sexta-feira, 21 de junho de 2013

O Povo no meio do povo














O povo brasileiro saiu às ruas.

Ainda não é claro o que ou quem tenha levado os milhares para as manifestações e protestos nem qual é, exatamente, o foco das reivindicações. O fato é que, mobilizados pelas mídias sociais, com uma liderança horizontal não facilmente identificável e um discurso amplo (talvez amplo demais), eles estão aí.

Em sua maioria adolescentes e jovens, são acompanhados de profissionais engravatados, senhores e senhoras, avós e famílias inteiras, eles mostraram a cara. Mostraram que na evolução de uma nação rumo ao desenvolvimento não se aceita mais apenas samba e futebol.

É direito do povo, dentro das regras do Estado Democrático de Direito, fazer sua voz ouvida nas ruas e exigir que seja representado condignamente em todas as esferas do poder. Tudo isso está certo.

Porém, no meio deste povo brasileiro há outro povo. Que não tem nacionalidade, nem bandeira partidária, nem ideológica, nem mesmo religiosa ou denominacional. É o “povo de propriedade exclusiva de Deus” (I Pedro 2:9). É formado por aqueles que submeteram suas vidas voluntariamente e por fé ao Rei dos reis e Senhor dos senhores. Este Governador não compactua com a injustiça, uma vez que esta é essencialmente contrária ao Seu caráter:

 “Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e roubarem os órfãos” (Isaías 10:1-2 RA).
“Quando os justos florescem, o povo se alegra; quando os ímpios governam, o povo geme” (Provérbios 29:2 NVI).
Por isso, é perfeitamente cabível que este Povo também participe das passeatas, exponha seu pensamento e cobre as autoridades, com o devido respeito à lei e à ordem. Mas há algo que este Povo Exclusivo pode fazer que ninguém mais pode.

1. Este Povo Exclusivo pode clamar por justiça social, contra a opressão e os desmandos com voz profética. Quer dizer, pelas mesmas razões que os profetas clamaram. Isaías, Miquéias, Sofonias, entre outros, não eram reformadores sociais. Eles não estavam preocupados apenas em fazer uma sociedade ou um mundo melhor. Suas razões eram outras.  Sua verdadeira denúncia era: “vocês estão colhendo as conseqüências de sua decisão de dar as costas para Deus”. Esta lógica continua valendo. O mesmo Isaías afirmou:

“Quando os teus juízos reinam na terra, os moradores do mundo aprendem justiça” (Isaías 26:9 RA)
2. Este Povo Exclusivo pode ir além das causas sociais. É bom lembrar que o mesmo Isaías que denunciou a injustiça social também ergueu sua voz com os que seguiam a bebedeira, a imoralidade sexual e a manipulação do sacerdócio (Isaías 5:8-23). Em uma frase: contra seu estilo de vida frívolo e ímpio. Tenho o direito de questionar se o engajamento que se cobra dos cristãos às passeatas prevê esta pauta também.

3. Este Povo Exclusivo pode dar exemplo. Não é preciso ser cristão para ser honesto, ético e incorruptível. Mas para o cristão isto não é opção: é obrigação. Um cristão precisa ser correto dentro e fora da igreja; para quem pertence ao Reino de Deus as finanças são santas tanto no caixa da igreja quanto nos negócios ou no governo. As negociatas por baixo da mesa não deveriam ser aceitas em nenhuma instância da vida. E se povo brasileiro quiser saber o que certo, o Povo Exclusivo precisa saber apontar o caminho. Vale inclusive na hora de usar carteirinha falsa de estudante para pagar meia entrada no cinema, colar na prova ou mentir para os pais.

4. Este Povo Exclusivo pode orar. Não a oração do acomodado, daquele que espera Deus fazer o que ele sabe que é responsabilidade dele (como acudir ao necessitado, indignar-se contra toda forma de discriminação ou injustiça etc). A oração muda a História. Mudou no tempo de Neemias, mudou no tempo de Elias, mudou no tempo de Atos. E pode mudar a História do Brasil.

Diante disso, o que fazer? Sair à rua e juntar nossa voz à do sofrido povo brasileiro, cansado de ser feito de massa de manobra nas mãos de políticos inescrupulosos ou ir para a igreja orar? Dobrar os joelhos dentro do quarto ou esticar as canelas na passeata?

A resposta vem na forma de outra pergunta: por que um OU outro? Quem disse que são excludentes? Como cidadãos brasileiros, o povo de Deus deve reivindicar, sim, o fim da corrupção (que, diga-se de passagem, não começou no atual governo, mas é uma praga histórica que nos acompanha desde o “descobrimento”), da bandalheira, do descaso com a saúde pública.

Como cidadãos do céu, o povo de Deus deve clamar, reverente, pela misericórdia de Deus sobre nosso povo; por seus governantes (sejam eles do partido que for); e, especialmente, pela conversão dos corações do povo brasileiro a Deus.

Que este momento histórico na vida do país seja histórico também na vida da Igreja brasileira.

Viva o Brasil! Solo Deo Gloria!

Marcos Senghi Soares

7 comentários:

  1. Concordo com você. A igreja tem, entre suas funções, salgar o mundo, dar um novo sabor, equilibrar, temperar. Parece que a igreja evangélica brasileira está bem longe disso.Precisamos nos manifestar sim como cidadãos e cristãos que somos, obedecendo a palavra de Deus em e dar atenção e mostrar misericórdia aos menos favorecidos. Assim eram os 12 apóstolos que mudaram o mundo após andarem e conhecerem o Mestre. Que possamos ter a mesma consciência revolucionadora dos apóstolos, custe o que custar. Como disse Tomé: "Vamos nós também, para morrermos com ele". Que a nossa justiça possa estar alinhada à justiça de Deus. Outra coisa que vale ressaltar também é que questão da politização, ou a falta dela. Já se fala em impeachment da Dilma. Ok, se tirá-la quem ficará em seu lugar? Existe, hoje, um líder brasileiro que pode mudar o cenário do País? Não tenho partido, mas ele é extremamente necessário para a democracia. É só estudar um pouco de política para saber disso. Se a Dilma sair, o Temer assume. E com ele vem o Sarney. Você conhece a História do Brasil? O legado que esses políticos deixaram para o Brasil? Não adianta trocar personagens, não nesse momento. A mudança não é automática, pois o que precisa ser trocado é o sistema, e esse pode demorar algumas décadas. Que a discussão sobre o movimento saia um pouco de culpar partidos e avance para reforma política. Que Deus tenha misericórdia dos brasileiros.

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  2. Ok, defenda a participação de cristãos nessas mobilizações a partir de versos de Isaías e Provérbios que dizem UNICAMENTE, que o povo sofre quando o governante é ímpio, e que eles terão a retribuição por suas impiedades. E quanto a Romanos 13:1,2 - "Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas. Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos." O que dizer sobre esse trecho?

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  3. Oportuno e orientativo é o texto. Apenas uma pequena correção. A corrupção é mais antiga que os 500 anos. A primeira história, que me lembro, veio por meio de Geazi.

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  4. Prezado Rafael,
    o texto de Isaías não é uma mera declaração do fato. É uma denúncia.
    Sobre o texto de Romanos, o artigo já disse, talvez lhe tenha escapado: "É perfeitamente cabível que este Povo também participe das passeatas, exponha seu pensamento e cobre as autoridades, com o devido respeito à lei e à ordem." A última frase é o cumprimento de Romanos 13.

    Abraço,
    Marcos

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  5. Prezado "Anônimo",
    o texto se refere à corrupção no Brasil. No mundo ela vem desde o tempo de Adão e Eva...

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  6. Me irrita profundamente as pessoas quererem utilizar TOTALMENTE fora do contexto, para ter o seu pretexto, o texto de Romanos 13. O respeito e submissão a autoridades não significa ficar calado e alheio às coisas que acontecem no mundo. Só tenho duas perguntas para esses legalistas: na sua igreja, quando o pastor ou a liderança foi contra algo que os jovens queriam fazer (isso é muito comum) havia algum tipo de sentimento de revolta, descontentamento ou a famosa frase "Os irmãos precisam evoluir"? A outra pergunta é: vocês conhecem ou sabem o porque que o movimento evangélico é conhecido como PROTESTANTE, bem como a história de Lutero, Luther King e muitos outros que poderíamos citar aqui? Se você respondeu sim e não, respectivamente, analise-se a si mesmo antes de escrever besteira na INTERNET ou argumentar contra as manifestações na sua igreja!

    Excelente texto, meu amigo e irmão Marcos. Um abraço!

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  7. Apesar de não ter ido a nenhuma das passeatas não entendo que os cristãos que foram pecam contra a Palavra desde que, como ficou claro no artigo, o tenham feito de forma a não desrespeitar e nem afrontar as autoridades. O que alguns ignoram é que vivemos num sistema de governo democrático que nos permite questionar aqueles que estão como autoridades. A autoridade maior do país é a constituição e as leis e ninguém, nem mesmo as autoridades podem desrespeitá-las. Então quando os que deveriam defende-las as desrespeitam o cidadão tem o direito legal de reclamar e exigir que elas sejam observadas.
    Alguns acham que os cristãos não têm direitos civis e nem mesmo reivindicá-los. O mesmo Paulo que escreveu que devemos ser submissos as autoridades (e eu concordo com ele, aliás com o Espírito Santo que o inspirou), este mesmo Paulo, por pelo menos duas vezes, fez valer os seus direitos de cidadão perante as autoridades romanas.
    A primeira fez foi em Filipos quando contra a lei as autoridades o açoitaram em prenderam de forma arbitrária. Quando as mesmas autoridades relaxaram a prisão Paulo EXIGIU a presença das autoridades, pois elas haviam infringido a lei. Teria sido isso uma insubmissão? Creio que não! (Cf. Fp 16:19-40)
    A segunda ocasião foi quando ele quase foi morto por espancamento em Jerusalém e a autoridade romana da cidade o arrebatou das garras dos judeus enfurecidos. Depois de deixar Paulo discursar o comandante mandou que o açoitassem e então, novamente o apóstolo faz valer seus direitos civis (Cf. At 22:2429).
    Portanto, entendo que quando uma autoridade não está se portanto de acordo com as regaras do país ela pode sim ser questionada e, no meu entender, é possível fazer isso de forma respeitosa e legal sem com isso incorrer na quebra de um princípio bíblico.

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