segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Cânticos da Caverna parte 2 (Salmo 34): Expulso de Novo

Ficou claro para quem convivia com Saul que ele falava sério a respeito de eliminar Davi.

Jônatas, o filho de Saul, era o melhor amigo do futuro rei. Foi ele quem lhe avisou de que Saul estava mesmo decidido a tirar-lhe a vida. Ao saber disso, Davi fugiu para Nobe, uma cidade de sacerdotes ao norte de Jerusalém. Foi ali que ele comeu os pães sagrados, episódio evocado por Jesus diante dos fariseus. Então, ele atravessa a fronteira e tenta asilo em Gate, com o rei Aquis (Abimeleque era um título de sua dinastia, como “Faraó”) Com medo de que Davi estivesse ali como espião, os funcionários do rei desconfiam dele e o denunciam. Davi fica com medo, se finge de maluco para ser poupado e é expulso de lá. Agora, é o procurado  número 1 em sua terra e não é bem quisto no país vizinho. Leia o episódio completo em I Samuel 21:1-5; 22:1-2).

Nesta ocasião, ele escreve o salmo 34, bem conhecido de quem lê a Bíblia regularmente. Alguns de seus versículos estão entre os mais citados da Bíblia, como “o anjo do Senhor acampa ao redor dos que o temem o os livra”; “engrandecei ao Senhor comigo e todos à uma lhe exaltemos o nome” ou ainda “perto está o Senhor de todos os que o invocam”. Raramente, no entanto, paramos para considerar o que o autor estava passando quando escreveu essas coisas. Quando sabemos, as palavras destes salmos ganham outro significado.

Sua primeira frase define uma decisão que ele tomou na vida: o louvor a Deus permanecerá sempre em seus lábios. Ao invés de reclamar e se lamentar, Davi prefere usar suas forças e habilidade artística para engrandecer o nome do Senhor. Quando as coisas não saem conforme o que esperamos ou gostaríamos, somos confrontados com as mesmas opções. Então diga com sinceridade: quando você está sendo atacado, perseguido, desprezado e odiado, a primeira coisa de que você se lembra é do seu hinário? Dá uma vontade de cantar louvores quando alguém quer acabar com você? Esta era a opção de Davi.

O texto de I Samuel 21:12 afirma que Davi “ficou com muito medo de Aquis”, quando este demonstrou que não queria sua presença por ali. Agora, diante do Senhor, de coração rasgado, o salmista diz “livrou-me de todos os meus temores” (v.4). Nosso problema não é sentir medo, mas o que fazer quando sentimos medo. A gente pode ficar paralisado e desistir da vida ou pode assumir que estamos com medo e confessar isso ao Senhor. Três verbos nos versículos 4 a 6 indicam a atitude certa quando o medo nos assola: buscar, contemplar e clamar ao Senhor. As três palavras indicam uma atitude de entrega. A busca de uma criança pelo colo da mãe ou do pai indica confiança total e anseio por segurança. A contemplação é o que melhor descreve a ideia de adoração. O clamor, no jargão jurídico, é a apelação em última instância. Assim, podemos enfrentar todos os nossos temores. 

Fazendo isso, Davi conseguiu ver que “o anjo do Senhor acampa ao redor dos que o temem e os livra” (v.7-8). Qualquer que seja a interpretação dada a este versículo, fica claro que Davi cria na presença protetora do Senhor em sua vida. Ele já tinha experimentado dormir com o inimigo acampado ao seu redor. Mas seus olhos espirituais lhe permitiam enxergar mais longe. Assim como Geazi só conseguiu ver os exércitos da Síria, enquanto Eliseu via os exércitos celestiais a guarda-los, Davi era capaz de confiar na proteção constante de Deus. Ele estava cantando: “Pode confiar em Deus, vale a pena se refugiar nele”.

Então ele se dirige aos “filhos” (provavelmente uma referência aos homens que estavam com ele) para lhes ensinar uma lição de vida naquele momento de adversidade (v.9-12): ele não permitiria que as circunstâncias determinassem seu destino e muito menos o seu caráter. Ele estava sofrendo duramente nas mãos de pessoas ímpias, que o privaram das coisas mais essenciais da vida, como um teto e um banho decente. Mas ele não revidaria com a mesma moeda. Continuaria crendo e ensinando que o temor do Senhor, manifesto em ações claras de retidão (como refrear a língua e se apartar do mal) são as características de quem realmente “ama a vida”.

Para fechar este salmo acróstico com chave de ouro, descobrimos que a presença do Senhor se manifesta na vida de Davi nesses momentos de perseguição e angústia de forma quase tangível (v.15-18). As palavras que ele usa para relatar que o Senhor estava perto dele são de um momento cara-a-cara: “os olhos do Senhor”; “o rosto do Senhor”; “os ouvidos do Senhor”. Deus não é um Ser distante, indiferente, burocrático. Muito ao contrário, para Davi, Deus está ali, rosto colado com ele. Pode ouvir o sussurro do seu coração angustiado. Está vendo tudo o que se passa. Deus está presente também nos momentos difíceis pelos quais o salmista passa. 

Para ler a Parte 1 clique aqui

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