Em verdade, em
verdade vos digo: Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele
só; mas se morrer, produz muito fruto.
Esta parábola é diferente. Curta,
porém profunda. Não é apenas uma história PARA a vida, senão que é uma
história DA vida. Da vida de Jesus, o Filho eterno de Deus, o Deus feito
carne, o Criador e Sustentador do universo, aquele que fez todas as coisas
pela Palavra do Seu poder. O Autor e essência da vida falando sobre morte e
sobre a sua própria morte.
O Evangelho de Cristo sem dúvida traz novos e grandes paradoxos. Durante seu
ministério, Jesus quebrou muitos dos conceitos tradicionais que povoavam o
imaginário do povo. No Sermão do Monte, ele deixa claro que as
bem-aventuranças não são para os poderosos e atirados, para os que gostam de
mostrar seu poderio bélico ao mundo nem para os que gostam da truculência,
mas para os humildes de espírito e pacificadores. Ao ser tentado pelo diabo,
que lhe oferece fartura e poder, ele responde que fazer o que Deus quer é muito mais
importante que isso tudo, mesmo que implique em abrir mão dessas coisas
temporais.
E agora, encaminhando-se para o clímax de sua missão, ele afirma que a
maneira escolhida para que ele seja glorificado é morrer. Ao invés de assumir
o trono e o cetro do Império, ele assume uma cruz e uma coroa de espinhos. Ao
invés de entrar no palácio como Rei aclamado por todos, entrará como um réu
condenado à pena de morte.
Um grão de trigo. Que poderia ter sido poupado, se quisesse. Ele deixou claro
que ninguém poderia tirar sua vida. Ninguém tinha autoridade sobre ela. Sua
vida era algo que lhe pertencia. Mas ele estava disposto a entregá-la
voluntariamente, o que de fato fez. Este é, sem dúvida, o maior de todos os
paradoxos do evangelho ensinado por Jesus: para viver, é preciso morrer.
Abrir mão dos direitos da vida. Como uma semente, ele entrega sua vida para
que muitos outros nasçam e experimentem da graça da vida.
Toda a fartura e suficiência que encontramos à mesa do Rei provém do grão de
trigo que caiu na terra e morreu. Nós mesmos somos o "fruto do penoso
trabalho de sua alma". Nossa vida resulta da morte do Senhor, que não
considerou o fato de ser o Eterno como o mais importante de tudo. Fez-se
homem e, se consigo compreender corretamente o Evangelho, ele fez-se homem
exatamente para que, como homem, pudesse "dar a sua vida em favor de
muitos".
Muita gente pensa que Jesus morreu para dar um exemplo. Negativo. Jesus
morreu para dar vida. Exemplo ele deu nos 33 anos de sua caminhada entre o
povo. Quando ele morreu, seu exemplo já estava dado. Porém, se tendo
"caído na terra", andado entre nós, vivido de maneira tão santa e
perfeita, não tivesse morrido, teria ficado só. Ninguém jamais teria
conseguido viver sua vida em plenitude. Ninguém poderia dar fruto para a vida
eterna.
Com muito respeito e em tremenda reverência é que afirmo: se Jesus Cristo, o
grão de trigo, não tivesse morrido, sua vida perfeita revelada através das
páginas dos evangelhos, seus ensinos preciosos, seu amor e graça teriam pouco valor prático para nós. É ao morrer que Jesus abre a possibilidade de
que nós partilhemos de sua vida. Através de sua morte é que podemos viver.
Ele não ficou só. Aquele "por cuja causa e por quem todas as coisas
existem" está conduzindo muitos filhos à glória. As cenas
impressionantes do louvor e adoração diante do trono do Cordeiro dão conta de
"milhões de milhões e milhares de milhares" de homens e mulheres
remidos, que vivem porque Ele morreu. Que são salvos porque Ele se entregou.
Que adoram porque o grão de trigo não ficou só. E o que eles dizem?
"Digno é o Cordeiro QUE FOI MORTO!" Nosso motivo de louvor hoje é a
Cruz de Cristo. Parece que no céu não será diferente!
Que estupendo paradoxo. Ele nos ensina também, segundo a aplicação que o
próprio Senhor Jesus fez de sua parábola, que nossa vida só tem valor se for
entregue. Vivemos uma época em que está difícil encontrar cristãos que se
disponham sequer a viver por
Jesus. Que dirá morrer por
ele! Queremos a glória, mas não a vergonha. O trono, mas não a cruz. O cetro,
mas não a coroa de espinhos. Os aplausos, mas não os açoites.
Quem ama sua vida, perde-a. Quer dizer, quem não abre mão dos seus direitos e
os depõe sobre as mãos do seu Deus, como Jesus fez quando disse: "Pai,
nas tuas mãos entrego o meu espírito", jamais verá qualquer fruto.
Passará pela vida sem nada deixar e sem nada produzir.
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Dificilmente alguém conseguiria resumir melhor o que é a vida cristã.
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