igrejas foram pouco a pouco abandonando o ensino expositivo (estudo
livro por livro, da Bíblia toda), substituindo-o pelo ensino tópico (abordagem
de assuntos).
Na prática, o que aconteceu foi o surgimento de uma geração
com poucas raízes nas Escrituras. As pessoas passaram a conhecer a Bíblia aos
pedaços. Uma geração inteira perdeu o “jeito” de ler o texto bíblico à luz do
seu contexto e cronologia, habilidade fundamental para sua correta compreensão
e aplicação.
Ouço com frequência alguns argumentos na tentativa de
justificar esta prática. São lógicos, mas, para ser generoso, são limitados.
Alguns deles:
“O ensino tópico é mais
relevante e contextualizado”.
Será? Quando estudamos a Bíblia sequencialmente,
seguramente vamos passar por todos os tópicos importantes da vida. Por exemplo,
no livro de Gênesis, abordamos assuntos que estão na pauta do dia: casamento,
família, homossexualismo, corrupção, liderança, filhos etc. Está tudo lá.
Quando se estuda Êxodo, encontramos as leis que formam a base sobre a qual os
profetas e, mais tarde, os apóstolos vão desenvolver seus ministérios. Não
condenamos o ensino por assunto, mas alertamos que quando só ensinamos por
tópicos, as pessoas perdem a noção geral das Escrituras, o que ao longo do
tempo se torna trágico.
“Ensinar a Bíblia livro por livro torna-se muito cansativo e monótono”.
Será? Minha
experiência tem mostrado uma adesão maciça a programas de Estudos do tipo livro
por livro. O que desanima muitas vezes é a presença de um professor ou pregador
mal preparado ou um currículo longo demais (há igrejas que levam 4 anos para
estudar o Tabernáculo!). Mas um currículo prático e bem ministrado é
empolgante.
“Hoje em dia as pessoas não se
interessam por uma informação se não conseguem ver utilidade nela.”
Verdade! Alguém ainda acrescentaria: “O que muda a minha vida saber que Jó viveu
no tempo dos Patriarcas? Qual a diferença de saber que os profetas não viveram
na ordem em que os livros aparecem?” A resposta é simples: se for repassada
somente como informação, realmente não vai mudar sua vida. Mas para sua melhor compreensão
dos textos que eles escreveram, fará muita diferença. E isso certamente vai
afetar sua vida. O “x” da questão, portanto, está em capacitar nossos
professores e pregadores para mostrar como a Bíblia mantém sua unidade e como
sua mensagem é totalmente conectada com a nossa realidade. É só estudar a
história dos reis e profetas de Israel, por exemplo, para se ter uma clara
ideia disso.
“Os novos convertidos não conseguem entender o Velho Testamento.”
Verdade! É
justamente por isso que precisam ser ensinados. Se eles não compreenderem bem o
que veio primeiro, como vão entender ou valorizar o que veio depois dos
Evangelhos? Hoje, mais do que entre as décadas de 70 a 90, cada vez mais recebemos
pessoas que se convertem depois de adultos. A maioria delas nunca teve contato
com a Bíblia. Não conhecem suas histórias e por isso não conseguem entender.
Elas precisam ter a oportunidade, pelo menos uma vez na vida, de estudarem tudo
na sequência, para poderem ter uma compreensão melhor das Escrituras como um
todo.
“Os professores precisam de um melhor preparo para ensinar a Bíblia
toda.”
Verdade! Por isso
mesmo, este desafio fará com que haja uma seleção natural (na qual os que não estiverem
dispostos a se dedicarem ao estudo sério da Bíblia serão automaticamente
desligados) e um aumento no nível do time de ensino de sua igreja. Será uma
ótima oportunidade para eles crescerem. Infelizmente, muitos que “ensinam” nas
igrejas hoje em dia tem um conhecimento muito limitado das Escrituras, o que
não deixa de ser um contrassenso. Sem contar que muitas vezes não foram
treinados em métodos de ensino e comunicação (o ministério Alvo oferece
treinamentos para professores nesta área).
“Adotar um currículo livro por livro “engessa” a igreja”.
Não necessariamente! Um
currículo é um caminho, um direcionamento. Não é preciso adotar um programa que
tenha apenas o ensino expositivo ou livro por livro. Deve continuar havendo
ensino de tópicos, palavras devocionais para a igreja etc. O que não se pode
mais é abrir mão de ensinar a Bíblia sistematicamente em algum momento da
semana da igreja, seja em público ou em particular.
“Quase não existe material de apoio para
estudar a Bíblia livro por livro”
Isso era verdade. Desenvolvemos
um Programa de Estudos Bíblicos para apoiar as igrejas que aceitem este desafio
de resgatar o ensino expositivo. É um currículo de 4 anos, dividido em
fascículos de 12 lições em 48 páginas. Ele auxilia os professores fornecendo lições
pré-formatada de cada texto bíblico, com começo, meio e fim, que serão uma
ferramenta útil para a preparação da aula. As histórias são abordadas na ordem
cronológica.
Pronto! Agora está em suas mãos. Podemos repensar nossa
filosofia de ensino bíblico, fazendo pequenos mas essenciais ajustes de rota.
As gerações futuras agradecem.
Marcos Senghi Soares
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Se este artigo reflete a situação da sua igreja local,
sugiro que você o compartilhe com seus líderes, presbíteros ou pastores,
professores ou coordenadores de Escola Bíblica, Células ou Grupos Pequenos.
Para conhecer o Programa de Estudos Bíblicos Alvo, clique aqui.
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