segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O ano que passou depressa

 Todo dezembro é a mesma reclamação: “Ah, este ano passou rápido demais!” Errado: ele apenas passou rápido, como todos os demais. Tivemos as mesmas 24 horas todos os dias, tivemos os mesmos 7 dias todas as semanas. A única coisa verdadeiramente democrática e universal é o tempo. Ricos e pobres, famosos e desconhecidos, cultos e iletrados, todos contam o tempo exatamente da mesma forma.

Tempo que, aliás, só existe por nossa causa. O Eterno não conta tempo. Nós é que precisamos dele para organizar nossa vida. Os luzeiros criados em Gênesis 1:14 foram dispostos para “estações, para dias e anos”. Antes de o ser humano ser criado, ninguém vendia relógio.

Há alguma coisa importante a se aprender quando o ano muda. Não é sem razão a avaliação do que foi feito. Tem sentido fazer projeções para a nova etapa que se avizinha. Segundo o grande Moisés, o segredo para sermos sábios é “aprender a contar os nossos dias”. Quer dizer, é preciso usar o tempo de forma consciente. Esta sensação de que precisamos mais duas horas por dia denuncia que precisamos rever as escolhas e prioridades.

2013 há de ter os mesmos 12 meses. Viva-os de tal maneira que ao final do ano que vem, caso você chegue lá, não seja necessário repetir o chavão. Aproveite melhor cada dia. Gaste menos tempo teclando à toa; invista em relacionamentos; dedique mais tempo aos filhos e menos à Internet; tome mais sorvete de creme com banana assada e canela; faça mais exercícios; faça um esforço extra para reclamar menos; dê passagem ao motoqueiro apressadinho; conte até 11 antes de responder atravessado.

E, acima de tudo, coloque Deus no centro da meta. Caso contrário, tudo o que conseguir na vida será a mesma coisa que correr atrás do vento.

Vamos lá, ainda há tempo...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Estamos lançando hoje uma campanha de oração do Alvo, ministério que trabalha auxiliando na formação de líderes no Brasil. Veja os detalhes abaixo.

Para participar, basta clicar aqui.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Uma estratégia antiliberal e antijudaizante


Existem pragas cíclicas que assolam a Igreja de Cristo através da sua História. O atrevimento dos falsos mestres não tem limites. Por isso, vez por outra uma velha heresia é requentada e apresentada como uma grande novidade, a “bola da vez”.

Atualmente, dois dos grandes perigos que andam rondado o rebanho de Deus são a teologia liberal (ou o “novo liberalismo”, como prefere chamar Augustus Nicodemus) e o judaísmo messiânico.  Nenhum deles é novo. O primeiro, que aglutina debaixo do mesmo guarda-chuva aqueles que negam a autoridade das Escrituras como a Palavra de Deus, é muito mais antigo do que qualquer movimento acadêmico. Ele teve sua origem no Jardim do Éden: “É assim que Deus disse?” foi a pergunta do pai da Teologia Liberal, a Antiga Serpente. O “judaísmo messiânico” também não é novidade. Já havia causado estragos no começo da igreja. No tempo dos Atos dos Apóstolos, houve até um concílio convocado para dar uma resposta e um “basta” ao partido dos “da circuncisão” ou “dos judaizantes”. Uma carta aos Gálatas foi escrita para combater estas doutrinas.

Sobre ambos falaremos nas próximas postagens. Por hora, queremos sugerir algumas atitudes que pastores e líderes devem tomar à luz desta confusão. São coisas simples, mas porque foram esquecidas, acabaram por dar espaço para que o mal começasse a se sentir “em casa” em muitas comunidades cristãs. E este é o principal assunto que motiva esta série. Por que estamos assistindo passivamente à chegada desses falsos ensinos em nosso meio? Por que estamos entregando nossos jovens vocacionados “de mão beijada” a faculdades “teológicas”, cursos e atividades onde se propagam estes ensinos? O que é feito do nosso Ensino Bíblico?

Por isso, antes de mais nada, entendemos ser necessário conclamar pastores, líderes e professores DAS IGREJAS a uma reflexão profunda e séria. O maior problema não é o surgimento de falsos mestres e heresias: eles sempre estiveram por aí. A questão é que se não vacinarmos o rebanho, eles se tornarão presas fáceis nas mãos de gente inescrupulosa, que perdeu a fé (ou nunca a teve) ou que, no mínimo, tal como Apolo, ainda não aprendeu com exatidão o caminho de Deus (Atos 18:26).

1. Não terceirize o ensino bíblico. Uma das funções de uma igreja local é transmitir à sua membresia o que ela crê, como ela crê e porque ela crê. Só que é mais fácil mandar os crentes para um Congresso ou dar o endereço de um site do que desenvolver ferramentas que permitam fazer isso ali mesmo. Nada contra a preparação formal. Mas a verdade é que a cada dia que passa assistimos a chegada de uma geração completamente analfabeta de Bíblia. Isso é prato cheio para o falso ensinador. Sua função como pastor/presbítero/bispo é esta. Você não pode passar para outro, assim como um pai não pode esperar que a igreja eduque seus filhos.

2. Verifique de que fonte seu rebanho está bebendo. Quando você manda um jovem para um seminário teológico ou para participar de um curso, você se preocupa em conhecer a linha doutrinária daquela pessoa ou instituição? Ou você prefere dar de ombros e dizer “analise tudo e retenha o que é bom?” Primeiro, porque o que Paulo está ensinando não se aplica a esta situação; ele não está dizendo que você deve sentar para ouvir um falso ensino, porque no meio disso alguma coisa vai ser aproveitada. Quanto ao falso ensino, os apóstolos sempre foram enfáticos: não há diálogo, outro evangelho é anátema Ponto final. Sua obrigação como quem vela por suas almas é assegurar-se até quanto for possível de que não estão misturando veneno na comida. Não há nada de bom a se reter em um copo de veneno!
  
3. Conheça o que está acontecendo ao seu redor. Temos uma tendência de nos envolver tanto com a nossa realidade existencial, que muitas vezes não nos damos conta de que há um mundo efervescendo em volta de nós. Muitas pessoas nem sabem ainda que existem faculdades teológicas ensinando que Jó foi um personagem literário e não real; que Deus não é soberano, nem onisciente; que a Bíblia não passa de um documento cultural etc. Sim, estão ensinando isso e muito mais. Nos livros, palestras, blogs,  salas de aula, chats e fóruns. Talvez até estejam ensinando em uma de suas classes de escola bíblica dominical. E você nem sabe. Está na hora de se atualizar um pouco do que se passa. Senão, daqui a pouco quando você acordar poderá ser muito tarde para evitar uma catástrofe. 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Legado: seu presente para o futuro
















No meu novo livro, lançado esta semana, abordo a importância de marcarmos as gerações seguintes com as ações que tomamos no presente que nos pertence.

Você pode ler um trecho clicando aqui.

A versão digital já está disponível para download no site da Editora Ampliar. Para baixar, clique aqui

Se quiser reservar o seu livro físico, deixe seu contato nos comentários (não publicaremos aqui, evidentemente). Entrarei em contato com você assim que possível.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O 80%

Amigos, volta e meia eu lhes conto alguma história de conhecidos meus. São figuras capazes de encher um livro. Vocês já foram apresentados a alguns deles, mas não conheciam ainda o “Baixinho 80%”. Trabalhei lado a lado com ele durante algum tempo. O apelido veio das suas inesquecíveis atuações nas reuniões do departamento. Quando alguém lhe fazia alguma pergunta, a resposta nunca era garantida. Era sempre na base do 80%. O relatório está pronto? 80%, chefe. Os objetivos foram alcançados? Quase, 80%. Você tem certeza desta informação? É, pelo menos 80%. Pegou. O Baixinho 80%. Passaram-se alguns anos, não ouvi mais dele. Se o encontrar na rua ou no supermercado, vou perguntar: “E aí, rapaz, como vão as coisas?” A resposta provavelmente será algo como: “Tá tudo bem, 80% bem”. Impressionante.

Você sabe que ele não está sozinho no mundo. O clube dos 80% é assustadoramente grande. Muita gente acha que 80% são suficientes. Não é preciso ser muito exigente. Nunca vamos conseguir ser 100%, então o que conseguirmos, está ótimo. É aquela filosofia de estudar somente para passar, fazer o serviço mínimo exigido pelo gerente, falar 80% de verdade e 20% de mentira. É a história de ter convicções, sim, mas até certo ponto. 80% de convicção é melhor do que nada, pensam alguns. 100% é exigir demais, sempre precisa se dar uma margem de segurança, um espaço para a dúvida e o questionamento.

É estranho. Você compraria uma barra de chocolate que tivesse sido 20% mordida? Você compraria uma passagem de avião que garantisse 80% do percurso? Você se casaria com uma mulher (se você é um homem) ou com um homem (se você é uma mulher) que lhe fosse 80% fiel? Você ficaria feliz se seu time de futebol liderasse o campeonato em 80% das rodadas e perdesse o título em 20% dos jogos finais? Se a sua resposta foi “não”, você passou no teste. Pode se considerar um ser humano normal. Ninguém se contenta com 80%.

Mas na hora de agirmos, queremos que todos, incluindo Deus, se contente com aquilo que a gente está disposto a oferecer. Vou obedecer meus pais, mas 80%. Esquecemos de que o mandamento é “filhos, obedecei EM TUDO a vossos pais”. Vou amar a Deus, mas 80%. Esquecemos que o mandamento é “amarás o Senhor teu Deus de TODO o teu coração, de TODA  a tua alma, de TODA a tua força e de TODO o teu entendimento. Vou fazer o meu trabalho com dedicação, mas só 80%. Esquecemos de que o mandamento é “TUDO o que vier à mão para fazê-lo, faze-o conforme as tuas forças”.

Não. 80% definitivamente não bastam. Precisamos mais, sob pena de ficarmos rotulados como aquele meu amigo. Ninguém quer alguém que age assim, porque acaba não sendo uma pessoa confiável. Você delega alguma coisa e sempre fica apreensivo, porque sabe que só terá uma parte dos resultados. As pessoas esperam mais de nós.

Deus também espera. E Deus merece mais. Ele não nos deu 80% do que tinha. Seu Filho era o “unigênito”. Não tinha outro. Deus colocou 100% à nossa disposição. Jesus veio e viveu. 100% homem, 100% Deus. Ele morreu. Morreu mesmo. Não foi um “sono”. Foi morte total. Se em algum ponto ficasse 0.5% sem fazer, nós estaríamos em sérias dificuldades.

Pense nisso. Mas pense 100%.

Marcos Soares

terça-feira, 5 de junho de 2012

Histórias para a vida (9): O que você anda fazendo na ausência do Chefe?


Quem é, pois, o servo fiel e prudente a quem o senhor confiou os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Em verdade vos digo que lhe confiará todos os seus bens. Mas se aquele servo, sendo mau, disser consigo mesmo: Meu senhor demora-se, e passar a espancar os seus companheiros, e a comer e beber com ébrios, virá o senhor daquele servo em dia em que não o esperam e em hora que não sabe, e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.

Quando adolescente, trabalhei em um escritório. Algumas vezes, o chefe era convocado para uma reunião ou estava de férias. Estabelecia-se, então (que fique bem claro, eu não participava disso), a lei "o gato saiu, os ratos fazem a festa". Era som alto, cafezinho liberado, momento de discutir a posição do time do coração na tabela, enfim, algumas coisas ficavam realmente invertidas. Um belo dia, desconfiado do que se passava desses momentos de ausência, o chefe, que de bobo não tinha nada, resolveu voltar antes do esperado. Pegou muita gente no pulo. Só os que não participavam da folia é que escaparam. A brincadeira saiu cara para alguns. 

Jesus é um Senhor bom e fiel, que "se ausentou por algum tempo". Ele não espera que seus servos fiquem aqui para viverem de qualquer jeito, como se não tivessem que prestar contas de nada. Ao contrário, deixou-nos para que fielmente o sirvamos até que ele volte. É para continuar com atenção ao trabalho. Ele sequer nos deixou sozinhos. Enviou Seu Espírito para nos acompanhar, capacitou-nos para o serviço que espera de nós e fez-nos depositários de uma extraordinária herança. Só que alguns de nós às vezes agimos como os meus ex-colegas de trabalho. Achamos que porque a presença física do Chefe Supremo não está aqui, somos os "donos do pedaço". Irresponsavelmente damos as costas para o propósito maior das nossas vidas e passamos a viver uma vida sem sentido.

As características deste servo mau são chocantes. Olhe a sua atitude truculenta. Agride os outros. Que é isso, companheiro? Olhe a sua companhia. Come e bebe com os bêbados da esquina. Será que ele sai da mesa do bar direto para a mesa da Ceia? Olhe a sua expectativa de vida. Nem se lembra mais que há um Senhor que volta logo, a quem todos prestarão contas. Péssimo exemplo. Não há o que justifique.

Jesus é um Senhor bom e fiel. Deixou outro exemplo para seus servos. Andar e agir como este mau servo é, no mínimo, uma atitude de tremenda ingratidão. Depois, revela um espírito totalmente incoerente com o que se espera dos súditos do Reino. Nada a ver com as características dos bem-aventurados do Sermão do Monte. Tem mais a ver com aquelas empresas onde o ambiente é terrível, um quer puxar o tapete do outro, não se respeitam regras nem pessoas. Definitivamente, não é este o ambiente que se espera na Igreja de Cristo.

Felizmente, nem todos seguirão este padrão horroroso e nojento de serviço. Na mesma história, aparece também a figura do "Operário Padrão do Reino". Do seu currículo não constam títulos, diplomas, mil cursos, especializações e mestrados. Não aparecem grandes realizações, enormes campanhas evangelísticas, nem projeção pessoal. Pode até ser que algumas destas coisas tenham acontecido em sua carreira, mas o que o torna padrão não é nenhuma delas. Ele é chamado simplesmente de "um operário fiel e prudente". Só isso. Fiel, porque age com os olhos fitos no Seu Senhor e preocupado com as expectativas que Ele tem sobre a sua vida e seu ministério. Prudente, porque vê seus conservos no mesmo nível que ele, nem mais nem menos. Se na parábola da figueira a palavra-chave era "vigilância", aqui passa a ser "fidelidade". Espera o Senhor que aqueles que trabalham para Ele sejam mordomos fiéis daquilo que lhes foi confiado.

Jesus perguntou: "Quem é este servo fiel e prudente?"

Eu me pergunto: "Sou eu um servo fiel e prudente?"

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Histórias para a vida (8): Fica esperto!


Então, o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo. Cinco dentre elas eram néscias, e cinco, prudentes. As néscias, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; no entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas. 
E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram. Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro! Então, se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas. E as néscias disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se apagando. Mas as prudentes responderam: Não, para que não nos falte a nós e a vós outras! Ide, antes, aos que o vendem e comprai -o. E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta. Mais tarde, chegaram as virgens néscias, clamando: Senhor, senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos
conheço. 
Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora.

Como tem gente distraída neste mundo! Um amigo meu um dia desses me contou que um dia ele esqueceu a namorada no telefone e foi almoçar! Como é que pode?


Muitas vezes a distração é resultante da insensatez. Desviamos a atenção de coisas importantes porque estamos focando coisas fúteis. É o caso do sujeito que bate o carro porque abaixou para pegar o celular ou mudar a estação do rádio. Há certas coisas na vida com as quais não se pode brincar. Pode ser a diferença entre a vida e a morte. Não se pode levar questões de importância vital como se fossem assuntos corriqueiros da vida. 


A parábola de hoje fala de gente que não prestou atenção ao serviço. E se deu muito mal. Dez virgens vão encontrar o noivo à noite. Precisam de lâmpadas. Para manterem-nas acesas precisam de combustível. Não pense em luz elétrica. Pense nos lampiões a gás ou a querosene. Se acabar o líquido, acabou a luz. Tinha fogo no pavio, mas não tinha mais óleo no reservatório. Dançaram. 

Mocinhas distraídas, essas. A quem estavam tentando enganar? Às outras moças? Ao noivo? Não sei. Mas o fim da história mostrou que elas só enganaram a si mesmas. Ficaram no meio da galera, tinham tudo o que as outras tinham. Vocês têm lâmpadas? Nós também! Vocês têm luz no pavio? Nós também! Vocês entoam canções de amor para o noivo? Nós também! Vocês são virgens? Nós também! Então vamos tocando a vida juntos, porque no fim dá tudo certo. 

Não deu. Por fora era tudo igual, mas por dentro havia uma diferença fundamental. Não tinha conteúdo, não tinha azeite. Elas são chamadas de "insensatas", isto é eram ocas, vazias, sem conteúdo. Nas exterioridades, muitas semelhanças. Mas onde as coisas realmente acontecem, nada. 

De vez em quando, é necessário abrir o jogo com o pessoal que está do nosso lado, fazendo tudo o que a gente faz, andando com a gente, cantando com a gente, indo aos nossos acampamentos, frequentando nossas reuniões, decorando versículos, às vezes até tomando a Ceia e perguntar francamente: isso tudo é pavio ou é azeite? Houve aí o que a Bíblia chama de um lavar regenerador e renovador do Espírito Santo ou foi só mesmo uma clonagem muito da sem-vergonha? Você já nasceu de novo, da água e do Espírito? Tem certeza de que é salvo e de que o Espírito Santo habita em você? Ou estas coisas são para você tão estranhas que você prefere deixar para os teólogos? 

Não me culpe por assustá-lo. Se você é salvo, vai entender perfeitamente a quê e a quem estou me referindo. Quem é salvo, sabe que é, não tem dúvidas nem receios. Esclareça-se que esta parábola não está dando qualquer base aos que querem fazer do Evangelho eterno de Jesus um mesquinho e infindável perde-e-ganha. As 5 virgens não são absolutamente representantes daqueles que "perdem a salvação". Elas simplesmente não tinham azeite (que simboliza o Espírito Santo). E a Bíblia afirma que "se alguém não tem o Espírito de Cristo, este tal não é dele" (Rm 8:9). Esta parábola está avisando àqueles que, sem ter uma experiência real de conversão, acomodam-se à amizade dos cristãos, às conveniências, ao "bem-bom" do Evangelho. Porém, não conhecem a Cristo e nem Cristo os conhece. 

A estes, é preciso perguntar: a quem você quer enganar? Aos irmãos? Aos seus pais? Aos presbíteros e pastores? Ao líder dos adolescentes? À namorada? Ao marido? A Deus? Pois esta parábola nos ensina que aqueles que tentam se esconder no meio da multidão, com o exterior cada dia mais parecido com os verdadeiros cristãos, mas com o interior cada dia mais diferente, vão ter uma desagradável surpresa quanto tudo isso terminar e a noite chegar. Vão ficar de fora. 

Não seja pego pela teia da distração. Nossa relação com Deus é preto ou é branco. Não tem zona cinzenta. Não tem "vamos ver como é que fica". Não tem meio termo. Ou é ou não é.  

Quando vem o Noivo? Não sei nem o dia nem a hora. O que eu sei é que ele vem e não demora. Como será maravilhoso se cada pessoa que ler estas palavras estiver preparada para recebê-lo com alegria e entrar para a tão esperada festa do casamento!


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quinta-feira, 10 de maio de 2012

História para a vida (7) - O paradoxo da vida


Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto.

Esta parábola é diferente. Curta, porém profunda. Não é apenas uma história PARA a vida, senão que é uma história DA vida. Da vida de Jesus, o Filho eterno de Deus, o Deus feito carne, o Criador e Sustentador do universo, aquele que fez todas as coisas pela Palavra do Seu poder. O Autor e essência da vida falando sobre morte e sobre a sua própria morte. 

O Evangelho de Cristo sem dúvida traz novos e grandes paradoxos. Durante seu ministério, Jesus quebrou muitos dos conceitos tradicionais que povoavam o imaginário do povo. No Sermão do Monte, ele deixa claro que as bem-aventuranças não são para os poderosos e atirados, para os que gostam de mostrar seu poderio bélico ao mundo nem para os que gostam da truculência, mas para os humildes de espírito e pacificadores. Ao ser tentado pelo diabo, que lhe oferece fartura e poder, ele responde que  fazer o que Deus quer é muito mais importante que isso tudo, mesmo que implique em abrir mão dessas coisas temporais. 

E agora, encaminhando-se para o clímax de sua missão, ele afirma que a maneira escolhida para que ele seja glorificado é morrer. Ao invés de assumir o trono e o cetro do Império, ele assume uma cruz e uma coroa de espinhos. Ao invés de entrar no palácio como Rei aclamado por todos, entrará como um réu condenado à pena de morte. 

Um grão de trigo. Que poderia ter sido poupado, se quisesse. Ele deixou claro que ninguém poderia tirar sua vida. Ninguém tinha autoridade sobre ela. Sua vida era algo que lhe pertencia. Mas ele estava disposto a entregá-la voluntariamente, o que de fato fez. Este é, sem dúvida, o maior de todos os paradoxos do evangelho ensinado por Jesus: para viver, é preciso morrer. Abrir mão dos direitos da vida. Como uma semente, ele entrega sua vida para que muitos outros nasçam e experimentem da graça da vida. 

Toda a fartura e suficiência que encontramos à mesa do Rei provém do grão de trigo que caiu na terra e morreu. Nós mesmos somos o "fruto do penoso trabalho de sua alma". Nossa vida resulta da morte do Senhor, que não considerou o fato de ser o Eterno como o mais importante de tudo. Fez-se homem e, se consigo compreender corretamente o Evangelho, ele fez-se homem exatamente para que, como homem, pudesse "dar a sua vida em favor de muitos". 

Muita gente pensa que Jesus morreu para dar um exemplo. Negativo. Jesus morreu para dar vida. Exemplo ele deu nos 33 anos de sua caminhada entre o povo. Quando ele morreu, seu exemplo já estava dado. Porém, se tendo "caído na terra", andado entre nós, vivido de maneira tão santa e perfeita, não tivesse morrido, teria ficado só. Ninguém jamais teria conseguido viver sua vida em plenitude. Ninguém poderia dar fruto para a vida eterna. 

Com muito respeito e em tremenda reverência é que afirmo: se Jesus Cristo, o grão de trigo, não tivesse morrido, sua vida perfeita revelada através das páginas dos evangelhos, seus ensinos preciosos, seu amor e graça teriam pouco valor prático para nós. É ao morrer que Jesus abre a possibilidade de que nós partilhemos de sua vida. Através de sua morte é que podemos viver. 

Ele não ficou só. Aquele "por cuja causa e por quem todas as coisas existem" está conduzindo muitos filhos à glória. As cenas impressionantes do louvor e adoração diante do trono do Cordeiro dão conta de "milhões de milhões e milhares de milhares" de homens e mulheres remidos, que vivem porque Ele morreu. Que são salvos porque Ele se entregou. Que adoram porque o grão de trigo não ficou só. E o que eles dizem? "Digno é o Cordeiro QUE FOI MORTO!" Nosso motivo de louvor hoje é a Cruz de Cristo. Parece que no céu não será diferente! 

Que estupendo paradoxo. Ele nos ensina também, segundo a aplicação que o próprio Senhor Jesus fez de sua parábola, que nossa vida só tem valor se for entregue. Vivemos uma época em que está difícil encontrar cristãos que se disponham sequer a viver por Jesus. Que dirá morrer por ele! Queremos a glória, mas não a vergonha. O trono, mas não a cruz. O cetro, mas não a coroa de espinhos. Os aplausos, mas não os açoites. 

Quem ama sua vida, perde-a. Quer dizer, quem não abre mão dos seus direitos e os depõe sobre as mãos do seu Deus, como Jesus fez quando disse: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito", jamais verá qualquer fruto. Passará pela vida sem nada deixar e sem nada produzir.
Jim Elliot foi um missionário americano assassinado no Equador com outros colegas que tentavam alcançar para Cristo um grupo de índios. Sua esposa voltou anos mais tarde e viu a graça de Deus alcançando aquele povo (leia sua história no livro "O Piloto das Selvas" - Ed Betânia, ou assista ao filme Terra Selvagem). Ele escreveu uma vez as palavras que se tornaram famosas: "Não é tolo aquele que abre mão do que não pode reter para ganhar aquilo que não pode perder."
Dificilmente alguém conseguiria resumir melhor o que é a vida cristã. 


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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Histórias para a vida (6): Ingratidão, a pior das ofensas


Atentai noutra parábola. Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha. Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores. Depois, se ausentou do país. Ao tempo da colheita, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os frutos que lhe tocavam. E os lavradores, agarrando os servos, espancaram a um, mataram a outro e a outro apedrejaram. Enviou ainda outros servos em maior número; e trataram-nos da mesma sorte. E, por último, enviou-lhes o seu próprio filho, dizendo: A meu filho respeitarão. Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram. Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Responderam-lhe: Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos.


A pior das fraquezas é a ingratidão. Como é difícil lidar com gente assim. Você faz das tripas coração para agradar uma pessoa e no fim das contas, não ouve sequer um "muito obrigado". Pior ainda é quando a pessoa que foi objeto de sua ação se volta contra você, com acusações que não pode provar, movidas nem se sabe porquê. É muito dolorido quando isso acontece.
 

Se você já sentiu o gosto amargo da ingratidão, pode entender um pouco como Deus se sente quando isto acontece em relação a Si mesmo. Deus está cansado de receber isso de suas criatura e até do seu povo. Quanto Ele faz por aqueles que ama, sem receber sequer o reconhecimento de um coração agradecido!
 

A ingratidão é irmã gêmea da idolatria, porque ela recebe as bênçãos de Deus e além de não reconhecer que vieram de Deus, prefere dar a glória a outrem.
 

Foi o caso explícito do povo de Israel, denunciado por Jesus nesta parábola. Deus criou este povo literalmente do nada. Fez sair uma grande nação a partir de um homem de 100 anos de idade, marido de uma mulher estéril. Eles têm um filho, finalmente. Um só. Deste, nascem dois. E então nasce uma nação. Este povo cresce, se multiplica, vai para o Egito para um tempo de providência divina diante da fome, acaba ficando por lá e se torna escravo. Deus, com mão forte liberta-os das garras da maior potência, carrega-o em suas asas, dá pão, carne, água, direção, proteção, destino e uma aliança única. Tinham tudo para dar certo. A Bíblia passa mais da metade do tempo falando deste povo. O Salvador do mundo, segundo a carne, descende deste povo.
 

No entanto, qual é a tônica de todo o Velho Testamento, mesmo desde a saída de Israel do Egito? Um povo que volta e meia está de namorico com deuses pagãos. Um dia, mal tinham acabado de dar baixa na carteira como escravos de Faraó, resolvem gastar o fundo de garantia criando o seu "deus", um reluzente bezerro de ouro e dizer que foi aquilo que os tirara do Egito (lembre-se de que nem sempre uma ideia "brilhante" dá certo...). Leia Juízes e você vai descobrir um ciclo terrível de ingratidão, rebeldia e abandono de Deus. Leia os profetas e você vai ficar boquiaberto com as terríveis promessas de juízo que Deus faz ao seu povo, todas rigorosamente cumpridas com cativeiro e destruição. Qual o motivo? A ingratidão.
 

Jesus conta esta parábola para deixar claro que a rejeição do povo de Israel ao governo de Deus era tão evidente que nem a ele mesmo, o Filho de Deus, eles respeitaram. Muito ao contrário, trataram-no ainda com maior vileza. Jesus Cristo foi morto como um criminoso comum, fora da porta, exposto à vergonha de uma crucificação. O que tentaram fazer foi deixar bem explícita a sua rejeição, de maneira que a própria lembrança ou menção do nome de Jesus fosse associada ao escárnio e à vileza. Chegaram até a pedir que o sangue de Jesus caísse sobre a cabeça deles e de seus filhos, no que foram inclusive atendidos, porque no ano 70 Jerusalém foi arrasada pelos romanos e se não sobrou pedra sobre pedra, não deve ter sobrado muito sangue que não fosse derramado.
 

A morte de Jesus foi uma demonstração clara de que Israel tinha perdido sua chance. A vinha seria arrendada a outros. Surgiria depois da cruz um novo povo do qual Deus iria esperar a gratidão e o reconhecimento. Inicialmente composto 100% de judeus, 120 homens e mulheres que não compactuaram com aquela atitude, mas que reconheceram a Jesus como o Messias e entregaram suas vidas a ele, mas depois alcançando gente de "toda tribo, língua, povo e nação", a Igreja de Jesus seria o grande receptáculo da graça de um Deus rico em misericórdia e tardio em irar-se.
 

A Bíblia ensina que a cruz do Senhor derrubou a parede de separação, destruiu a inimizade, tornou possível a formação de um povo sem preconceitos de raça, cultura ou nacionalidade. Um povo que não precisa de passaporte, que não vive para defender interesses particulares ou mesquinhos, mas que vive para "remeter os frutos a Deus no devido tempo". Que vive para corresponder ao desejo que Deus sempre teve de ser adorado, reverenciado, venerado, reconhecido e louvado. Foi para isto que Deus criou o ser humano, e agora, em Cristo e através de sua morte, esta possibilidade nunca esteve tão escancarada ao homem.
 

Somos um povo que nasceu para agradecer. Existimos para declarar ao mundo, dia a dia, que existe um Deus que merece toda a devoção, porque dele provém todas as coisas boas que experimentamos. Ele é a fonte de toda boa dádiva de todo dom perfeito.
 

A murmuração e a lamúria não fazem parte do nosso ministério nem do nosso chamado. Foi por causa dessas coisas que a geração de Moisés inteirinha pereceu no deserto. Fala-se muito hoje em dia no surgimento de uma "geração de adoradores". Que esta geração se lembre de que um adorador é, antes de tudo, um ser de coração grato, que sabe discernir de onde vem as coisas boas que acontecem em sua vida.



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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Histórias para a vida (5) - O eterno dilema entre o velho e o novo


Ninguém põe remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo tira parte da veste, e fica maior a rotura. Nem se põe vinho novo em odres velhos; do contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho, e os odres se perdem. Mas põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam. (RA)

O ser humano resiste às mudanças. 

Trabalhei no departamento de sistemas de uma empresa de porte médio no final dos anos 80. Como foi difícil convencer os antigos compradores, contadores e chefes de recursos humanos que os resultados dos computadores eram, sim, confiáveis. Embora no começo o trabalho fosse grande, as conferências parecessem intermináveis, quando tudo estivesse implantando e funcionando redondinho, o trabalho poderia ser feito em muito menos tempo. Mas ninguém queria dar o braço a torcer. Eles tinham trabalhado na ponta do lápis durante toda a sua vida e sempre funcionou. Por que é que agora uma meia dúzia de iluminados (como nos chamavam) achava que ia conseguir fazer melhor?
 

Naquela época no Brasil nem se falava em computador pessoal, o PC. Toda essa briga era para conseguir processar os dados dos diversos departamentos em mini-computadores, cujas CPU´s ficavam numa sala com ar condicionado. Quando caía a energia era uma correria para abanar o bicho, senão ele torrava. Os back-up´s eram enormes panelões que se guardavam em cofres. Depois de árduas batalhas, quando os antigos estavam quase se dobrando, começaram a aparecer os pequenos micros de mesa. Ai, ai, ai! Começou tudo de novo. Eram pilhas de reclamação, de gente com medo de perder o emprego, de acomodados que não queriam aprender como lidar com aqueles "monstros". A gente se sentia ator de filme de ficção.
 

Fico imaginando o sorriso irônico no rosto de quem está lendo esta coluna em pleno século 21. Contar isso para essa geração Internet é certeza de ouvir piadinhas do tipo: "Ei, tio, faz tempo isso, hein?". "Ah! Isso é história do século passado!!" A gente se sente pré-histórico. Mas quem viveu esta época saberá aquilatar a importância e a dificuldade da mudança.
 

Esta é a principal lição de "remendar roupa velha com tecido novo". A roupa velha já "laceou" o que podia, não estica mais. Já o pano novo ainda consegue e até pede. Eles não combinam. Um vai acabar tirando o espaço do outro. E no fim, todos perdem. É como guardar vinho fresco em embornais de couro que já estão curtidos. Dá rachadura, rompe o frasco e o vinho se derrama.
 

Quando se limita o coração e a cabeça, fica difícil colocar alguma coisa nova ali. Quando uma cabeça já esticou ao máximo, já deu o que tinha que dar, já chegou no limite, é preciso trocar de cabeça. Cristo está sugerindo a necessidade de uma mentalidade que se possa renovar.
 

Esta é uma característica que fascina no cristianismo. Porque cristianismo não é algo estático, inerte, pusilânime. Isto não tem nada a ver com cristianismo. Cristianismo é coisa de quem tem flexibilidade. É coisa de quem percebe o tempo passar não apenas para ficar contando histórias saudosistas, mas para ter coragem de reconhecer que chegou a hora de arrumar um odre novo para colocar o vinho novo. Odres que nos serviram durante um tempo às vezes precisarão ser abandonados hoje. Caso contrário, perderemos a chance de experimentar coisas novas que Deus tem preparado para nós. Deus, sábio como é, não vai permitir que a sua novidade se estrague, derramando-a sobre as nossas vidas, se nossa mentalidade são odres velhos, já suficientemente esticados, que precisam ser substituídas por algo novo.
 

Este é um momento delicado. Pode passar a falsa impressão de que tudo o que se fez não valeu nada; de que estamos desprezando o trabalho dos outros. Mas lembre-se de que não são as pessoas que estão pedindo isso de nós. Quem está pedindo isso é Deus. Ele quer uma transformação que venha pela RENOVAÇÃO da nossa mente. Deus criou um mundo que não pára. Estamos sempre em movimento. A vida continua, companheiros cristãos. O trem da história não parou ainda.
 

Também não nos esqueçamos de que tudo o que hoje é velho um dia já foi novo. Tudo o que é tradicional, um dia esteve nos seus primeiros dias. E o que hoje chamamos de novidade, um dia não servirá mais. A lição não é só para quem hoje não consegue se livrar do velho de ontem, mas também para os que amanhã não conseguirão se livrar do novo de hoje.
 

Não nos apeguemos demasiadamente ao odre. Quem se agarra ao odre, deixa de experimentar o vinho. O odre é a estrutura, o método, o jeito de fazer, a forma, o chamado
 modus operandi. Não é isso que importa. Não é por isso que vale a pena brigar. Isto tudo é odre. O que interessa mesmo é o vinho. 

Enquanto muita gente briga e se divide por causa do odre, tem outros bebendo vinho estragado. Enquanto alguns brigam por causa da cor do remendo, não percebem que a roupa está se rasgando e expondo o corpo nu à vergonha desditosa. Vamos concentrar no que interessa. Sejamos genuinamente cristãos, dispostos a receber vinho novo.
 

Lembre-se de que o Senhor trabalha na contramão, no imprevisível. Normalmente, o vinho para ser bom precisa ser velho e o melhor vinho fica para o fim. Quando, porém, Cristo transforma água em vinho nas bodas de Caná, os elogios para o noivo foram no sentido de que o vinho novo estava melhor.
 Se deixarmos Deus derramar seu vinho novo sobre as nossas vidas, poderemos experimentar a realidade nunca vista de um cristianismo autêntico, eficiente, dinâmico e real. Se, no entanto, continuarmos a discutir por causa dos odres, nunca teremos esta experiência. Nunca foi grande negócio tentar limitar Deus à nossa visão pequena, ao nosso odre antigo, à nossa roupa velha e rasgada. 

Sabe o que aconteceu quando, finalmente, conseguimos informatizar a empresa? Tornamo-nos a 3ª maior do país no nosso ramo de atividade. Foi o maior boom, o período mais próspero e auspicioso de uma empresa que já existia há 20 anos.
 

Valeu a pena insistir e investir na mudança de mentalidade.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Histórias para a vida (4): Linha aberta

Porque o Filho do Homem veio salvar quem está perdido. O que é que vocês acham que faz um homem que tem cem ovelhas, e uma delas se perde? Será que não deixa as noventa e nove pastando no monte e vai procurar a ovelha perdida? Eu afirmo a vocês que isto é verdade: Quando ele a encontrar, ficará muito mais contente por causa dessa ovelha do que pelas noventa e nove que não se perderam. Assim também o Pai de vocês, que está no céu, não quer que nenhum destes pequeninos se perca.

A existência humana está reduzida a um número no cadastro. Você é um R.A., um R.G., um CPF, um CNPJ. Nossa vida é marcada por números perdidos em meio a milhões de outros. Em grande parte de nossas atividades, somos apenas um número. 

A impessoalidade é a marca do nosso tempo. Você liga para o banco, não fala mais com uma telefonista. Fala com uma fita. É maltratado pela companhia aérea, não fala mais com um gerente. Escreve um e-mail. Vai ao supermercado e quer dar uma sugestão, precisa escrever tudo e colocar numa caixinha (que me parece nunca é aberta...). Quer fazer amizades? Nem precisa sair de casa: abra o Facebook e em breve você terá uma porção de amigos virtuais, aos quais você provavelmente nunca verá e se pudesse vê-los e saber mais sobre eles talvez ficasse decepcionado. As pessoas não têm tempo para você. Elas não querem parar e ouvir. Há muito o que fazer, problemas a resolver, decisões a tomar, metas a cumprir. Até para comer hambúrguer você é um simples número. Você vai ao balcão do Mc Donald´s e o atendente grita: "Eu tenho um número 5!" A rigor, o que aconteceu foi que o RG 16.678.987, morador no imóvel matrícula 23X2345, casado com o RG 15.456.876 pediu um número 5 e isto foi a venda nº 1.276.768, às 14h37. Caramba!
 

Até mesmo igrejas agem assim. "Temos culto aos sábados à noite, domingos de manhã e domingos à noite. Faça sua escolha. Se precisa de salvação, venha domingo à noite. Se é jovem, venha sábado. Se tem criança em casa, venha domingo de manhã. Sente em seu lugar e cresça. É tudo o que temos a oferecer." É o tempo da praticidade, da facilitação, do pragmatismo. Vamos trabalhar no atacado, porque isso reduz custos. Meia dúzia de pregadores por mês dão conta do recado. Um reluzente luminoso na frente de um belo templo, boa música e uma mensagem. Para quê mais?
 

Algum tempo atrás, conversei com um missionário estrangeiro que serve a Deus no Brasil há muitos anos. Em visita à sua terra natal, foi a uma igreja para cultuar a Deus. Entrou, cantou, ouviu a mensagem, saiu e não foi "importunado" por ninguém. Uma igreja tipo fast food, coisa moderna. Peça pelo número.
 

Seguindo os passos de Jesus Cristo pelos evangelhos, encontramos um modelo bem diferente. Pense nos extraordinários encontros dele no Evangelho de João. Este evangelho bem poderia ser chamado de "O Evangelho da Ovelha Perdida". Veja quantas pessoas ele encontrou em particular: 
André (1:40), Simão Pedro (1:42), Felipe (1:43), Natanael (1:48), Nicodemos (3:1-15), a mulher samaritana (4:1-26), o oficial romano (4:46-53), o homem enfermo no tanque de Betesda (5:5-8), a  mulher "pecadora" (8:10,11), o cego de nascença (9:35-38), Maria de Betânia (12:1-3), Maria Madalena (20:11-16), Tomé (20:27) e novamente Pedro (21:15-18).

Em cada caso, uma revelação especial, um encontro transformador, uma oportunidade nova, uma mão estendida, uma solução. Por que se importar com Nicodemos, se os fariseus tanto faziam para persegui-lo? Por que conversar com Pedro, que dias antes o negara aberta e completamente? Por que se envolver com a história de uma mulher de reputação duvidosa, acusada de adultério? Por que parar ao meio-dia para conversar com uma samaritana no meio da rua? Por que aquele doente e não tantos outros em redor daquele tanque? 

Porque Jesus não é pastor de atacado. Para ele, ninguém é um número. Jesus não se preocupava com os números do IBGE, mas com um coração pulsando dentro do peito. Mesmo porque as estatísticas falam em 1% de perda. Uma ovelha perdida em 100 é um resultado fantástico. Mas Ele precisava falar com pessoas individualmente porque sabia quão cara é uma única alma aos seus olhos. 99 estão seguras, mas tem uma que precisa de salvação. É por isso que Ele tinha tempo para as pessoas. Ele queria conquistá-las. Queria mostrar a elas que seu caminho de devassidão e indiferença as levaria a um fim desastroso e irreversível.
 

Sempre me emociono quando penso na cena de Maria Madalena no cemitério no domingo da ressurreição. Que sentimentos, que reações, que susto, que alívio, que coquetel de pensamentos lhe atingiram o coração quando uma voz tão conhecida e meiga quebra o silêncio daquela manhã, chamando-a pelo seu nome: "Maria!" Não uma voz de censura, mas uma voz de consolo. E Tomé? Duvidou, achou que os outros estavam loucos, só ia acreditar se pusesse a mão nas feridas do Mestre. Uma semana depois, ele está lá. Ao invés de ouvir algo do tipo "Por que você faltou da reunião na semana passada?", ele recebe do Senhor um alento à sua fé. Parece até que Jesus vai até lá naquele dia só para isso. Para Cristo, Tomé não é apenas "um dos doze". Ele é Tomé.
 

Que bom saber que o Pastor e Bispo da minha alma nunca me falta. Não preciso ficar esperando na linha por meia hora para depois ser atendido por uma gravação do anjo Gabriel: "Você ligou para o céu. No momento não podemos atender. Deixe seu recado e assim que possível entraremos em contato." Não. A linha está sempre aberta. Tenho um novo e vivo caminho que meu Pastor me consagrou pela sua própria vida. Tenho acesso contínuo à presença dele. Ele pára o mundo para me ouvir.
 

Um dia ele olhou para mim como se eu fosse a única criatura a precisar de sua bênção. Você poderia estar entre as 99; eu era aquela por causa de quem um dia ele parou tudo. Somente para me salvar.
 

Nunca encontrei alguém assim.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Histórias para a vida (3): Talento pra que?

Jesus continuou: O Reino do Céu será como um homem que ia fazer uma viagem. Ele chamou os seus empregados e os pôs para tomarem conta da sua propriedade. E lhes deu dinheiro de acordo com a capacidade de cada um: ao primeiro deu quinhentas moedas de ouro; ao segundo deu duzentas; e ao terceiro deu cem. Então foi viajar. O empregado que tinha recebido quinhentas moedas saiu logo, fez negócios com o dinheiro e conseguiu outras quinhentas. Do mesmo modo, o que havia recebido duzentas moedas conseguiu outras duzentas. Mas o que tinha recebido cem moedas saiu, fez um buraco na terra e escondeu o dinheiro do patrão. Depois de muito tempo, o patrão voltou e fez um acerto de contas com eles. O empregado que havia recebido quinhentas moedas chegou e entregou mais quinhentas, dizendo: "O senhor me deu quinhentas moedas. Veja! Aqui estão mais quinhentas que consegui ganhar." "Muito bem, empregado bom e fiel", disse o patrão. "Você foi fiel negociando com pouco dinheiro, e por isso vou pôr você para negociar com muito. Venha festejar comigo!" Então o empregado que havia recebido duzentas moedas chegou e disse: "O senhor me deu duzentas moedas. Veja! Aqui estão mais duzentas que consegui ganhar." "Muito bem, empregado bom e fiel", disse o patrão. "Você foi fiel negociando com pouco dinheiro, e por isso vou pôr você para negociar com muito. Venha festejar comigo!" Aí o empregado que havia recebido cem moedas chegou e disse: "Eu sei que o senhor é um homem duro, que colhe onde não plantou e junta onde não semeou. Fiquei com medo e por isso escondi o seu dinheiro na terra. Veja! Aqui está o seu dinheiro." "Empregado mau e preguiçoso!", disse o patrão. "Você sabia que colho onde não plantei e junto onde não semeei. Por isso você devia ter depositado o meu dinheiro no banco, e, quando eu voltasse, o receberia com juros." Depois virou-se para os outros empregados e disse: "Tirem dele o dinheiro e dêem ao que tem mil moedas. Porque aquele que tem muito receberá mais e assim terá mais ainda; mas quem não tem, até o pouco que tem será tirado dele. E joguem fora, na escuridão, o empregado inútil. Ali ele vai chorar e ranger os dentes de desespero."

Seu amigo vai passar um ano no exterior. Você fica no apartamento dele. Primeira semana, sua filha está aprendendo a escrever e revela sua nova capacidade com belíssimos hieróglifos na estante de jacarandá, madeira de lei, tratada, rara e, principalmente, cara. Você torce como nunca para seu amigo arranjar emprego e ficar por lá mais dez anos. Que tremenda responsabilidade!

É este o sentido da palavra "mordomia". Administrar o que é dos outros. Cuidar do que não lhe pertence. É o serviço do despenseiro. E o que se espera dos despenseiros "é que cada um deles seja encontrado fiel." É assim que o Mestre descreve nossa vida. Somos responsáveis por cada dádiva que Deus nos dá. Tudo o que somos e temos são, na verdade, coisas que Deus nos confiou para que tomemos conta. Um dia ele vai nos pedir contas de cada uma delas. E não são poucas.

Pense no nosso corpo. Uma intrincada máquina biológica, não totalmente desvendada pela ciência. Nosso cérebro, por exemplo, é tão pouco conhecido que ainda merece investimentos de milhões de dólares em pesquisas a cada ano. Tanto potencial e às vezes tão pouco usado... Nossa visão, nossos sensores, nosso raciocínio. Para que Deus nos preparou um recurso tão extraordinário, que nem anjos e principados tem? Segundo o Paulo apóstolo, para glorificarmos a Deus (I Co 6:20). Por isso, quando o usamos para mera exibição de curvas e músculos, estamos reduzindo infinitamente seu propósito e fazendo dele um uso extremamente inconveniente. Ou quando o usamos como um parque de diversões, para a satisfação dos prazeres que ele pode proporcionar, estamos "escondendo dinheiro na terra". Isso vai nos custar caro.
 

E o nosso tempo? Quando somos jovens, achamos que ele é inteiramente à nossa disposição e que nunca vai nos faltar. Podemos esbanjá-lo, abusar dele à vontade. Raramente o encaramos com a seriedade que precisamos. Usamos grande parte dos nossos dias de juventude frivolamente. Dizia a canção que "o futuro é uma astronave que tentamos pilotar". Acreditamos nisso. Achamos que podemos conduzir nosso destino e que no momento em que quisermos, podemos recuperar o tempo perdido. Esquecemos de que se há uma coisa que jamais pode ser recuperada é exatamente o tempo. Dinheiro, fama, prestígio, emprego, posição social, bens materiais, isso tudo você pode recuperar. Mas o tempo não. Por isso Moisés disse que um coração sábio é aquele que aprendeu a contar os seus dias. E o sábio Salomão disse que é melhor aproveitar o tempo que somos jovens para nos dedicar a Deus, porque chegarão dias ruins, dos quais a gente vai querer se livrar e quando não teremos mais força para fazer o que gostaríamos. Já dizia o filósofo Smilingüido, "quem não tem tempo para Deus, vive perdendo tempo".
 

Além disso, se você é um cristão, deve saber que Deus lhe deu dons espirituais, quer dizer, capacidades especiais para fazer algum trabalho no seu Reino. É triste perceber como grande parte dos cristãos nem se preocupa com um assunto de tanta importância como este. Muitos que conheço sequer se dedicaram a descobrir qual é o dom que receberam. Acham que isso é coisa para quem for fazer seminário ou para quem está pensando em ser missionário. Não sabem que é algo que Deus lhes deu para ser usado e menos ainda sabem que Deus pedirá contas do uso que fizeram disso. Passam seu tempo nas igrejas sem qualquer envolvimento ou compromisso, enquanto seus dons vão enferrujando até ficarem inativos. Administram mal o que Deus lhes confiou.
 

Também recebemos de Deus muitos bens. Dinheiro, carro, casa, equipamentos de toda sorte. É o que chamamos de "nossa vida material". É como se o cristão fosse uma espécie de loja de departamentos. Cama, mesa e banho no térreo. Som e imagem no primeiro andar. Móveis no segundo e assim por diante. De onde tiramos este conceito de vida material e vida espiritual como duas coisas separadas e incongruentes, é difícil dizer. Posso afirmar que não foi da Bíblia. Tudo o que somos pertence a Deus e precisa ser encarado como parte da nossa vida cristã. Deus está tão interessado na maneira como você gasta seu dinheiro como na maneira como você o cultua no domingo de manhã. Até porque uma coisa será o reflexo da outra. Você só saberá como usar seus bens materiais se aprender primeiro como adorá-lo adequadamente. Quem não pensa assim, acabará com as prioridades de sua vida completamente invertidas e terá muito pouca utilidade para Deus.
 

Adiciona a esta lista a sua formação acadêmica. Muitos de nossos pais não tiveram a oportunidade de chegar onde chegamos em termos de estudos. Estou certo de que Deus não depende do conhecimento humano para realizar seus propósitos no mundo, mas fico pensando nas inúmeras oportunidades que se abrem na vida da igreja brasileira, no momento em que grande parte de seus jovens membros estão se tornando médicos, dentistas, advogados, pedagogos, assistentes sociais, engenheiros, enfermeiros, fisioterapeutas, músicos e tantas outras atividades. Se este extraordinário exército de profissionais compreender que Deus não lhes permitiu esta bênção apenas para encherem seus bolsos de dinheiro (como o Mar Morto, que recebe água mas não a compartilha com ninguém), mas para que sejam canais de bênção para outros, não dá para imaginar o que pode acontecer no nosso país nestes últimos dias. Não é à toa que Deus tem dado este privilégio à nossa geração.
 

Que uso fazemos daquilo que Deus nos confiou? Que importância damos a esta questão? O que nos dirá o Dono da propriedade quando ele vier pedir contas do que recebemos para administrar?

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Histórias para a vida (2): Meu caderninho de 490 páginas

Leia o Histórias para a vida (1) e acompanhe o restante da série, que será postada diariamente durante duas semanas. 


Então Pedro chegou perto de Jesus e perguntou: - Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes? Não! - respondeu Jesus. - Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta vezes sete. Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu fazer um acerto de contas com os seus empregados. Logo no começo trouxeram um que lhe devia milhões de moedas de prata. Mas o empregado não tinha dinheiro para pagar. Então, para pagar a dívida, o seu patrão, o rei, ordenou que fossem vendidos como escravos o empregado, a sua esposa e os seus filhos e que fosse vendido também tudo o que ele possuía. Mas o empregado se ajoelhou diante do patrão e pediu: "Tenha paciência comigo, e eu pagarei tudo ao senhor." O patrão teve pena dele, perdoou a dívida e deixou que ele fosse embora. O empregado saiu e encontrou um dos seus companheiros de trabalho que lhe devia cem moedas de prata. Ele pegou esse companheiro pelo pescoço e começou a sacudi-lo, dizendo: "Pague o que me deve!" Então o seu companheiro se ajoelhou e pediu: "Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei tudo." Mas ele não concordou. Pelo contrário, mandou pôr o outro na cadeia até que pagasse a dívida. Quando os outros empregados viram o que havia acontecido, ficaram revoltados e foram contar tudo ao patrão. Aí o patrão chamou aquele empregado e disse: "Empregado miserável! Você me pediu, e por isso eu perdoei tudo o que você me devia. Portanto, você deveria ter pena do seu companheiro, como eu tive pena de você." O patrão ficou com muita raiva e mandou o empregado para a cadeia a fim de ser castigado até que pagasse toda a dívida. E Jesus terminou, dizendo: - É isso o que o meu Pai, que está no céu, vai fazer com vocês se cada um não perdoar sinceramente o seu irmão.

Já ouviu ou já disse alguma vez algo do tipo: "Eu perdôo, mas..."? Pois é, foi exatamente para ensinar esta a lição que Jesus contou esta parábola. Não foi para dizer que dívidas não precisam ser pagas, mas para mostrar que sempre seremos devedores quando se trata de ofensa e perdão. Nunca estaremos isentos de tratar desta questão enquanto estivermos neste mundo. 

Lá vem o irmão Pedro, com seus cálculos. Se eu perdoar 7 vezes, isso dá uma vez por semana. Tá ótimo! Quem vai ser o abusado que vai querer me ofender mais do que isto? Ok, Pedro, mas sua conta está errada. Você precisa estar pronto a fazer mais do que isto. 70 vezes 7.
 

Bem, isto não é tão ruim. Passo na papelaria mais próxima, compro um caderno numerado e começo a anotar data, hora, nome e telefone daqueles que me ofendem. Eu perdôo, mas... anoto no caderninho. Perdôo, mas... não esqueço. Perdôo, mas...vou lançar isso em rosto toda vez que tiver uma chance. Perdôo, mas... o Brasil inteiro vai saber o que você fez comigo. Eu perdôo, mas... em 1945, às 14h30 daquele dia chuvoso de maio você me disse isso ou aquilo.
 

Não fica claro que este raciocínio vai na contramão do que Jesus acabou de ministrar? De fato, esta história é uma belíssima ilustração do que ele já havia ensinado quando fez a chamada Oração do Pai Nosso: 'Perdoa as nossas ofensas como nós temos perdoado os que nos ofendem'.
 

Deus nos perdoou uma dívida de milhões. Impagável. Sufocante. Mortal. Com que a pagaríamos? Teríamos que nos tornar escravos para sempre e mesmo toda uma eternidade de sofrimento não seria suficiente para esgotá-la. Jamais conseguiríamos. Mesmo que nossos parentes tentassem por gerações depois da nossa morte, "os seus recursos se esgotariam, porque a redenção da alma é caríssima" (Sl 49:7,8). Simplesmente impossível. Havia uma conta contra nós, uma promissória implacável, um escrito de dívida a nos prejudicar. Então, o próprio Filho de Deus desce e vem pagar nossa conta. Ele não devia nada, tinha todos os méritos, todos os recursos. Paga com sua própria vida, quita a duplicata, remove o débito. É assim que Paulo descreve esta transação:

Deus perdoou todos os nossos pecados e anulou a conta da nossa dívida, com os seus regulamentos que nós éramos obrigados a obedecer. Ele acabou com essa conta, pregando-a na cruz. (Colossenses 2:13,14)


Por que o rei perdoou o seu servo? Algum merecimento? Folha de serviços prestados? Interesse pessoal? Investimento para o futuro? Não acredite. A razão está no texto: teve pena dele. Foi graça pura. Foi uma decisão unilateral e só podia ser assim. Era para o rei que o servo devia e só ao rei cabia a decisão de perdoar. E assim se fez.
 

Até hoje funciona assim com a graça de Deus. Perdoar é uma prerrogativa divina. Até os maus fariseus sabiam disso, tanto que questionaram Jesus quando ele perdoou os pecados de um paralítico a quem acabara de curar: "Quem pode perdoar pecados, senão Deus?" É contra Ele que pecamos, é a Ele que devemos. A única coisa que coube ao servo foi reconhecer sua condição e implorar por misericórdia. Isto gerou no rei a compaixão que levou-o perdoar a dívida. 
Deus espera unicamente um coração contrito e quebrantado. Uma atitude de reconhecimento da miserabilidade da nossa condição. Uma declaração de incapacidade, de dependência. Isto basta. 

Nós não temos disposição para perdoar dívidas de umas poucas moedas. Somos mesquinhos, regrados, medidos, contados quando se trata de negociar a dívida que os outros têm conosco. Quantas vezes devo perdoar? Até quando preciso suportar isso? Não há uma brecha no cristianismo que justifique minha atitude de não aceitar esse desaforo? 

É incrível, mas algumas vezes até conseguimos inventar algumas justificativas para nossa atitude de não perdoar. Digo isso porque muitos desamores e atitudes amargas no meio do povo de Deus são praticados em nome de Deus. Na suposta defesa da honra do Seu nome (como se Ele precisasse de alguém para defendê-lo), na suposta defesa dos "princípios bíblicos" e até mesmo na descarada defesa de nossa imagem e de nossa reputação, podemos chegar até as últimas conseqüências. Não é raro encontrar um cristão sacudindo o outro pelo pescoço e esbravejando: "Pague o que me deve!". São incontáveis os casos daqueles que vão para a cadeia do esquecimento, do cerceamento, da mordaça, da censura e dali não saem enquanto não "pagarem suas dívidas". São incontáveis os que ficaram marcados na vida, estarão marcados para sempre. Pior, grande parte dessas "dívidas" foram injustamente produzidas pelas artimanhas dos que querem ter o controle sobre as igrejas e sobre as pessoas, outras tantas engendradas por boatos e línguas ferinas, outras criadas por aqueles que sentem inveja e ciúme. Nem todas as dívidas são dívidas de fato. O que fazer quando isso acontece? Só tem um jeito (obrigado, Jesus, por esta dica): vá contar ao Patrão. Ele é justo e tomará as providências.
 

A lição central desta parábola é que precisamos cultivar um coração perdoador. Em outras palavras, precisamos ter sempre prontidão para perdoar. Levando em conta o que Deus nos perdoou, nenhuma ofensa será mais grave ou mais difícil de ser perdoada. Devíamos muitos milhões. Perdoamos algumas moedas. O cristão que diz "eu não perdôo", seja abertamente seja pela atitude, precisa rever sua fé.
 

Observe que esta parábola não é uma licença para pecarmos contra o próximo o quanto quisermos. Não é salvo-conduto para sairmos pela vida apedrejando os nossos conservos. Não é desculpa para ofendermos os outros porque não conseguimos refrear a nossa língua. Lembre-se de que a Bíblia não ensina o pecado abundante, mas a graça abundante.
 

Outra lição importante. A dívida dos servos era real. Não era fictícia. Não era inventada. Eles realmente deviam. O perdão não deve ser banalizado, desmerecido. Perdão se dá quando há ofensa de verdade. Há muito tempo que os cristãos têm usado este texto para fazer com que o mundo se curve aos seus pés. Está cheio de gente que "se ofende" com a mesma facilidade com que trocam de camisa todos os dias. Quando se vai ver mais de perto, amiúdo se percebe que esses tais são na verdade os verdadeiros ofensores, que se utilizam pessimamente de um recurso tão caro e importante como o perdão para conseguir o que querem: bajulação e veneração dos homens.
 

Seria necessário, neste momento em que você lê estas palavras, jogar fora algum caderninho escondido em alguma gaveta da sua alma? Há pessoas que você colocou numa lista negra, que passaram da conta com você? Ou será que você tem abusado do perdão, exigindo que as pessoas o perdoem sem vigiar para que você não as ofenda de novo?
 

Trate isso com o Rei. Você vai ser muito mais feliz se agir do jeito que Jesus ensinou.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Histórias para a Vida (1) - Antes de começar

Por que Jesus falou em parábolas? Resposta simples e automática: para explicar bem as coisas que ele queria dizer e para que o povo entendesse melhor. Certo? Lamento, mas segundo o que ele próprio disse, a resposta está no mínimo incompleta. Leia você mesmo a explicação de Jesus para o seu gosto por parábolas:

"É por isso que eu uso parábolas para falar com eles. Porque eles olham e não enxergam; escutam e não ouvem, nem entendem. E assim acontece com eles o que disse o profeta Isaías: "Vocês ouvirão, mas não entenderão; olharão, mas não enxergarão nada. Pois a mente deste povo está fechada: Eles taparam os ouvidos e fecharam os olhos. Se eles não tivessem feito isso, os seus olhos poderiam ver, e os seus ouvidos poderiam ouvir; a sua mente poderia entender, e eles voltariam para mim, e eu os curaria! - disse Deus." (Mt 13:13-15 BLH)

Em um sentido, é justamente pela razão oposta do que parece que Jesus falou por parábolas. Ao invés de ser para ajudar pessoas a entender, ele queria mesmo era complicar! Não é intrigante? Não lhe soa estranho? Mas você notou a citação de Isaías que Jesus usou para corroborar sua atitude? Eles não queriam saber. Não tinham ouvidos dispostos a ouvir nem corações inclinados a aprender. Era um povo enfatuado e orgulhoso que, na sua esmagadora maioria não somente descreu dele como finalmente o rejeitou abertamente, a começar dos líderes religiosos.

A exceção foi os discípulos. Quando ele "manifestou a sua glória, seus discípulos creram nele" (João 2:11). E então Marcos, o evangelista, nos revela que 
"usando muitas parábolas como estas, Jesus falava ao povo de um modo que eles podiam entender. E só falava com eles usando parábolas, mas explicava tudo em particular aos discípulos." (Mc 4:33-34 BLH). Quer dizer, aqueles que creram podiam compreender, porque ele interpretava-lhes o sentido do seu ensinamento. 

Assim, iniciamos com uma grande lição sobre essas preciosas parábolas: coisas espirituais são ao mesmo tempo tão simples que podem ser ilustrados com histórias quase infantis. Mas ao mesmo tempo, são tão profundas que só podem ser compreendidas pela fé sincera e pelo coração aberto a ouvir e praticar a voz de Deus. 

Para entender o ensino de Jesus, não são necessários anos de seminários ou de estudos acadêmicos. Os fariseus, escribas e sacerdotes eram versadíssimos nas Escrituras. Eram doutores em Bíblia. Podiam esfregar a Bíblia na sua cara e dizer orgulhosamente que conheciam de cór trechos inteiros dos quais talvez você nem tenha ouvido falar. Só que tudo isso não passava de conhecimento teórico. Quando Cristo chegou e revelou-se ao mundo, eles ficaram escandalizados. Todo o seu preparo acadêmico caiu por terra. Não raro é o que acontece com muitos que saem das escolas bíblicas e seminários hoje em dia. Sem generalizar, é claro. Mas tem muita gente perdendo a fé no seminário. 


Outra tremenda lição é que nem sempre a noção correta de quem é Jesus e a compreensão correta do que ele ensina e quer de nós pertence aos mais antigos, aos mais famosos e aos mais poderosos. Isto se mostrou verdadeiro na época de Jesus, na Idade Média, nos avivamentos mundiais e ainda se mostra verdadeiro nas igrejas de hoje em dia. Disse o poeta: "a sabedoria mora com gente humilde". Pessoas simples e iletradas, como os pescadores galileus Pedro, Tiago e João, poderiam calar todo um ilustre Sinédrio quando falassem em nome de Jesus. A eles foi dado conhecer os mistérios do reino.
 

Qual é a sua atitude diante das Histórias Para a Vida que Jesus contou? Não me refiro aos comentários que me propus a fazer nesta coluna para as próximas semanas, mas às palavras que ele mesmo proferiu e que foram registradas para nós. Como você se aproxima delas? Isto equivale a perguntar: Por que você vai à igreja? Por que carrega uma Bíblia? Por que canta hinos de louvor a Deus? Por que se diz um cristão? É isto o resultado de uma fé sincera e fervente, de uma compreensão, ainda que turva e fraca, mas correta, de quem Jesus realmente é?
 

Você pode ser líder, grande, poderoso, famoso, influente, dentro e fora de uma igreja. Se não compreender, através da fé, quem Jesus É, jamais compreenderá o que ele DIZ. Você será sempre daquele time que ouve e não entende, que olha e não enxerga. Pode até pregar muito bem, como faziam os fariseus e escribas. Pode escrever coisas bonitas sobre Jesus. Os escribas e saduceus o faziam. Mas vai seguir sendo apenas, com todo o respeito, um tapado.
 

Creia. E permita que sua fé o leve a uma atitude correta em relação a Jesus e ao seu ensino. Isto tem o poder de transformar uma vida.



Acompanhe o restante da série, que será postada diariamente durante duas semanas. 

segunda-feira, 26 de março de 2012

O Facebook de Tiago

Ao ler a carta de Tiago, você percebe claramente os ecos do Sermão do Monte. Tanto lá como cá, o assunto é o mesmo: a ética do Reino, a verdadeira espiritualidade, a coerência entre a profissão de fé e a vida de fé. Jesus deixa claro que a religiosidade dos fariseus e escribas não era suficiente para agradar a Deus e desenvolver o espírito. A proposta daqueles líderes era a de uma fé morta: a observância das leis e tradições sem a observância dos princípios a elas subjacentes (Mt 12:1-13; 23:23 etc.). Este é o mesmo argumento de Tiago em sua epístola.
Uma das áreas da vida mencionadas neste contexto de espiritualidade prática é a língua. São alertas fortes e explícitos, corroborados por outros apóstolos, que ajudam poderosamente a vida de quem deseja usar sua língua de forma coerente com a religião que realmente agrada a Deus. Outras Escrituras nos levam para a mesma direção. Paulo, escrevendo a efésios e colossenses, dá alguns exemplos de usos da língua incompatíveis com a verdadeira espiritualidade: linguagem obcena (Cl 3:8), conversa frívola (Ef 5:3-4), maledicências (Cl 3:8), mentiras (Cl 3:9; Ef 4:25), verborragias (Ef 4:31), Linguagem depreciativa (Ef 3:29).
Tudo isso pode ser resumido em seis declarações nos capítulos 1 e 3 de Tiago, que se constituem num manual prático do bom uso da língua:
  1. Usar mal minha língua depõe contra minha fé (1:26).
  2. Usar mal minha língua é sinal de imaturidade (v.2).
  3. Usar mal minha língua me deixa sem controle do resto do meu ser (v.3,4)
  4.  Usar mal minha língua pode incendiar o mundo (v.6).
  5.  Usar mal minha língua pode envenenar alguém (v.8).
  6.  Usar mal minha língua é fazer sair dela benção e maldição (v.10). 
Se Tiago vivesse em nossos dias, ele ficaria de boca aberta ao ver como os cristãos de manifestam nas redes sociais e em suas conversas do dia-a-dia, até na porta dos templos após os cultos!

Pacto dos 21 dias
Pensando nessas declarações, lembrei-me da proposta do Pr. Will Bowen, no livro “Pare de reclamar e concentre-se nas coisas boas” e quero sugerir um exercício prático sobre este assunto:
  1. Clique com o botão direito no quadro abaixo (Seis lembretes de Tiago sobre a língua), salve, imprima e fixe num lugar que esteja sempre à vista (se precisar, faça mais de uma cópia). 
  2. Use uma pulseira colorida, que será mudada de braço cada vez que você usar mal sua língua.
  3. Encontre alguém a quem você preste contas sobre isso pelo menos uma vez por semana, para avaliar seu desempenho.
  4. Poste nos comentários como tem sido o exercício, para incentivar os outros que estão fazendo o mesmo.
  5. O alvo é concluir 21 dias consecutivos sem mudar a pulseira de braço. Segundo Bowen, isto vai levar em média 4 a 6 meses.
Você viverá de forma bem mais leve se conseguir usar melhor suas palavras. Faça o teste e comprove.



 Marcos Senghi Soares